rr.sapo.ptrr.sapo.pt - 30 mar. 11:55

Prioridade ao tratamento da Covid-19. Milhares de portugueses com colonoscopias adiadas

Prioridade ao tratamento da Covid-19. Milhares de portugueses com colonoscopias adiadas

Presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia admite que pode haver prejuízo para algumas pessoas, mas não se trata de uma decisão "cega". "O bem coletivo, numa situação de catástrofe, tem que passar à frente do bem individual", defende

O aviso já tinha sido lançado pelo Governo. A prioridade absoluta ao combate à Covid-19 teria inevitalmente impacto noutras áreas do Serviço Nacional de Saúde. A prevenção do cancro do cólon ou colorretal é uma das áreas afetadas. Só os exames a casos absolutamente prioritários ou urgentes, como por exemplo os de doentes em situação oncológica, não foram suspensos pela Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG).

Em Portugal, todos os anos, cerca de 300 mil portugueses se submetem a colonoscopia, nomeadamente para detetar o cancro. Em média, são 25 mil exames por mês. Nesta fase, apenas cerca de 2 mil estarão a ser realizados, admite à Renascença o presidente da SPG, Rui Tato Marinho, que não coloca de lado a possibilidade de algumas pessoas verem a sua saúde prejudicada.

"Claro que uma pessoa, eu ou outra qualquer, pode ser prejudicada por atrasar o exame um mês ou dois, mas não será muita gente", sublinha. "O bem coletivo, numa situação de catástrofe, tem que passar à frente do bem individual. Haverá quem possa ser prejudicado, talvez não muito, porque um cancro leva tempo a evoluir e, às vezes, atrasar em um mês ou dois aqueles cuidados, não vai por em risco a pessoa", tranquiliza.

A esta convicção, o presidente da SPG junta uma outra: "Tenho a certeza de que, quando este terror acabar, se vai aumentar a capacidade para recuperar os doentes, num esforço nacional dos meus colegas para tentar fazer os exames que foram atrasados um pouco".

Nesta entrevista à Renascença, Rui Tato Marinho identifica algumas das razões médicas que levaram a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia a suspender os exames na esmagadora maioria dos casos.

"Ao fazer-se uma endoscopia há formação de aerossóis, com pequenas gotículas, que são uma das formas de contágio do novo coronavírus. As colonoscopias, muitas vezes são feitas com anestesia geral e há até quem faça os dois exames; por outro lado, sabe-se que o vírus é eliminado pelas fezes e portanto, há possibilidade de transmissão por essa via". Rui Tato Marinho sublinha, a concluir, que a suspensão decretada pela SPG "não foi uma decisão cega da SPG, mas unânime, de vários países, colegial e aconselhada pelos epidemiologistas que sabem desta matéria".

Impacto "forte" nos laboratórios

As endoscopias e colonoscopias não são os únicos exames médicos remetidos para mais tarde, devido à prioridade nacional à Covid-19. Muitos doentes aguardam que a curva da pandemia seja esmagada para poderem realizar exames e análises clínicas. "Tivemos reduções de 85%", diz à Renascença o CEO da Unilabs, Luís Menezes, antes de completar com um "ainda bem, porque é sinal que as pessoas, nesta fase, estão a fazer os exames estritamente necessários".

A outra face da moeda é o impacto económico na empresa, que Luís Menezes reconhece ser "obviamente forte, tal como na generalidade das empresas". A avaliação dos efeitos que a quebra nos exames clínicos irá ter neste como noutros laboratórios, não deixará de ser feita. Por agora, Luís Menezes centra as preocupações na forma de continuar a prestar o serviço aos utentes, fazendo notar que não há quebra na qualidade e exemplifica:

"Todos os exames urgentes estão cobertos; o mesmo para as situações de doentes crónicos. Na cardiologia mantemos dois centros abertos para os exames mais urgentes e, tal como na gestrenterologia, abrimos uma teleconsulta gratuita".Fazendo justa a uma prática que vinha de trás, a empresa aponta para uma lógica simples: quando o doente não vai ao laboratório, vai o laboratório ao doente. "Respeitando as regras do estado de emergência, há pessoas que não podem sair do domicílio e somos nós que vamos a casa, mas isso é o que fizemos a vida toda", conclui.

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