www.sabado.ptleitores@sabado.cofina.pt (Sábado) - 14 nov. 01:08

O PAN está a transformar-se num clube de futebol rasca...

O PAN está a transformar-se num clube de futebol rasca...

... se tivermos em conta aquilo que diz a (ainda) digníssima assessora do partido, claro. Passo a explicar. - Opinião , Sábado.
Bastaram seis dias para a opinião de Naíde Muller, a ainda hoje assessora de Imprensa do PAN, mudar em relação à revista SÁBADO. Pois, foi mesmo assim. Mudar do dia para a noite. Do céu para o inferno. Mas chega de metáforas de duvidosa qualidade. Pré-facto: isto aconteceu mesmo entre 6 e 12 de novembro. Melhor: aconteceu entre a "coluna de opinião" sem filtro (naturalmente) que a revista deu ao PAN na edição online (nos últimos quatro anos, repito, nos últimos quatro anos e que ainda hoje perdura) e uma entrevista feita à nova líder parlamentar do PAN, Inês Sousa Real. Uma entrevista em que se falou de animais e natureza e da própria política.

Ainda antes de ser publicada esta última peça (que sai hoje na edição em papel), saltou a tampa à assessora que está de partida para terminar o doutoramento em comunicação estratégica e ativismo contemporâneo subsidiado por uma bolsa de investigação. Primeiro, fê-lo por telefone e depois por email. Há seis dias, na despedida por escrito, a mulher do PAN tecia louvas à revista e aos jornalistas. Dizia que tínhamos sido os maiores ou os únicos a contemplar o partido entre os opinadores. E fomos. Agora, o tom já era outro: as perguntas, os temas e o enquadramento (?). Acusou-nos de sensacionalismo e até de contribuir para o afastamento das pessoas da política. Mais um degrau e poderia, porventura, oferecer-se para ditar ao pormenor o que deveríamos ou não fazer se quisessemos ser diletos membros da "imprensa tradicional" - eu e a Maria Henrique Espada, editora executiva. E a revista, já agora. Todos bem comportadinhos é que é.

Exagero? Cá vai: "Teria sido mais honesto e profissional nas nossas trocas de emails e telefonemas assumirem que não haviam temas de enquadramento, uma vez que dedicaram mais de três quartos do tempo a procurar casos e polémicas ligados a cães e a gatos descurando, quase por completo, todos os restantes temas que o PAN tem trazido para o debate. Na véspera da discussão do OE parece que a SÁBADO quer apenas dar aos leitores temas emocionais e sensacionalistas que vocês consideram difíceis e naturais no estrangeiro (conforme a Maria [Henrique Espada] me disse ao telefone) mas que eu, e aqui falo apenas por mim, considero que são apenas a procura por descredibilizações pessoais com a única intenção de encontrar falhas onde não existem para vender revistas e distrair os leitores de outros assuntos relevantes. Este não é o tipo de jornalismo que aproxima nem os cidadãos da política e das instituições e nem da imprensa tradicional".

Depois de perorar mais um pouco em termos pessoais sobre as políticas editorais do bem fazer e afins, a ativista Naíde Muller destacou a coragem da líder parlamentar do PAN perante o ataque vilipendiador dos jornalistas. É curioso, mas não vimos nenhum sinal de mal estar de Inês Sousa Real durante a entrevista. Vimos, isso sim, uma forte capacidade de explicação e até muitos risos e sorrisos. Mas a assessora concluiu que iria passar a ter uma atitude que considerava inteiramente legítima: "(...) enquanto assessora de comunicação do PAN, estarei no meu direito de aconselhar que não sejam dadas mais entrevistas à SÁBADO nestes moldes e é isso que vou fazer. Aconselhar a direção do partido para que não retire mais tempo da sua, muito preenchida, agenda de trabalho para este tipo de entrevistas".

Pronto, é assim. Ou perguntas o que queremos, ou não falamos. Ou perguntas nos termos que queremos, ou não há nada para ninguém. Ou te comportas bem, ou estás feito. Queremos acreditar que, agora que o partido cresceu em termos de representação popular, é ainda mais imperioso questionar o PAN sobre a sua visão do mundo, das pessoas e de certo tipo de animais. E queremos acreditar que o partido não ganhou tiques de clube de futebol rasca e foleiro. Veremos.
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