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Covid-19: o desamor ao Hospital Cruz Vermelha Portuguesa

Covid-19: o desamor ao Hospital Cruz Vermelha Portuguesa

Como é aceitável que um presidente, que não tem funções executivas, imponha ordens ao corpo clínico de médicos e enfermeiros que são os únicos que ainda asseguram a sobrevivência do hospital?

Existe honra, desonra e ausência dela. Lembro-me de Maria de Jesus Barroso, uma mulher de causas, a mais honrada filantropa e mediadora portuguesa. Cristã e mulher de vermelho que defendia a prevenção de doenças cardiovasculares em Portugal. Esta grande mulher, que presidiu à direcção da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), sem espalhafato, honrou ainda mais a instituição.

O presidente da CVP, que terá feito um caminho muito diferente do seu antecessor, um académico respeitado e da actual Direcção-Geral da Saúde (DGS), que muito considero, sobretudo pela abordagem humanista, julga-se um Sancho II, devido ao seu hiper-egocentrismo. D. Sancho II foi cognominado de “O Capelo” por usar o hábito de frade franciscano em criança. Foi rijo na arte da guerra, como seu bisavô D. Afonso Henriques, mas foi um fraco administrador. Destituído de rei pelo Papa, em 1245, D. Sancho II exila-se em Castela. Não há rei que exile Francisco George. Que destrói a marca CVP, que é tutelada pela Defesa, mas que George teima que é uma espécie de DGS dependente da sua amiga ministra da Saúde. Então impõe ordens à administração e ao corpo clínico.

Destruição de uma instituição
Hoje, sendo o primeiro-ministro um descendente do Movimento da Esquerda Socialista (MES), não compreendo como permite a destruição de uma instituição que deveria ser tutelada pela Defesa, mas acaba, segundo o antigo director-geral da Saúde, tutelada pela ministra da Saúde que tanto o protege.

 À procura de moedas, numa altura em que os portugueses, ricos e pobres, apoiam a DGS, a autoridade nacional de saúde pública, o presidente George, não encontrou melhor conjuntura para ir à Cristina Ferreira dizer que o vírus se vê “a olho” e tentar esmola para o seu peditório. Quem lhe dá tempo de antena contribui para o flagelo da instituição.

Respeito a instituição e não deixo que a destruam. Enquanto alguns se aproveitam, com descarado sentido de oportunismo, para mendigar as esmolas dos portugueses destruídos pelo desamor viral, este caminho difícil apela à frieza e lucidez. António Costa, não coloque os doentes do Hospital CVP em risco. Ouça os médicos, o corpo clínico, médicos e enfermeiros do Hospital. Sem eles, tudo cai. Sereno e humanista, enternece-me a forma como recordo Campos Fernandes. E como poderia, neste momento de crise, apesar do seu mau feitio, contribuir para maior discernimento na gestão desta crise. Lembrem a Francisco George o que sucedeu no SAMS. Talvez ele acorde para a lucidez com que Sancho morreu, em desamor. Pelo Povo e pela má administração.

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