sol.sapo.ptsol.sapo.pt - 8 dez. 18:13

'Ningu��m conseguia sair' da fábrica onde morreram 43 pessoas

'Ningu��m conseguia sair' da fábrica onde morreram 43 pessoas

Os funcionários dormiam entre turnos, numa sala trancada e com janelas seladas, quando foram cercados por fumo e chamas. O dono foi preso pelas autoridades indianas e acusado de homicídio por negligência.

Cerca de duas centenas de pessoas dormiam numa fábrica ilegal, em Nova Deli, quando um incêndio massivo envolveu o edifício de quatro andares. Pelo menos 43 pessoas morreram, a maioria por inalação de fumo, de acordo com as autoridades indianas. O incêndio terá sido causado por um curto-circuito, e o dono da fábrica, que dá apenas pelo nome de Rehan, foi detido, após estar em fuga durante horas. É acusado de homicídio por negligência - o edifício não tinha qualquer licença ou equipamento de segurança.

Algumas das janelas até estavam seladas, prendendo gases tóxicos no quarto atulhado onde dormiam a maioria dos operários, avançou o canal indiano NDTV. “O problema foi o fumo”, explicou à CNN Sunil Choudhary, vice-chefe dos bombeiros de Nova Deli. “Ninguém conseguia sair. Havia uma porta de ferro trancada, as pessoas foram resgatadas apenas depois de a arrombarmos”.

Alguns tentaram escapar pelo terraço, incluindo crianças. “Eu vi os rapazes que estavam no telhado, começaram a gritar, a chamar-me: ‘Senhor, por favor salve-me’”, contou ao canal norte-americano uma testemunha, Mohammad Manzur. 

Enquanto o drama se desenrolava, os bombeiros debatiam-se para chegar à fábrica, perto do mercado de Azadam, na zona histórica da capital. Imagens mostram veículos de emergência incapazes de atravessar as ruelas, densamente populadas, por entre emaranhados de fios elétricos expostos: só um dos cerca de trinta autotanques nas imediações conseguiu chegar ao local, contaram bombeiros à CNN. Tiveram de combater o incêndio a 100 metros de distância e carregar vítimas aos ombros, segundo a AP.

Desespero No rescaldo da tragédia, centenas de familiares juntaram-se à porta dos hospitais da zona, à procura dos seus entes queridos, como Manoj, cujo irmão Naveen, de 18 anos, trabalhava numa fábrica de malas no edifício. “Não faço ideia para que hospital foi levado”, disse à Press Trust of India.

A oficina onde trabalhava Naveen era uma das várias que operavam ilegalmente no edifício: produziam brinquedos de plástico, malas, mochilas e chapéus. A maioria dos operários era oriunda de Bihar, um estado pobre no leste da Índia. Chegavam a ganhar o equivalente a menos de dois euros por dia e dormiam na fábrica entre turnos, contaram familiares à AP.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, qualificou o incidente de “pavoroso” no Twitter. De acordo com a NDTV, o seu Governo já prometeu pagar um milhão de rupias (cerca de 12,7 mil euros) à família de cada vítima mortal e 100 mil rupias (1,27 mil euros) a cada ferido.

Contudo, neste momento as famílias inconsoláveis que percorrem os hospitais e morgues de Nova Deli só querem voltar a ver os seus entes queridos. Como os familiares e amigos de Mohammed Sahmat, de 14 anos, e de Mohamed Mahbub, de 13 anos, que estavam na fábrica na altura do incêndio.

“Se Alá for misericordioso encontraremos Sahmat”, disse à Press Trust of India Mohammed Arman, que andava com fotos à procura dos dois adolescentes, logo após se aperceber que Mahbub estava entre os mortos.  

NewsItem [
pubDate=2019-12-08 19:13:27.0
, url=https://sol.sapo.pt/artigo/679432/ninguem-conseguia-sair-da-fabrica-onde-morreram-43-pessoas
, host=sol.sapo.pt
, wordCount=487
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2019_12_08_841614001_-ningu-m-conseguia-sair-da-fabrica-onde-morreram-43-pessoas
, topics=[nova deli, índia, fábrica, direitos laborais, incêndios, internacional]
, sections=[actualidade]
, score=0.000000]