www.jornaldenegocios.ptAntónio Moita - 29 mar. 20:05

Mais vale feito que perfeito

Mais vale feito que perfeito

Pela minha parte prefiro elogiar o esforço de todos e aquilo que parece ser uma genuína preocupação dos líderes políticos, incluindo governantes e oposição, em tentar encontrar as melhores soluções. Serão perfeitas? Talvez não. Mas pelo menos está a ser feito o possível. - Opinião , Jornal de Negócios.

O título que escolhi para estas linhas é o de uma frase repetida muitas vezes pelo João Vasconcelos. Passa agora um ano sobre a sua morte e nunca é demais lembrar alguém que pelo seu desassombro, criatividade, espírito de iniciativa, capacidade de liderança e apurada sensibilidade às dificuldades das empresas, desempenharia neste momento especialmente conturbado, um papel de grande relevo.

Está a passar o tempo dos elogios gerais às medidas tomadas pelo Governo. Irá começar a surgir, mais dia menos dia, o habitual coro de críticas a tudo o que não irá correr bem. E não vai ser pouca coisa. Desde os que ficam de fora da proteção do Estado, aos que verão as suas expectativas goradas na primeira vez que falarem com o seu Banco, àqueles que irão desesperar com a carga burocrática que ainda que simplificada será muito exigente, aos que vão querer receber dos seus clientes sem o conseguir e consequentemente irão atrasar a liquidação das faturas aos seus fornecedores, aos atrasos ou suspensão do pagamento de salários, aos que vão ser despedidos ao abrigo de muitas causas justas ou injustas, muitos serão os dramas a que iremos assistir nas próximas semanas. Isto para não falar dos habituais oportunistas que sempre surgem nestas alturas.

Pela minha parte prefiro elogiar o esforço de todos e aquilo que parece ser uma genuína preocupação dos líderes políticos, incluindo governantes e oposição, em tentar encontrar as melhores soluções. Serão perfeitas? Talvez não. Mas pelo menos está a ser feito o possível. E devemos preservar ao máximo a coesão social independentemente da natureza da função exercida ou do setor em que se desenvolve a atividade. A este propósito confesso que ainda não percebi se haverá também medidas que, à semelhança do que irá suceder no setor privado e social, provoquem ainda que de forma ligeira uma redução do rendimento nos trabalhadores do setor público. Não faz sentido que assim não seja. Com a exceção dos pensionistas e daqueles que auferem rendimentos mais baixos, a repartição dos sacrifícios deveria ser o mais abrangente possível para que cada um sofresse menos.

Tal como referiu Mário Draghi, antigo presidente do BCE, a recessão é inevitável e será profunda. Mas defende que deverão ser os governos a absorver uma grande parte da perda de rendimentos que irá verificar-se. Claro que a dívida pública irá aumentar. E muito. Mas, e cito, "a alternativa, a destruição permanente da capacidade produtiva e da base fiscal, será muito mais prejudicial para a economia". E acrescenta que "os custos destas garantias (que os Estados prestarão) não devem ser baseadas no risco de crédito das empresas que as recebem, mas devem ser de zero independentemente do custo do financiamento do governo que as emite".

A salvação da economia europeia, e já agora da própria União Europeia, estará exatamente na capacidade que demonstrar em não permitir a destruição do emprego e da capacidade produtiva instalada. Para isso é preciso injetar através dos Estados e de forma massiva e rápida, muito dinheiro na economia. Mas só será possível lançar esta operação de emissão de dívida em condições de igualdade entre os Estados, se todos se puserem de acordo e se por uma vez os 27 entenderem que a UE só fará sentido se o sentido de responsabilidade e a solidariedade entre os povos superar a mesquinhez ou o egoísmo de alguns líderes com uma visão distorcida da realidade e do futuro. Mais uma vez talvez não seja a solução perfeita. Mas o que importa é que seja feita. 

Jurista

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