www.publico.ptpublico@publico.pt - 14 nov. 22:00

Como está a nossa competitividade?

Como está a nossa competitividade?

Segundo alguns somos o país das contas certas, tão certas que ficamos no mesmo lugar. Mais certo do que isso não existe.

Todos os anos, o Fórum Económico Mundial publica um detalhado e rigoroso relatório (com mais de 100 indicadores), que mede a competitividade dos países atendendo a um conjunto de 12 pilares, tais como a qualidade das instituições, políticas e importantes fatores que determinam o nível da produtividade.

A grande novidade da edição de 2019 é que pela primeira vez os Estados Unidos perderam a liderança, sendo que agora o país considerado mais competitivo do mundo é Singapura. Em apenas 50 anos, Singapura passou de uma ilha pobre com escassos recursos naturais e com altíssimas taxas de imigração, para o que é hoje. Aproveitou a sua privilegiada localização, mas também investiu em saúde, educação e criou fortíssimos incentivos para captar investimento estrangeiro. Neste ranking ocupa o primeiro lugar em critérios como o de infra-estruturas, de saúde e do mercado de trabalho, já para não falar que o seu PIB per capita é quase o triplo do nosso.

Quanto a Portugal e como em 2018, estagnamos no 34.º lugar entre 141 países, com um score global de 70 pontos. Abaixo deste score encontram-se cinco pilares que contribuem para a nossa fraca performance: instituições, mercado de produtos, mercado de trabalho, tamanho do mercado e capacidade de inovação.

No caso das instituições, obtivemos 64,5 pontos em face dos maus resultados do capital social em termos sociológicos, da ineficiência da estrutura jurídica, bem como da sua morosidade e da falta de visão de longo prazo dos nossos governantes (mas infelizmente em Portugal esta falta de visão não se resume aos governantes).

No que concerne ao pilar mercado de produtos, onde obtivemos apenas 59,7 pontos, destaca-se pela negativa o efeito que, impostos e subsídios provocam na distorção da concorrência, na complexidade de parte do sistema aduaneiro, bem como no domínio de mercado nalguns setores levado a cabo por um número reduzido de empresas.

No mercado de trabalho, que no global obtemos 63,2 pontos, assume particular evidência as velhas e erradas práticas de contratação e demissão de trabalhadores, bem como as baixas produtividades do trabalho, que logicamente implicam baixos salários. A confiança que os trabalhadores depositam nos seus gestores também é baixa, pois não acreditam nas suas capacidades de gestão e de liderança. A mobilidade interna do trabalho também apresenta um baixo score.

No pilar do tamanho do mercado, somos penalizados por sermos uma pequena economia e no que se refere à capacidade de inovação apenas nos foram atribuídos 53,7 pontos. Trata-se do pilar onde temos o pior desempenho. Afinal o que está a falhar na capacidade de inovação? Quase tudo. Nas invenções internacionais apresentamos apenas o ridículo valor de 1,55 invenções por cada milhão de habitantes, ao passo que Singapura apresenta 26,31. A nossa economia apenas investe 1,3% do PIB em I&D, ao passo que Singapura investe 2,2%. Mas o indicador mais negativo neste pilar é o destaque que as instituições de pesquisa desempenham na investigação e na economia.

Existe ainda um importante pilar que ainda não foi referido, mas no qual nos situamos apenas na 43.ª posição a nível mundial: competências e habilidades. Tradicionalmente, em termos internacionais a medição deste pilar é efetuada com base nos anos de escolaridade média, qualidade da formação profissional, formação profissional em equipa, competências digitais ou mesmo o pensamento crítico no ensino. Só para termos uma ideia, países como Estónia, Letónia, Malásia ou Seychelles posicionam-se à nossa frente neste pilar, sem esquecer a Argentina que se prepara para pedir aos credores internacionais o seu nono perdão de dívida soberana desde a sua independência de Espanha.

Claro que não é de um ano para o outro que subiremos para um confortável lugar neste ranking, demora anos ou décadas, mas o que não pode ocorrer é uma estagnação e isso deve-se à falta de ambição e de visão estratégica para o país.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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