www.publico.ptpublico@publico.pt - 9 dez. 18:03

Os lances duvidosos nos jogos de Benfica e FC Porto

Os lances duvidosos nos jogos de Benfica e FC Porto

Um dos casos de jogo mais interessante sob o ponto de vista da análise de arbitragem, pois envolve o protocolo VAR, a alteração das leis para esta época e a eterna discussão da bola na mão, tudo num s&oacute

Um dos casos de jogo mais interessante sob o ponto de vista da análise de arbitragem, pois envolve o protocolo VAR, a alteração das leis para esta época e a eterna discussão da bola na mão, tudo num só lance, ocorreu no jogo entre o Belenenses SAD e o FC Porto, quando decorria o minuto 14, e que resultou no golo da equipa lisboeta.

São três os aspectos para análise. Primeiro: há infracção de Show ao tocar a bola com o braço? E a resposta é não, pois o cabeceamento é feito de muito perto, à “queima”, a chamada bola inesperada, tendo o jogador o braço encostado e à frente do corpo, não fazendo qualquer gesto deliberado, estando portanto numa posição natural, sem ganhar volumetria ou estar fora do plano do corpo, pelo que este contacto da bola no braço, pela definição da lei e dos seus pressupostos não é de punir.

Segundo: Mesmo que se considerasse que tinha havido mão para punir, o VAR poderia intervir? E também aqui a resposta é não, pois de acordo com o protocolo, só conta para efeitos de análise o momento de transição ofensiva a partir da qual a equipa ganha a posse de bola e vai na direcção da baliza adversária. Ora, após o contacto de Show na bola, esta vai na direcção da baliza adversária, mas depois volta para trás na direcção do meio campo do Belenenses SAD, entrando mesmo dentro deste e só depois é lançada no corredor esquerdo. Por isso a parte entre o toque de bola no braço o ir para a frente e vir para trás, não pode ser analisado.

É bom recordar que depois do toque da bola no braço, a bola passa por seis jogadores do Belenenses SAD, que entre eles fazem cinco passes, ainda é interceptada por Corona na sua área e só depois é que se dá o remate certeiro do qual resulta golo. Ou seja, mesmo que se considere mão deliberada, o protocolo VAR não permite ir rever e anular o golo pela tal mão, pois a tal situação da bola ainda vir de novo para trás na direcção do próprio meio campo invalida a possível intervenção.

Terceiro: a alteração que entrou em vigor em 1 de Junho deste ano, de anular um golo por toque de bola com o braço por parte da equipa atacante, mesmo que o braço/mão tenha sido “sem querer” pode aplicar-se neste caso? E a resposta, uma vez mais, é não, pois de acordo com a lei 12 (faltas e incorrecções) na página 104, pode-se ler que “… considera-se infracção se um jogador tocar a bola com a mão se; ganhar a posse/controlo da bola após o toque na mão/braço e em seguida marcar um golo na baliza da equipa adversária e/ou criar uma oportunidade de golo…”.

Ou seja, o lance em causa, ao acontecer a 50 metros de distância da linha de baliza, ao passar por seis jogadores do Belenenses SAD, ter ido para a frente e vindo para trás, ter sido interceptado por Corona e terem passado 38 segundos, anula a possibilidade de estar incluído nas alterações.

Mais ainda. Foi-nos dito em acção de formação na FPF no início da época, acção em que estive presente, que para se considerar a mão e anular o golo é preciso que na acção subsequente haja apenas dois três toques, que a acção decorra na área ou à entrada desta ou muito próximo, e que o golo ou a tal clara oportunidade de golo seja imediata. Tudo coisas que não aconteceram neste lance.

Resumindo e concluído, este lance é todo ele legal e não houve nenhuma irregularidade, quer ao nível da interpretação da mão, quer ao nível das alterações às leis ou do protocolo VAR.

Erros no Boavista-Benfica

 Mas este fim-de-semana também fica marcado pelas incidências do jogo entre Boavista e Benfica, sobretudo em dois lances cuja intervenção do VAR era muito importante que tivesse ocorrido e que teria evitado dois erros, um de natureza técnica e outro de natureza disciplinar.

Não seguindo a ordem cronológica do jogo, mas sim a importância das acções: ao minuto 52 os “encarnados” obtêm o seu segundo golo de forma irregular, imperceptível a olho nu, para o árbitro, mas facilmente visível para o VAR. Há infracção atacante de Cervi que, com o seu pé esquerdo, toca e derruba o pé esquerdo de Marlon. Deveria o golo ter sido anulado e recomeçado o jogo com pontapé livre directo a favor do Boavista.

Ao minuto 30 deveria a equipa do Bessa ter ficado reduzida a 10 jogadores por expulsão de Obiori, que ao rasteirar Chiquinho, anulou uma clara oportunidade de golo. Chiquinho tinha a posse e controlo da bola, ia na direcção da baliza e, em zona frontal, a uma distância muito curta da baliza, 18 metros, e sem qualquer possibilidade, em tempo útil, de intervenção do outro jogador defensor (Fabiano),​ dada a curta distância e local central onde ocorreu a infracção.

Continuamos em termos de VAR a usar o protocolo de acordo com a letra da lei e muito pouco de acordo com o espírito da mesma e assim deixam-se passar lances em que, no mínimo, era exigível que o árbitro fosse ao monitor para rever os lances mantendo ou não, após consulta, a sua decisão inicial.

NewsItem [
pubDate=2019-12-09 19:03:04.0
, url=https://www.publico.pt/2019/12/09/desporto/opiniao/lances-duvidosos-jogos-benfica-fc-porto-1896734
, host=www.publico.pt
, wordCount=873
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2019_12_09_652709882_os-lances-duvidosos-nos-jogos-de-benfica-e-fc-porto
, topics=[opinião]
, sections=[opiniao, desporto]
, score=0.000000]