leitores@sabado.cofina.pt (Sábado) - 15 nov. 09:00
A pressa de chegar
A pressa de chegar
O calendário de parede com os dias que faltavam para o meu aniversário não se ia fazer sozinho - Opinião , Sábado.
A verdade é que eu achava que tinha mais sorte do que os outros miúdos: tinha nascido em novembro e, por sorte, novembro colava com dezembro e dezembro era o mês do Natal. Assim, no último trimestre do ano civil, eu mudava-me metaforicamente para o Butão e vivia com o melhor índice de Felicidade Interna Bruta da escola.
Com 7 anos, media o tempo assim: primeiro vinha o verão, de junho a setembro (em anos bons, na Páscoa já podíamos ir espreitar a praia), depois vinha o início do mês de outubro, reservado para o exercício de trabalhos manuais (aquele calendário de parede com os dias que faltavam para o meu aniversário não se ia fazer sozinho) e era então, na segunda quinzena de outubro, que o tempo mais demorava a passar.
Por razões que eu desconhecia aquelas duas semanas pareciam esticar mais que pega-monstros por estrear. Todas as noites eu riscava mais um dia no calendário mas todas as manhãs me parecia que ainda me faltava uma vida para fazer anos. Quando chegava o dia mal conseguia acreditar. E claro que aquelas 24 horas passavam a correr. Mais: enquanto eu ainda olhava os presentes amealhados já o meu irmão, outro filho de novembro, recolhia os dele. E do nada, enquanto eu e ele acomodávamos os novos brinquedos junto dos brinquedos antigos, a televisão começava a dizer-nos o que podíamos e devíamos querer mais.
Com aquela idade, eu media o tempo assim: depois do aniversário do meu irmão – e só depois do aniversário dele –, podíamos começar a pensar no Natal. E claro que eu achava que toda a gente pensava assim, porque era preciso chegar dezembro para que as luzes de Natal se acendessem nas ruas. Tínhamos sorte, eu e ele – toda a gente respeitava o nosso mês.
Não sei como aconteceu, mas de mansinho dezembro começou a esticar-se. O primeiro prejudicado foi ele: era adolescente quando as luzes de Natal começaram a acender-se antes de fazer anos. Na última década, porém, também o meu aniversário começou a ser ameaçado. E se é verdade que já não faço calendários também é verdade que me pergunto cada vez mais: tanta pressa para quê? Assine já a Sábado digital por 1 euro para ler este artigo no ePaper ou encontre-o nas bancas a 13 de novembro de 2019.
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Com 7 anos, media o tempo assim: primeiro vinha o verão, de junho a setembro (em anos bons, na Páscoa já podíamos ir espreitar a praia), depois vinha o início do mês de outubro, reservado para o exercício de trabalhos manuais (aquele calendário de parede com os dias que faltavam para o meu aniversário não se ia fazer sozinho) e era então, na segunda quinzena de outubro, que o tempo mais demorava a passar.
Por razões que eu desconhecia aquelas duas semanas pareciam esticar mais que pega-monstros por estrear. Todas as noites eu riscava mais um dia no calendário mas todas as manhãs me parecia que ainda me faltava uma vida para fazer anos. Quando chegava o dia mal conseguia acreditar. E claro que aquelas 24 horas passavam a correr. Mais: enquanto eu ainda olhava os presentes amealhados já o meu irmão, outro filho de novembro, recolhia os dele. E do nada, enquanto eu e ele acomodávamos os novos brinquedos junto dos brinquedos antigos, a televisão começava a dizer-nos o que podíamos e devíamos querer mais.
Com aquela idade, eu media o tempo assim: depois do aniversário do meu irmão – e só depois do aniversário dele –, podíamos começar a pensar no Natal. E claro que eu achava que toda a gente pensava assim, porque era preciso chegar dezembro para que as luzes de Natal se acendessem nas ruas. Tínhamos sorte, eu e ele – toda a gente respeitava o nosso mês.
Não sei como aconteceu, mas de mansinho dezembro começou a esticar-se. O primeiro prejudicado foi ele: era adolescente quando as luzes de Natal começaram a acender-se antes de fazer anos. Na última década, porém, também o meu aniversário começou a ser ameaçado. E se é verdade que já não faço calendários também é verdade que me pergunto cada vez mais: tanta pressa para quê? Assine já a Sábado digital por 1 euro para ler este artigo no ePaper ou encontre-o nas bancas a 13 de novembro de 2019.
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