Francisco Mendes da Silva - 3 dez 20:05
O que salvará o planeta é o capitalismo
O que salvará o planeta é o capitalismo
A Humanidade descobriu uma forma de ir domando a sua natureza - imperfeita, falível e conflituosa - e de a ir determinando em boa direcção. Essa descoberta pareceu-me sempre uma manifestação da Graça de Deus.
1. O Natal chega cada vez mais cedo, lamentam os inimigos do "consumismo", por causa do aproveitamento comercial da quadra, que começa quando as praias ainda são frequentáveis. Que eu tenha reparado, o Natal tem chegado todos os anos no mesmo dia. E não é o azevinho nas montras que me prova o contrário. De qualquer modo, aí está o coro triste do costume, unindo os cleros religiosos aos do anticapitalismo, contra a alienação da Humanidade, escravizada pelo desejo de satisfação imediata e incapaz de se despojar rumo à salvação - assim na Terra, pela revolução, como no Céu, pela Eternidade.
Imagino que, se eu fosse um progressista antirreligioso, veria alguma utilidade numa coligação sazonal e oportunista com o mercantilismo, que talvez corroa a "superstição". De facto, não sou um progressista antirreligioso. Mas, como cristão, não só não receio a espontaneidade do mundo como acho que a liberdade de comércio deve ser celebrada como uma ordenação da natureza humana, contra as probabilidades, no sentido do bem comum.
O principal objectivo de uma pessoa, numa ordem capitalista, é preocupar-se com o seu próprio bem? É. Mas isso é algo que a pessoa só consegue porque todas as outras pensam da mesma forma, competindo com desígnios contraditórios ou confluentes, e assim ajudando-se ou moderando-se mutuamente. Com todos os seus problemas, as sociedades liberais capitalistas foram sempre aquelas em que o progresso da qualidade de vida foi maior.
O que sempre definiu a esquerda foi a sua crítica das contradições do capitalismo, que por causa das crises cíclicas estaria fadado a atirar multidões para a miséria. Vê-la agora a defender a eternização de um ciclo de crise económica não deixa de surpreender. Aliás, nos últimos anos assistimos à esquerda europeia dizer que o regresso dos extremismos políticos é culpa da crise e da austeridade. Por que razão, de um momento para o outro, essa mesma esquerda deixou de estar preocupada com a fragmentação e a radicalização dos sistemas políticos que as medidas agressivas de abrandamento económico podem provocar?
Entre o negacionismo reacionário e o anticapitalismo primário, há-de haver um meio-termo civilizado na protecção do planeta. E esse meio-termo não há-de estar dependente do fim do crescimento económico, mas da reorientação do crescimento, nas políticas públicas e nas opções privadas, segundo pressupostos de sustentabilidade. Apesar de tudo, há bons exemplos: o nível de consumo de energia de fonte renovável em muitos países é já bastante significativo, e isso resulta tanto dos incentivos dos Estados como do investimento privado de pessoas que, olhando para o seu próprio umbigo, acharam que ganhariam dinheiro apostando no negócio das energias limpas.
A solução para a emergência ambiental não está em refrear a criatividade natural do ser humano, nem numa demanda impossível contra o nosso egoísmo intrínseco. Está na nossa liberdade e na nossa infinita capacidade de inovação tecnológica. Determinada, é claro, pelo desejo permanente de melhorarmos a nossa condição. O que salvará o planeta é o capitalismo.
Advogado
Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico