www.dinheirovivo.ptFernando Cunha - 9 dez. 20:12

Ciência e tecnologia: transferir conhecimento

Ciência e tecnologia: transferir conhecimento

A importância das plataformas de transferência de conhecimento científico e tecnológico

A transferência de conhecimento é um processo através do qual know how técnico-científico é transmitido, de forma contínua, aos stakeholders envolvidos. Ou seja, a transferência de conhecimento é uma forma especial de comunicação e interligação em que a mensagem veiculada está associada a um novo conhecimento técnico ou científico.

Este processo inicia-se sempre por uma atividade fulcral para as entidades no setor primário da transferência, normalmente universidades, a Vigilância Tecnológica, ou Intelligence. O processo de Intelligence tem vindo a ser cada vez mais implementado de forma estrutural, durante a última década, nas empresas líderes mundiais (Google, T-Mobile, Apple, Inditex, etc.) sendo assumido como um método fundamental para a criação de inovação e competitividade. Esta situação, não se encontra, atualmente, muito implementada no tecido empresarial nacional, devido ao facto de ser predominado por PME, mas também aos investimentos levados, normalmente, a cabo por este tipo de entidades, centralizados nos bens materiais, essencialmente produtivos.

Um fator crítico de sucesso na transferência de conhecimento é o próprio conhecimento técnico-científico. O processo de transferência de conhecimento científico e tecnológico, muitas vezes realizado diretamente entre centros tecnológicos e as entidades empresariais, tem apresentado, nos últimos anos, algumas lacunas, quer na sua concretização, quer na sua eficácia. Um dos aspetos diferenciadores na atuação das plataformas de transferência de conhecimento, inseridas nos contextos universitários, centra-se na introdução na cadeia de valor, de processos de geração e valorização de conhecimento científico, que propiciem a disseminação de maior know how e a geração de maior valor acrescentado.

Alicerçando a inovação no conhecimento científico gerado no seio das universidades e respondendo com este, através das plataformas de transferência, às oportunidades identificadas, será assim possível diferenciar e otimizar o processo de transferência de conhecimento científico e tecnológico, tornando-o sustentável a longo prazo. A introdução do conhecimento científico na cadeia de valor dos processos atuais de transferência de conhecimento, ainda não é uma realidade e pode ser apontada como uma das lacunas atuais deste processo. Assim, se por um lado, as entidades geradoras de conhecimento, principalmente Universidades, não possuem uma forte ligação ao meio empresarial, por outro, as entidades de ligação tecnológica a este meio, não detêm as competências para a geração de conhecimento técnico-científico, comprometendo, assim, a sustentabilidade do processo de transferência de conhecimento.

O trabalho cooperativo em rede, coordenado por uma plataforma de transferência de conhecimento científico e tecnológico, surge então como a alternativa mais adequada. A envolvência de toda a cadeia de valor, e a criação de redes interativas entre diferentes setores de atividade fomentada pelo trabalho cooperativo em rede, é igualmente um fator diferenciador.

A efetividade do papel de uma Plataforma de Transferência de Conhecimento e a sua ligação com os seus stakeholders está dependente de 5 características diferenciadoras na sua atuação, nomeadamente: vantagem relativa, compatibilidade, complexidade, testabilidade e observabilidade.

Possuir vantagem relativa está relacionado com o facto de o conhecimento ter ou não um benefício quando comparado a outros produtos já existentes. Dentro deste atributo importa destacar a importância que o custo acarreta, assim como o design e engenharia. No que respeita à compatibilidade, quanto mais distinto o conhecimento for do que já é socialmente aceite e instituído, mais difícil e lento é o seu poder de difusão. À complexidade está associada a ideia de que quanto menos complexa, ou seja, quanto mais fácil de perceber, mais rápida é a difusão, assim como o poder ser testável se torna bastante importante no sentido de poder conferir credibilidade ao conhecimento, contribuindo, desta forma, para uma melhor difusão. Por fim, no que concerne à observabilidade torna-se preponderante que os stakeholders possam verificar os resultados da inovação, de forma concreta.

Num mundo cada vez mais competitivo, a partilha de conhecimento entre universidades e empresas é essencial para a valorização, competitividade e sustentabilidade tanto das universidades, como das empresas que, hoje, baseadas no conhecimento surgem como motor de crescimento económico.

Fernando Cunha é gestor de projetos na Fibrenamics — Universidade do Minho

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