expresso.ptexpresso.pt - 27 jan. 18:59

PSP deixa nas mãos da IGAI investigação ao sindicato que insinuou que mulher negra agredida na Amadora tem “doenças graves”

PSP deixa nas mãos da IGAI investigação ao sindicato que insinuou que mulher negra agredida na Amadora tem “doenças graves”

Após um comentário do Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública sobre a alegada agressão a uma mulher na Amadora, a Direção Nacional da PSP admitiu investigar aquela organização sindical e, se necessário, tomar medidas

A Direção Nacional da PSP não vai investigar o Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública, que tinha partilhado nas redes sociais uma publicação em que insinuava que a mulher negra agredida na Amadora teria “doenças graves”. Ao Expresso, fonte da PSP explica que uma vez que a Inspecção Geral da Administração Interna (IGAI) já está a investigar, “o mais adequado” é deixar essa investigação prosseguir.

“Como a IGAI já abriu um inquérito na sequência de uma queixa da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, o mais adequado é unir esforços e unir tudo nessa investigação. Além disso, a medida que eventualmente a PSP poderia vir a tomar - uma participação criminal - também pode ser tomada pela IGAI”, explica. Na semana passada, em declarações ao Expresso, a Direção Nacional da PSP admitiu “a necessidade de analisar e, eventualmente, tomar medidas”.

A IGAI, referia o “Público” na quinta-feira quando dava conta da abertura do inquérito, solicitou “à Direcção Nacional da PSP que sobre a mesma se pronuncie”. “Estamos em contacto e a prestar todo o apoio necessário”, assegura a PSP. E insiste: “a instituição não se revê de forma alguma naquilo que foi publicado pelo sindicato.”

Em causa está uma publicação do Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública partilhada a 22 de janeiro e, dias depois, apagada. A publicação era composta por fotografias, alegadamente dos ferimentos do agente Carlos Canha - não é possível confirmar nas imagens a identidade -, e pela insinuação de que mulher negra que o acusa de agressão tinha “doenças graves”. “As melhoras ao colega e espero que as análises sejam todas negativas a doenças graves”, podia ler-se até esta quinta-feira.

A publicação entretanto apagada

A publicação entretanto apagada

O Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública define-se como uma organização sindical “autónoma e independente do Estado, dos governos, das confissões religiosas ou quaisquer organizações de natureza político ou partidárias”.

A direção do sindicato é dirigida por Ernesto Peixoto Rodrigues, agente principal da PSP que em julho deste ano foi alvo de uma pena disciplinar de aposentação compulsiva por parte do Ministério da Administração Interna - consiste na passagem forçada à situação de aposentação, com cessação do vínculo funcional, e são aplicáveis às infrações disciplinares muito graves. O ex-agente tinha faltado ao serviço sem justificação 83 dias seguidos. Peixoto Rodrigues foi também o número 10 na lista da coligação Basta!, que nas eleições europeias de maio teve como cabeça de lista o líder do Chega, André Ventura.

Há uma semana, uma série de vídeos divulgados nas redes sociais mostravam o agente da PSP, Carlos Canha, a agir sobre Cláudia Simões, uma mulher de 42 anos que fizera uma viagem de autocarro com a filha de oito anos. A criança não tinha o passe consigo e, apesar de a mulher ter assegurado que na paragem de destino estaria o filho mais velho com o passe da menina, a situação gerou algum conflito. No destino, o motorista chamou o agente que viria a deter Cláudia Simões. O que aconteceu em seguida tem duas versões.

A mulher garante que foi agredida e que, após ter sido imobilizada na paragem de autocarro, foi posta dentro de um carro de patrulha, onde permaneceu mais de uma hora enquanto era espancada. Haveria depois de cair inanimada à porta da esquadra da Boba.

Já a PSP, em comunicado divulgado às redações, diz que Cláudia Simões se “mostrou agressiva perante a iniciativa do polícia em tentar dialogar, tendo por diversas vezes empurrado o polícia com violência, motivo pelo qual lhe foi dada voz de detenção”. Acrescenta que a mulher, “para se tentar libertar, mordeu repetidamente o polícia, ficando este com a mão e o braço direitos com marcas das mordidelas que sofreu e das quais recebeu tratamento hospitalar”. Apenas com a chegada de reforço policial “foi possível conter as pessoas no local” e “promover a condução da cidadã à esquadra para formalização da detenção e notificação para comparência em tribunal às 10h00 do dia 21”.

Certo é que Cláudia Simões ficou com o rosto deformado, inchado e ferido. Já Carlos Canha apresentava ferimentos nos braços e nas mãos. Ambos foram assistidos no Hospital Fernando da Fonseca.

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