rr.sapo.ptrr.sapo.pt - 30 mar. 17:06

Estado de emergência. Médicos de saúde pública defendem um reforço das restrições de circulação

Estado de emergência. Médicos de saúde pública defendem um reforço das restrições de circulação

Na semana em que o Governo vai decidir a renovação do estado de emergência, o presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública reconhece que nem toda a população entendeu a necessidade de um maior distanciamento social. "Há muitas exceções abrangidas pelo estado de emergência que não faz sentido manter", defende Ricardo Mexia.

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O presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, defende que a eventual renovação do estado de emergência deve contemplar regras mais apertadas, que limitem a circulação de pessoas no espaço público.

Comentando as enchentes em várias praias de norte a sul do país e, depois de um fim de semana em que foi notícia a tentativa de vários automobilistas rumarem de Lisboa para sul, Ricardo Mexia diz à Renascença que existe "um conjunto de exceções que estão previstas em relação ao distanciamento físico e à obrigatoriedade das pessoas permanecerem em casa que, eventualmente, têm que ser repensadas, porque as pessoas não deram o sinal necessário de que entendiam a necessidade desse confinamento".

As regras atuais impõem a permanência em casa à exceção das saídas de casa para compras em supermercados, padarias e serviços de restaurante em regime takeaway, bem como idas à farmácia, compra de jornais, pequenos passeios com crianças, prática de exercício físico nas imediações das residências e passeios com animais de estimação.

Mas, no atual contexto nacional, em que a transmissão do Covid-19 está fortemente disseminada na comunidade, Ricardo Mexia defende que o governo "deverá equacionar a retirada dessas exceções".

Sem prejuízo do impacto que o apertar das restrições possa ter na saúde mental da população confinada, este especialista considera que "as atuais devem ser retiradas" e, no atual contexto, "será preferível que as pessoas mantenham o seu nível de atividade física, adaptando-o ao domicílio, porque, dessa forma, estarão a contribuir para a proteção de toda a comunidade, muito mais do que se forem dar o seu passeio".

Quanto aos atletas de alta competição, Ricardo Mexia sublinha que, "estando todo o quadro competitivo suspenso, por força da pandemia, estes profissionais deveriam deixar de estar abrangidos pelo regime de exceção". A alternativa, diz, "deverá passar pela manutenção da atividade física, mas, obrigatoriamente, adaptada à sua prática em contexto domiciliário".

Cerca sanitária do Grande Porto já não terá qualquer impacto

Enquanto se aguarda uma decisão sobre a adoção de uma cerca sanitária na região do Porto, Ricardo Mexia diz ter dúvidas quanto à eficácia de uma medida desse género nesta fase.

"Quanto mais para a frente na pandemia se tomar uma decisão destas, menor será o seu impacto", adverte o presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública.

Estabelecendo o termo de comparação com situação de Ovar, Ricardo Mexia reconhece que, "nesse contexto local específico, a medida do cordão sanitário aconteceu num momento em que a disseminação da doença no país era diferente e permitiu circunscrever. Eventualmente, poderá ter havido aí um contributo na circunscrição dos casos àquela região, permitindo identificar rapidamente todas as situações".

Não sendo esse o atual contexto epidemiológico, Mexia diz não ver grande utilidade e insiste que "a chave do sucesso no combate à doença é e continua a ser o distanciamento social".

Aprender com os erros para preparar ameaças futuras

Ricardo Mexia critica "a forma reativa" como as autoridades de saúde têm atuado desde o início da crise.

Descontando o caráter dinâmico de uma pandemia deste género, em que a curva de infetados e de vítimas continua, e continuará a subir, o líder associativo dos médicos de Saúde Pública admite que "temos que ter maior capacidade de antecipar as soluções e de as implementar em tempo útil".

E dá como exemplo o sistema de informação que permite acompanhar em tempo real a evolução da pandemia.

"Estamos a implementar uma solução que demorou duas semanas a desenhar e a aplicar, mas que é um sistema de informação que dificilmente pode ser funcional nesse cenário. Ainda por cima, aplicar uma solução deste género em pleno surto é extraordinariamente difícil, porque implica dar formação às pessoas e implica, também, que a ferramenta esteja a funcionar de forma ágil".

Mexia diz ser necessário "acautelar e antecipar as necessidades futuras, por forma a ter uma resposta mais atempada.

"Para o que não há remédio, remediado está e reconheço que, nesta fase, é difícil recuperar deste problema. Mas, uma vez estando isto resolvido, é importante que se faça uma reflexão profunda sobre a necessidade de estarmos mais bem preparados para responder a ameaças deste género porque sabemos que, infelizmente, poderemos, no futuro, ter outras semelhantes a esta", conclui.

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