expresso.ptexpresso.pt - 27 jan. 23:17

“Apesar do inverno e dos poucos barcos de resgate, as pessoas saem e tentam esta viagem mortal”: 540 pessoas resgatadas no Mediterrâneo

“Apesar do inverno e dos poucos barcos de resgate, as pessoas saem e tentam esta viagem mortal”: 540 pessoas resgatadas no Mediterrâneo

Chegaram à Europa pela rota migratória mais mortal 251 pessoas nos 31 dias de janeiro do ano passado. Nos 27 que já decorreram do mesmo mês de 2020, o número é três vezes maior: 780. Só nos últimos quatro dias, chegaram 540

Não lhes chamam migrantes, refugiados ou requerentes de asilo. Chamam-lhes sobreviventes. São 540 pessoas que sobreviveram ao Mediterrâneo. Todas elas o tentaram atravessar e foram resgatadas por organizações não-governamentais muito antes de chegarem ao destino planeado. São 540 sobreviventes desde esta sexta-feira, 135 pessoas por dia e mais de cinco pessoas a cada hora.

Neste momento, o navio Ocean Viking dos Médicos sem Fronteiras e da SOS Méditerranée tem a bordo 407 pessoas, enquanto o Alan Kurdi da organização alemã Sea Eye transporta 77. O Open Arms, da ONG com o mesmo nome, deixou terra e umas horas depois, já havia resgtado 56 pessoas ao largo da Líbia, no Mediterrâneo Central.

“Foram dias complicados”, explica Aloys Vimard, coordenador de MSF no Ocean Viking, em nota divulgada pela organização. “Recebemos informações de pelo menos oito embarcações em perigo. Apesar do inverno, do mau tempo e dos poucos barcos dedicados ao resgate, as pessoas continuam a sair e a tentar esta viagem mortal.” E acrescenta: “As pessoas que resgatamos dizem-nos que a situação de segurança se deteriora a cada dia. Na Líbia, há um conflito ativo. Todos os países europeus e a ONU sabem que não é um país seguro, ainda assim 49 pessoas foram interceptadas e forçadas a voltar para lá. As pessoas [que temos a bordo] perguntam, têm medo de serem devolvidas à Líbia.”

Foi na madrugada de sexta-feira que o alarme soou: naquilo que descrevem como “uma operação complicada”, resgataram 92 pessoas de um barco de borracha lotado. “Muitos sofreram hipotermia e tonturas, estavam encharcados de combustível e muito fracos”, diz Vimard. Na madrugada seguinte, sábado, mais um resgate ainda antes do amanhecer: mais 59 pessoas. O terceiro aconteceu poucas horas depois, durante a tarde desse dia: mais 72 pessoas amontoadas num barco de madeira instável.

“O Ocean Viking transporta 407 sobreviventes a bordo. Quase 40% são crianças e menores de 18 anos de idade, e 132 são menores acompanhados. A maioria dos resgatados é de Bangladesh, Somália e Eritreia”, informam os Médicos sem Fronteiras.

Também no sábado, o Alan Kurdi recebeu um pedido de socorro. Por volta das 9h00, uma embarcação de borracha foi avistada pela tripulação da organização Sea Eye. Sessenta e duas pessoas foram retiradas da água (oito mulheres e sete crianças, a mais nova com seis meses).

“Pouco tempo depois do resgate, um navio da guarda costeira líbia também estava no local e instruiu o Alan Kurdi a deixar a zona de busca e salvamento da Líbia”, diz a organização, acusando aquela autoridade de “assediar repetidamente as equipas de resgate civil e de emitir instruções ilegais”, diz Johanna Pohl, chefe de operações, em comunicado.

Minutos depois, surgiu um novo pedido de ajuda. Desta vez vinha de um cargueiro que avistara uma embarcação em perigo. Mais 16 pessoas, três delas “severamente desidratadas e que receberam imediatamente tratamento médico a bordo”.

À hora de publicação desde texto, a Open Arms acabara de anunciar o resgate das 56 pessoas. E essa é a única informação até ao momento.

Nos três os navios continua a espera pela atribuição de um porto seguro para o desembarque. A não atribuição imediatamente após o pedido de ajuda tornou-se quase regra nos últimos anos. “Embora a alocação de um porto para navios de resgate tenha melhorado nas últimas semanas, ainda é cedo para falar de uma normalização do resgate no mar de acordo com os padrões da lei internacional”, defende a Sea Eye.

O ano começou com um significativo aumento de chegadas de pessoas à Europa pelo Mediterrâneo central. Enquanto nos 31 dias de janeiro do ano passado atravessaram com sucesso a rota migratória mais mortal do mundo 251 pessoas, nos 27 dias de 2020 que já decorreram, o número é três vezes maior: 780

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