www.publico.ptmanuel.carvalho@publico.pt - 26 jan. 19:27

O CDS a fazer prova de vida

O CDS a fazer prova de vida

O CDS faz falta como muro de contenção da direita radical. Não o conseguiu fazer sendo um partido do centro, ambíguo e indeciso. Quase feneceu. Talvez tenha mais sucesso nesta sua reencarnação.

O CDS partiu para o congresso deste fim-de-semana com um terrível caderno de encargos: mostrar a si próprio e ao país que tem ainda uma réstia de vontade, de energia e de projecto para vencer a maior crise existencial da sua história. Pelo que se passou nestes dias em Aveiro, é possível dizer que sim, que o partido passou no teste.

Porque deu mostras de vitalidade ao apresentar moções e candidaturas diferentes. Porque conseguiu conciliar as suas naturais e saudáveis divergências para no final mostrar sinais de unidade. Porque foi capaz de perceber os erros do passado e assumir a escolha de um líder diferente, com ideias tão velhas como o partido, mas com forma de as manifestar ajustada à geração de Francisco Rodrigues dos Santos.

Entre um conformismo anódino que deixaria no ar a ideia de desistência e condenação e um malabarismo feito com protagonistas e ideias que atesta a vontade de lutar, o CDS optou pelo segundo caminho.

A batalha está longe de ser ganha e o CDS que se desenhou no Congresso estará longe de suscitar simpatias a uma grande fatia do eleitorado do centro e até de muitos dos seus simpatizantes. O conservadorismo moral com aromas de mofo está ali presente. A incapacidade de perceber as mudanças profundas da sociedade é nítida. Um certo tom ultramontano no discurso é patente.

Mesmo o cuidado em desenterrar a contestação ao casamento entre homossexuais ou a adopção por casais gay não esconde o regresso do partido a um núcleo doutrinário que, sendo uma das suas matrizes, foi depreciado nas últimas décadas em favor do liberalismo económico ou de um conservadorismo democrático europeu mais modernizador e cosmopolita.

O CDS, porém, percebeu que persistir num caminho lado-a-lado com o PSD foi a sua condenação. Em vez de ser um partido com antenas abertas a tudo e incapaz de apanhar alguma coisa e definir um programa de nicho, o partido optou pela segunda via. Para uma democracia que começa a temer o crescimento de uma direita mais radical e extremista, esta posição pode ser a mais útil.

Há um eleitorado de direita pura e dura que se sentia sem representação. O CDS pode fazer esse papel no quadro da sua herança democrática e europeia, mesmo que tenha de assumir palavras e projectos de uma direita arcaica, principalmente nas questões sociais.

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