www.publico.ptopiniao@publico.pt - 12 dez. 06:07

Os extremos tocam-se? (II)

Os extremos tocam-se? (II)

A crise dos sistemas de representação tem obrigado a que voltemos a estudar a desigualdade social como fator decisivo no comportamento político.

A tese de que os “populismos” engordam graças ao apoio daqueles que Hilary Clinton chamava os “deploráveis”, que, de tão culturalmente incapazes, perderam a batalha da globalização e, na sua raiva, votavam antes numa esquerda demagógica e populista e agora votam na direita populista, é de um simplismo preguiçoso e demagógico. Este gasto discurso de que “os extremos se tocam” (António Barreto repete-o todas as semanas nas páginas deste jornal), de que comunistas e fascistas são iguais e que, por o serem, dividem entre si o apoio dos politicamente “incompetentes”, é parte do (ainda mais velho) discurso liberal elitista de que a cidadania é, não um exercício efetivador de direitos, mas um processo de inculcação, no final do qual a maioria da sociedade (as classes populares, isto é, os que trabalham mas que não devem sequer decidir sobre o trabalho que fazem) adotam os valores e a mundivisão das elites, reconhecendo-lhes o direito ao governo da sociedade; isto é, os pobres aprendem a acreditar no que os ricos deles pensam, reconhecendo a inferioridade inerente à sua “incompetência”.

NewsItem [
pubDate=2019-12-12 07:07:00.0
, url=https://www.publico.pt/2019/12/12/politica/opiniao/extremos-tocamse-ii-1897053
, host=www.publico.pt
, wordCount=179
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2019_12_12_963787073_os-extremos-tocam-se-ii
, topics=[opinião]
, sections=[opiniao, actualidade]
, score=0.000000]