Mafalda Anjos - 14 nov. 08:20
Falhámos-te, Salvador, desculpa-nos
Falhámos-te, Salvador, desculpa-nos
Salvador, o bebé-milagre, que nasceu contra tudo e contra todos, está aí. E tem, repita-se porque nunca é demais, o direito de ser feliz. Tem direito a crescer longe dos escombros e das memórias atrozes – longe da mãe, que deve ser entendida, apoiada, mas não redimida, e longe da família que falhou a Sara
Vamos começar pelo mais importante: Salvador é um bebé-milagre. Chegou cheio de luz. Um sobrevivente que se impôs à escuridão e à miséria e à agonia, e que gritou alto ao mundo que a sua vida não seria desperdiçada. Chamemos a Salvador o bebé-milagre, e não o menino do lixo. A forma como o olhamos, como sociedade, daqui em diante, pode fazer toda a diferença na vida deste ser-humano-assombro nascido dos escombros, num lugar para lá do imaginável, para lá da dignidade humana. Qual pequeno milagre que brota da escuridão, ele menino-luz está aí, forte e saudável. Ele importa, ele importa-nos, e ele tem o direito de ser feliz. “Bem-vindo, puto!”, dizia a legenda feliz do INEM com a hashtag #vaisserfeliz e #boasorte, quando partilhou esta imagem da criança, imediatamente após ser resgatada. Bem-vindo, pois!
Pensemos agora, acima de tudo, em . Tem direito a não ficar preso na engrenagem de um sistema enleado em burocracia e rigidez, tantas vezes inflexível aos interesses dos menores. Tem direito a ser entregue a um colo quente e doce, a ser vestido como um príncipe, a ser amado e adorado como o menino-milagre que é. Tem direito a fintar prazos, a sobrepor-se aos interesses da mãe que só o gerou e pariu e da família que não é, dos juízes, dos assistentes sociais, de todos nós, adultos. Tem direito a contar mais, a gritar mais alto.
Falhámos-te uma vez, Salvador, desculpa-nos. Pensa que o mundo está cheio de histórias que começam trágicas, mas que têm finais felizes. Não podemos voltar é a falhar-te agora.
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