expresso.ptexpresso.pt - 5 jul. 13:54

A vida inteira. A fotografia neorrealista em Vila Franca de Xira

A vida inteira. A fotografia neorrealista em Vila Franca de Xira

O museu municipal de Vila Franca de Xira iniciou uma ímpar coleção de fotografia internacional neorrealista. Um olhar sobre a mesma, guiado pelo curador da mesma, Jorge Calado

Tudo começou com um artigo no Expresso. No outono de 2018 fui surpreendido em Nova Iorque por cinco (!) exposições de fotografia italiana cobrindo as três décadas do neorrealismo: prelúdio, apogeu e decadência, 1930-1960. Percebi então o esquecimento a que fora votada a fotografia italiana: o trabalho pessoal dos fotógrafos acabara abafado pelo seu envolvimento no cinema. Conhecíamos os nomes de De Sica, Rossellini, Fellini, etc., mas não os de Mario Carbone, Federico Pattelani ou Pierluigi Praturion, etc. (ver Expresso de 29 de dezembro de 2018). Nove meses depois — o tempo de uma gestação —, por intervenção da diretora científica, Raquel Henriques da Silva, e com o decisivo apoio da vereadora da cultura, Manuela Ralha, e do diretor-geral de cultura, Alexandre Sargento, começava a formar uma coleção de fotografia internacional supostamente neorrealista para o Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira. (Escrevo ‘supostamente’ porque não me quero aqui envolver em discussões estéreis sobre o que é ou não o neorrealismo.)

Os italianos sempre foram bons na chamada ‘Reconquista do Real’. No princípio do século XX, a ópera evoluí­ra do belcanto para o verismo, onde os personagens não são heróis nem aristocratas mas gente que luta e trabalha para viver. Até a célebre Floria Tosca — que começara como pastora — ganha a vida a cantar. Apertados pelo fascismo e pela guerra, literatura e cinema apropriaram-se do real, em parte estimulados pelas ideias do guionista e teórico Cesare Zavattini. Ao mesmo tempo, assistia-se a um renovado interesse pela etnologia. O próprio fascismo contribuíra, direta e indiretamente, para a aposta neorrealista. Por um lado, a imagética da propaganda revoluciona as artes gráficas, tanto à esquerda como à direita, na Rússia Soviética como no Mundo Português do Estado Novo; por outro, o combate ideológico requer uma bandeira, uma imagem ou uma palavra de ordem: “No Pasarán!”, como gritou Dolores Ibárruri, ‘La Pasionaria’, em Madrid em 1936. Ação implica reação, ensinou-nos Newton. As imagens neorrealistas sempre foram o instrumento mais eficaz para o desenvolvimento de uma consciência social. A miséria é a mesma em todo o lado; os horrores da guerra, também.

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