www.publico.ptpublico@publico.pt - 13 nov. 07:00

Genocídio arménio: memória e o reconhecimento

Genocídio arménio: memória e o reconhecimento

Na conjuntura geopolítica atual, este reconhecimento histórico da verdade impõe à Turquia um olhar diferente para essa página negra da sua história.

O reconhecimento oficial dos Estados Unidos da América relativo ao genocídio Arménio perpetrado pela Turquia Otomana em 1915, aprovado de forma esmagadora pela Câmara dos Representantes dos EUA no dia 30 de outubro, era uma decisão esperada, que segue aliás o movimento que a comunidade internacional tem vindo a adotar com grande expressividade.

Em 2019, a França instituiu o dia nacional do genocídio arménio, a 24 de abril. No último ano, também Alemanha e Itália seguiram o mesmo caminho de reconhecer o genocídio. Portugal, a 26 de abril deste ano, aprovou na Assembleia da República um voto de pesar em evocação das vítimas do genocídio arménio de 1915. E já no ano de 2016, também o Papa Francisco havia denunciado publicamente o genocídio arménio, assim como muitos outros países têm vindo a reconhecer ao longo das últimas décadas.

Importa destacar e recordar o papel dos EUA, enquanto um dos países que mais ajudaram a salvar os arménios das tropas turcas otomanas. Navios de guerra transportaram arménios para a América e prestaram apoio aos sobreviventes, financiaram a construção de escolas, orfanatos e igrejas no período posterior, ajudaram economicamente as diversas organizações arménias criadas na altura. A título de exemplo, a Fundação Rockefeller prestou ajuda aos refugiados arménios após apelos do embaixador Henry Morgenthau, que descreveu os massacres de arménios pelo Império Otomano como uma “campanha de extermínio racial”.

Num período posterior, em que o povo arménio se quis reerguer e desenvolver, vários apoios da comunidade internacional e de benfeitores arménios foram fundamentais, como foi o exemplo de Calouste Gulbenkian, através do apoio incessante à diáspora arménia e contributo para o seu desenvolvimento, especialmente no Líbano e na Síria.

Este movimento da comunidade internacional, e em particular a recente Resolução do Congresso Americano, são genuínas expressões de fidelidade infinita com a verdade, a justiça, a humanidade, a solidariedade e os valores universais dos Diretos Humanos e a justiça histórica.

Posso dizer que praticamente todos nós, Arménios residentes em Portugal, somos descendentes de sobreviventes daquelas atrocidades. Por isso, também a declaração adotada pela Assembleia da República de Portugal teve muita importância e significado para nós.

Importará prosseguir este caminho e incentivar a educação e a compreensão pública destes factos, incluindo o papel da comunidade internacional no esforço de ajuda humanitária e a relevância do genocídio arménio nos crimes modernos contra a humanidade.

O reconhecimento e a memória devem servir também para evitar que situações semelhantes possam voltar a suceder.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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