eco.sapo.pteco.sapo.pt - 13 nov. 13:23

Futuro do trabalho em Portugal passa por requalificar

Futuro do trabalho em Portugal passa por requalificar

Prevê-se que, até 2030, aproximadamente 42% dos trabalhadores portugueses tenham que atualizar as suas qualificações ou mudar de profissão para permanecerem empregados.

A automação é o presente e já está a acontecer em vários setores. O avanço da tecnologia pode mesmo vir a extinguir e/ou a criar alguns postos de trabalho. Até 2030 considera-se que entre 0,7 a 1,8 milhões de portugueses tenham de atualizar as suas qualificações ou mudar de profissão pois, as habilitações necessárias no futuro podem não ser as solicitadas hoje em dia.

Portugal apresenta um elevado potencial de automação, em que 50% do tempo despendido em tarefas laborais é suscetível de ser automatizado recorrendo a tecnologias já existentes, podendo o mesmo aumentar para 67% daqui a 10 anos mediante o aparecimento de novas tecnologias, confirma o estudo realizado pela Nova School of Business and Economics (Nova SBE) juntamente com a Confederação Empresarial de Portugal (CIP).

Isto implica uma redução líquida de 0,3 milhões de postos de trabalho em Portugal até 2030. Contudo, ao considerar a tendência histórica de novas ocupações criadas nas últimas décadas, poderão também ser gerados, na sequência da combinação entre automação e crescimento económico, entre 0,6 a 1,1 milhões de novos empregos. Mais concretamente, a Nova SBE e o CIP preveem que o papel ativo desempenhado pelo Estado, juntamente com determinados fatores (aumento do rendimento, o envelhecimento da população, a educação, difusão tecnológica, o investimento imobiliário e em infraestruturas e a transição nas fontes energéticas), contribuirão para criar um total de 0,8 milhões de novos postos de trabalho até 2030.

O mesmo relatório estima ainda que 25% das horas de trabalho existentes podem ser automatizadas até à próxima década, o que resultará no deslocamento de 1,1 milhão de trabalhadores equivalentes em tempo integral. Em termos de proporção de horas de trabalho, a manufatura, o transporte e o armazenamento serão os setores mais afetados. Por outro lado, a educação e a saúde serão menos “lesados”, devido à menor intensidade de tarefas automatizáveis. Da mesma forma, o desaparecimento de postos de trabalho será proporcional à extinção de horas de trabalho nos setores referidos (extinguindo-se aqueles que são mais repetitivos e, por isso, mais propensos a automatização. No caso da manufatura, este é já um setor com elevado investimento em tecnologia e robotização).

Em termos de ocupações, 75% das perdas de empregos estão concentradas em ocupações com tarefas altamente repetitivas ou ambientes previsíveis, como operação de máquinas ou atividades de suporte de escritório. Por outro lado, ocupações que exigem um elevado grau de aplicação de conhecimento ou interação humana serão menos implicadas. Em termos setoriais, as perdas de emprego na manufatura e comércio representam 40% do deslocamento total.

Segundo a Nova SBE e o CIP, 26% da automação potencial poderá ser adotada até 2030, deslocando, assim, um total de 1,1 milhões de trabalhadores.

Automação: que desafios?

Um dos principais desafios da automação está na transição entre empregos, a qual tem de ser feita de uma forma extremamente rápida, analisa o estudo. Os novos postos de trabalho serão em áreas menos suscetíveis à robotização, tanto em termos de indústria quanto de ocupação. Logo, as habilitações necessárias daqui a 10 anos serão diferentes face às requeridas no passado o que implica um processo de adaptação.

Neste sentido, prevê-se que, até 2030, aproximadamente 42% (entre 0,7 a 1,8 milhões) dos trabalhadores portugueses tenham de atualizar as suas qualificações ou mudar de profissão para permanecerem empregados.

Dados da OCDE revelam ainda que em 2016, 42% dos trabalhadores em Portugal possuíam qualificações que não correspondiam às requeridas – tanto acima como inferiores exigidas pelo trabalho desempenhado – e 36% está empregado numa área diferente daquela em que se especializou.

Por sua vez, o relatório da Nova SBE e do CIP demonstra que 80% da força de trabalho portuguesa apresenta baixos níveis de qualificação. Ao mesmo tempo, metade dos empregados em Portugal (56%) tem idades entre 30-49 anos, sendo também a produtividade de trabalho no nosso país das mais baixas entre os países avaliados, quando comparada com países como Espanha, Alemanha e EUA.

Do ponto de vista do trabalhador, este estudo estima que o retorno monetário de uma aposta na requalificação em Portugal é elevado: um retorno de quatro vezes mais face ao custo inicial, para um trabalhador que se encontre empregado, e de nove vezes mais para um que esteja desempregado. Estes dados indicam que aumentar o nível educacional do ensino secundário para o ensino superior de 10% da força de trabalho em Portugal aumentaria a produtividade da economia em 4,4%.

Atualmente os desafios de requalificação prendem-se com a falta de centralização e coordenação de políticas públicas por parte do Estado, a baixa qualificação da maioria dos trabalhadores que torna o processo de requalificação mais difícil e a ausência de retorno direto garantido para o empregador que, talvez por isso, apresente poucos incentivos financeiros ao processo de requalificação dos seus funcionários.

Assim, em resposta aos desafios apresentados, o estudo assinala que esta transformação deve ser coordenada por três principais agentes: o Governo, os empregadores e os educadores. Desta forma, numa ótica societal:

  • O Governo deve consciencializar, informar e mobilizar todos os agentes de mudança; financiar e investir na aprendizagem ao longo da vida; gerir o ecossistema da aprendizagem e emprego.
  • Os empregadores devem planear estrategicamente a força de trabalho; conduzir análises para identificar lacunas de competências (capacidades atuais vs. requisitos futuros); e executar iniciativas de requalificação para os trabalhadores.
  • Os educadores devem informar sobre oportunidades e aumentar o acesso à informação; integrar a aprendizagem com a experiência na indústria e atualizar currículos; adotar novas estruturas de cursos e aumentar o foco no treino baseado em competências.
  • Os funcionários devem, no entanto, ser pró-ativos na própria trajetória de carreira e plano de requalificação neste ecossistema que engloba a educação, o empregador e o Estado.

Em suma, a obtenção de qualificações gera indivíduos mais produtivos, saudáveis, menos propensos a atividades criminosas e uma maior recolha de receitas fiscais, diminuindo as despesas com o desemprego e a saúde, criando assim um benefício de dois para um para o Estado.

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