rr.sapo.ptOpinião de Francisco Sarsfield Cabral - 4 jun. 07:53

​A coerência de Trump

​A coerência de Trump

Trump diz uma coisa e, pouco tempo depois, diz o seu contrário. Mas num ponto ele é coerente: faz e diz o que for preciso para ser reeleito em 3 de novembro próximo. Esse é o seu objetivo de fundo, até na política internacional.

Os protestos que se registam em mais de setenta cidades americanas fazem lembrar os protestos em França dos chamados “gilets jaunes” (coletes amarelos), sobretudo em Paris, ao longo de sucessivos sábados. Também aí, ao lado de muita gente calma e pacífica, surgiram quase sempre pessoas apostadas apenas na violência irracional, destruindo carros e lojas nas mais conhecidas avenidas da capital francesa. A destruição estúpida não é um exclusivo dos EUA.

Os “coletes amarelos” franceses protestavam contra o presidente Macron e algumas das suas políticas. Mas, pela positiva, pouco ou nada os unia. No caso americano, os protestos atuais repetem, embora com maior dimensão, muitos outros protestos, desde há mais de cem anos, contra o racismo em geral e a brutalidade policial contra negros desarmados em particular.

A guerra civil ganha por Lincoln em 1865 acabou, legalmente, com a escravatura, mas não pôs fim ao racismo anti-negro. Esse racismo levou a que em vários estados do Sul vigorassem regimes de autêntico “apartheid” até à presidência de Lyndon Johnson (1963-1969).

Mas o racismo não foi debelado nos EUA, nem sequer se evitou que ele se manifestasse também nos Estados do Norte. O Minnesota é um Estado que fica junto à fronteira com o Canadá...

Nas presentes manifestações nota-se algo positivo, ao serem negros e brancos, em apreciável quantidade, a protagonizá-los. O jornal “Le Monde” fala da raiva de multidões que são tanto negras como brancas. Mas Trump não distingue entre manifestantes pacíficos e os infiltrados violentos.

O ex-presidente norte-americano George W. Bush, republicano, afirmou que os Estados Unidos devem “refletir sobre as suas trágicas falhas”, a propósito da horrível morte de um suspeito que estava a ser aprisionado em Minneapolis, capital do Minnesota, e morreu asfixiado.

O problema, agora, está em que o atual presidente americano, em vez de ser uma voz de peso a apelar à união, acirra a violência e o ódio ao insultar os governadores democráticos (não os republicanos) e ameaça pôr fim aos protestos com balas. É esta a posição habitual de Trump, que desde o início do seu mandato aposta no confronto e no insulto para mobilizar a sua base de apoio, entre a qual existe uma corrente que defende a “supremacia branca”.

Agora a Trump interessa aparecer aos olhos da opinião pública como o homem que travou a violência de algumas manifestações. E cobre de elogios os serviços secretos, que o levaram há dias para uma cave protegida na Casa Branca. Antes, tinha dito cobras e lagartos desses serviços, pondo em risco a própria segurança dos EUA.

É bem conhecida a tendência de Trump para dizer uma coisa e, pouco tempo depois, dizer o seu contrário. Mas num ponto ele é coerente: faz e diz o que for preciso para ser reeleito em 3 de novembro próximo. Esse é o seu objetivo de fundo, até na política internacional. É este o grande perigo que paira sobre os EUA e sobre o mundo.

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