ionline.sapo.ptionline.sapo.pt - 8 dez. 11:38

O lápis passou à história. YouTube convence alunos e professores

O lápis passou à história. YouTube convence alunos e professores

O ensino vira-se agora para o Youtube. Há cada vez mais professores a dar aulas através de vídeos e até os centros de explicações acompanham a tendência.

A metamorfose do ensino está a ganhar asas. Se o mundo da aprendizagem mudou com a chegada das explicações presenciais, agora vive outra tendência: os professores youtubers. Basta um computador, acesso à internet, e o aluno nem precisa de sair de casa. Além disso, é possível ver e ouvir a mesma explicação dezenas de vezes, com pausas, às duas da manhã ou à hora de almoço. O professor de matemática Vítor Pereira acompanhou esta evolução e passou por todas as fases: deu aulas durante um ano numa escola, saltou para as explicações presenciais e hoje é um professor youtuber – ou edutuber, como são chamados hoje os professores que explicam a matéria através de vídeos na plataforma YouTube.

No início da década, quando o mundo dos vídeos online ainda estava a dar os primeiros passos, o professor licenciado pela Universidade da Beira Interior sentiu que precisava de chegar a mais pessoas – além dos 40 alunos que tinha em explicações presenciais. “O YouTube foi a plataforma que me mostrou a forma de poder falar para mais pessoas, porque um explicador presencial está limitado a um determinado número de alunos”, explica Vítor Pereira.

Agora, este professor de matemática vive exclusivamente do trabalho online: a plataforma que tem vindo a construir ao longo dos anos – a “Explicamat” – trouxe-lhe cerca de 90 mil subscritores no Youtube. Em 2012, por exemplo, o canal do Youtube tinha cerca de dois milhões de visualizações e hoje tem já 200 milhões e cerca de nove mil visualizações por dia. Um aumento significativo que explica o boom dos vídeos educativos na internet.

Em Portugal, este negócio está ainda a crescer e os professores que usam o Youtube não vivem apenas desta plataforma. “O YouTube é, sem dúvida, a plataforma principal para me fazer ganhar dinheiro, mas não é diretamente, ganho pouco com publicidade”, explica Vítor Pereira. Este professor disponibiliza de forma gratuita os vídeos no YouTube e depois oferece pacotes, no seu site, de preparação para exame. “Quem me está a seguir é porque gosta da minha maneira de explicar, então ofereço um pacote de vídeos extra para os alunos se prepararem para os exames. E é com esses pacotes que tenho o meu retorno financeiro”, revela. Foca-se sobretudo na disciplina de Matemática A para os alunos de 12º ano e garante que o feedback é “fantástico”. No fundo, Vítor Pereira é um explicador virtual que, num só vídeo, explica uma determinada parte da matéria aos alunos que estão sentados do outro lado do computador e estes só precisam de acompanhar o raciocínio. Se não perceberem, voltam atrás e ouvem novamente.

As explicações tradicionais vão acabar? Há cada vez mais alunos a recorrer às explicações do YouTube e cada vez mais professores a oferecer essa possibilidade. Basta uma pesquisa e os vídeos explicativos multiplicam-se. Mais no Brasil, é certo, mas em Portugal a tendência também se verifica.

No ano passado, Matilde Simões fez autênticas maratonas de estudo para o Exame Nacional de Biologia e Geologia. Nunca teve muitas dificuldades em tirar boas notas, mas queria chegar aos 17 valores. “No 10º ano ainda procurei explicações, mas depois fui vendo vídeos no YouTube e achei que nem valia a pena, porque os vídeos são um explicador pessoal, grátis e posso ver as vezes que quiser”, conta-nos Matilde, acrescentando que nos dias anteriores ao exame olhou mais vezes para os vídeos do que para os apontamentos. “Também é bom, porque os alunos fazem comentários com as dúvidas que têm e aí até percebo melhor – às vezes as minhas dúvidas são as dúvidas dos outros. Mas confesso que vejo mais vídeos de professores brasileiros”, diz a aluna que frequenta o 12º ano e continua a utilizar o YouTube como ferramenta de estudo.

Tal como esta aluna, há mais jovens a optar pela ajuda virtual – quem trabalha nesta área diz que é uma tendência crescente. “Tenho falado com alguns colegas sobre isso e penso que esta é a tendência do futuro”, diz Vítor Pereira. “Será que o Youtube vai tirar o lugar a todas as explicações presenciais? Isso não, nunca, mas tenho conhecimento de alunos que já deixaram as explicações presenciais porque tinham aquilo de que precisavam na internet, nomeadamente no meu canal”, acrescenta o professor de matemática. E os alunos já relataram mesmo a este professor: “Olhe, deixei as explicações, confiei e correu bem”. No futuro, alunos “que poderiam estar numa explicação presencial, não vão estar, porque têm alternativa no YouTube”, explica.

A opinião dos restantes professores – os tradicionais – também conta muito e é outro ponto que tem vindo a mudar ao longo do tempo. No início, quando apareceram os primeiros vídeos no YouTube, os docentes torciam o nariz. Mas essa desconfiança passou para a compreensão e, hoje, há muitos que utilizam vídeos nas suas aulas. “Primeiro, senti realmente um bloqueio dos professores nas escolas, mas a pouco e pouco os professores começaram também a utilizar, até porque os alunos viam e hoje muitos dos meus clientes são também professores e explicadores”, diz Vitor Pereira.

Centros de explicações a acompanhar a tendência Das explicações presenciais para o YouTube. O exemplo chegou do centro de explicações Ginásios Da Vinci que, além de se multiplicar fisicamente em vários pontos do país, agora chegou à internet através do canal “YouLearn – Resolução de Provas e Exames Nacionais”. João Cavaco, diretor da empresa, explica que o modelo utilizado por este centro de explicações é ainda mais inovador: “Gravamos vídeos de resolução de exames e são os professores e os alunos que explicam a resolução dos exames”. Num dos vídeos disponíveis no canal aparece uma das alunas do centro de explicações a resolver, junto de um quadro, todos os exercícios de um dos exames nacionais.

“Começámos no final do ano passado, antes da época de exames, e vamos agora juntar alunos e professores na resolução de exames”, avança João Cavaco. Esta é uma forma de acompanhar a tendência e de contrariar a possível quebra que no futuro os centros de explicações possam sentir, se os alunos optarem cada vez mais pelos vídeos em detrimento das explicações tradicionais. Para já, os conteúdos são gratuitos, mas no futuro o objetivo é pensar num modelo de negócio para expandir os vídeos e então criar opções pagas.

Exemplo do Brasil e dificuldades em Portugal Esta nova forma de ensinar que se espalha pelo YouTube é moda em território nacional, mas no Brasil os vídeos explicativos já ganharam o seu lugar, que é hoje insubstituível no mundo da educação. Mas não é possível fazer uma comparação direta entre os dois países, porque “o Brasil é outra dimensão”, como explica o professor de matemática. “Aqui, estou a trabalhar para 50 mil alunos que fazem o exame nacional de matemática. Se todos me comprassem era uma maravilha, mas para conseguir dez alunos tenho de mostrar vídeos a milhares”, diz.

No Brasil, há professores que optam pelo humor na educação, alguns fazem músicas com a matéria, outros desenhos e outros ensinam mesmo os alunos a fazer apontamentos, por exemplo. Há canais que chegam a ter cinco milhões de visualizações por dia e em redes sociais como o Facebook ou o Twitter, os professores são verdadeiras estrelas e têm até páginas de fãs. “Na escola, o professor de Português é aquele que foi colocado lá e pronto. Na internet, o aluno gosta de mim porque me escolheu”, diz o professor Noslen, um dos mais conhecidos no Brasil, ao Estadão. Este professor de Português tem 2,4 milhões de subscritores – o equivalente a 23% da população portuguesa, por exemplo.

Por cá, o “mercado é muito pequeno dentro deste nicho”. Na opinião do professor de matemática, “ainda não há muita coisa em Portugal como há no Brasil e, dificilmente, vai haver tanto como no Brasil devido à dimensão do nicho”. Além disso, no Brasil há dezenas de professores que deixaram mesmo de dar aulas e vivem apenas da publicidade paga que têm no Youtube – uma realidade que ainda não se vive por cá, sendo necessário recorrer a conteúdo pago pelos utilizadores para ganhar dinheiro.

Conteúdos virtuais com carimbo nacional de matemática e biologia já existem, mas há muito para fazer e evoluir. Por exemplo, a disciplina de Física e Química não tem ainda um professor que a explique através de vídeo, nota Vítor Pereira. Todos os anos os alunos lhe perguntam se não tem disponível a opção para esta disciplina. “Quem neste momento lançasse um site de Física e Química bem organizado ia explodir”, conclui.

Professores ou alunos, são cada vez mais os adeptos desta nova forma de ensinar e explicar a matéria. Ainda dá passos pequenos em Portugal, mas pelos exemplos que nascem no YouTube, a tendência será para aumentar no futuro.

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