Paulo Barradas - 28 jan. 08:40
Surpresa, surpresa!
Surpresa, surpresa!
Opinião de Paulo Barradas
Foi com grande surpresa e espanto que as recentes informações sobre a alegada proveniência da riqueza extrema da filha de um ex-presidente de um país africano, após quase 40 anos no poder, foram recebidas em Portugal e na Europa.
Logo agora que estava tudo a correr tão bem em Portugal, com grandes sucessos políticos e orçamentais a possibilitarem o voto de confiança das instituições internacionais na capacidade dos portugueses terem finalmente uma voz ativa nos desígnios europeus e mundiais, com altas figuras do Estado no Eurogrupo, nas Nações Unidas e no BCE até recentemente.
Quem diria que afinal a fortuna de tão confi��vel filha do ex-presidente africano não era só fruto do seu trabalho árduo e da sua entusiasmante facilidade de obtenção de crédito dos bancos portugueses para comprar empresas portuguesas?
É inevitável e compreensível que os políticos e os reguladores se sintam agora traídos pela empresária de sucesso em Portugal e mulher mais rica de África, que nunca avisou que era uma Pessoa Politicamente Exposta (PEP), sempre garantindo que a sua formidável riqueza era fruto do seu sucesso.
Já não bastavam as várias acusações de alegadas corrupções que têm proliferado em Portugal, questionando a seriedade e legalidade de importantes intervenientes políticos e empresariais nacionais, para colocar em perspetiva o aparente sucesso das elites portugueses no passado recente.
A projeção atual de Portugal na Europa e no mundo fez esquecer a real dimensão do país e dos seus problemas, sendo agora inevitável enfrentar este tipo de choque com a realidade, em que o amadorismo das instituições e o facilitismo da sociedade é exuberantemente exposto.
Os políticos e os reguladores vão agora finalmente perceber que os problemas não desaparecem com o tempo se forem ignorados e que desta vez a culpa não será da crise financeira. E que o risco sistémico assume diversas formas.
O sentimento de revolta é grande e tudo será prometido fazer para afastar a persona non-grata em que a empresária se transformou, utilizando novamente as típicas estratégias de ring-fencing infalíveis que foram usadas no passado pelos reguladores. Com o sucesso bem conhecido.
Talvez seja agora boa altura de implementar finalmente as políticas europeias de anti-branqueamento de capitais no sistema financeiro português, para o caso remoto de andarem por aí mais Pessoas Politicamente Expostas com heranças significativas que ninguém tenha ainda notado...