ionline.sapo.ptionline.sapo.pt - 9 dez. 08:55

França não percebeu que o Maio de 68 foi há muitos anos

França não percebeu que o Maio de 68 foi há muitos anos

Que sociedade pode suportar subsídios de desemprego de dois anos em que o trabalhador fica a ganhar 75% do que usufruía quando trabalhava?

Os franceses são um povo que acha que o mundo parou no Maio de 68 e que as ruas são o melhor meio para conseguir inverter o rumo da vida. Há meses que procuram paralisar o país, provocando o caos, todos os sábados, nas principais cidades. Aos protestos legítimos, na perspetiva dos manifestantes, juntam-se os saqueadores que só querem destruir e roubar as lojas emblemáticas da Cidade Luz.

Quando a esperança de vida não para de aumentar, os franceses entendem que aumentar a idade de reforma dos 62 anos é um crime de lesa-pátria. Enquanto não se descobrir uma sociedade em que os robôs paguem essas mordomias, é óbvio que a França não pode continuar a querer ser uma ilha isolada do resto do mundo.

E é fácil entrar nesta categoria: basta deixar de aparecer no trabalho e é-se despedido com justa causa. A empresa não paga os subsídios que teria de pagar se fosse sem justa causa, mas o Estado dá os tais 75% do que se ganhava. É claro que é necessário ir a reuniões e mostrar que se anda à procura de trabalho mas, enquanto não se arranja nada, o Estado trata do assunto. Se nos lembrarmos que, em Portugal, o subsídio de desemprego mais alto é de mil e poucos euros, percebemos como estamos a falar de realidades completamente diferentes.

E é com estas regalias, bem conquistadas, é certo, que os franceses invadem todos os fins de semana as ruas para dizer que não querem prescindir de nada. E que também não querem reformar-se com mais de 62 anos. Num mundo ideal, as regalias que os franceses têm até podiam e deviam ser aumentadas. Mas a globalização tratou de mostrar que as regras, hoje, são muito diferentes. Por isso, acho que os franceses e o resto dos europeus devem é lutar por uma melhor distribuição da riqueza e premiar o mérito. Claro que ninguém deve ser excluído de condições mínimas de vida - habitação, saúde e educação. Mas não premiar aqueles que trabalham é abrir uma autoestrada para o caos. 

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