visao.sapo.ptManuel Delgado - 21 out. 09:03

Falemos de Saúde Pública

Falemos de Saúde Pública

O trabalho e a dedicação que muitos profissionais põem na Saúde Pública nem sempre é visível e reconhecido. Mas está na base de um sistema de saúde que apresenta um bom desempenho, é eficiente, previne muitas doenças e aumenta a qualidade de vida e a longevidade dos nossos concidadãos

Quando abordamos as questões da saúde temos uma tendência natural para privilegiar o indivíduo, as suas doenças e as formas de as tratar. Esta é a análise que toca mais de perto a vida imediata de cada um de nós. Mas não podemos deixar de lado as dimensões básicas que determinam a saúde dos indivíduos: as questões ambientais, as doenças transmissíveis, os acidentes de viação ou de trabalho, os hábitos ou comportamentos de risco, as condições de vida da população, a educação para a saúde.

A visão hodierna de Saúde Pública abrange justamente o modelo m��dico de intervenção, sobretudo na área epidemiológica, mas também o modelo social de intervenção, que estuda e promove a saúde à luz das suas determinantes económicas,migratórias e socio-culturais.

Esta perspetiva e este trabalho não podem ser desenvolvidos por entidades privadas ou em concorrência. Antes exigem uma visão global de todos os interesses e vertentes em presença, uma concertação de posições entre empresas e cidadãos e um papel de liderança e condução estratégica por parte do Estado.

Felizmente, em Portugal, temos uma boa tradição em Saúde Pública. Temos tido, já antes do 25 de abril, uma plêiade de especialistas altamente qualificados e um conjunto de políticas e de programas com sucesso acumulado ao longo de décadas.

O último Relatório da ACSS sobre o acesso, referente ao ano de 2018, apresenta os resultados atingidos num conjunto de programas prioritários em Saúde Publica sob a égide da DGS. E as conclusões são positivas e animadoras para a população portuguesa.,

Comecemos por alguns indicadores globais sobre a Saúde dos portugueses: a) a taxa bruta de natalidade subiu em 2018 para 8,5/mil habitantes, contrariando os piores valores que vinham do período da troika (7,9 em 2013 e 2014) mas ainda longe do valor mais elevado desta década (9,6 em 2010); b) a mortalidade infantil estabilizou na casa dos 3 por mil nados-vivos, sendo o melhor valor destes últimos anos obtido em 2017 (2,65) e o pior em 2013 (3,37); a esperança de vida à nascença subiu em 2018 para 80,8 anos e a esperança de vida aos 65 anos atingiu o valor mais elevado de sempre (19,49 anos mais). Para estes resultados muito contribuiu, desde logo, o excelente plano de vacinação que temos em Portugal, frequentemente elogiado internacionalmente e um dos mais completos em todo o mundo.

Os programas de saúde prioritários incidem sobre três áreas essenciais: as doenças crónicas, as doenças transmissíveis e a saúde mental. Importa salientar que a área da saúde mental, desde sempre o parente pobre das políticas de saúde, quer no financiamento, quer na modernização de estruturas e da organização, continua com muitas dificuldades em fazer vingar a sua importância, sendo constantemente relegada para segundo plano. Os especialistas bem se esforçam por pôr a saúde mental na agenda política, mas isso não passa de boas intenções sem consequências efetivas.

No plano das doenças crónicas tem sido desenvolvido um excelente trabalho na promoção da alimentação saudável, fruto do esforço levado a cabo pelo Governo que agora cessa funções. A redução da gramagem nos pacotes de açúcar, a redução de ácidos gordos na pastelaria, a reformulação do teor de açúcar, sal e ácidos gordos em vários produtos alimentares, as ementas saudáveis nas escolas, são excelentes exemplos do que foi feito nesta legislatura e que com certeza produzirá frutos a médio e longo prazo.

No combate ao tabagismo,98% dos ACES (cuidados primários) passaram a ter consultas de cessação tabágica e o total de consultas subiu 43,6%, só nesta legislatura.

Nas doenças cérebro-cardio-vasculares, o número de óbitos tem baixado de forma muito consistente desde 2013, na população em geral (-17%) e na faixa etária abaixo dos 70 anos (-21%).

Na diabetes, importa salientar que esta doença afeta cerca de 10% da população entre os 25 e os 74 anos e 16% são pré-diabéticos. Em 2018, o Governo alargou o acesso à perfusão subcutânea contínua de insulina (PSCI) a todos os jovens até aos 14 anos, fazendo duplicar o número de utentes em tratamento nesse regime face a 2016. Foi uma decisão importante para os jovens diabéticos, aumentando a segurança, a qualidade e o rigor da sua terapêutica. O rastreio da retinopatia diabética atingiu em 2018 o valor mais elevado de sempre, com 214.538 utentes rastreados, mais do que duplicando os resultados de 2014.

Nas doenças oncológicas – a 2ª causa de morte em Portugal e a 1ª antes dos 65 anos – os objetivos dos programas de rastreio são atingir 100% da população- alvo até 2020, nas seguintes patologias prioritárias: mama, colo do útero e colon e reto. Em 2018, na mama e no colo do útero foi atingido o valor de 83% e no colon e reto apenas 56,3%, sendo claramente o que está mais atrasado, sendo também o que começou mais tarde. Importa aqui salientar os avanços registados nos últimos anos nestas coberturas, que eram, em 2015, de apenas 70% na mama e no colo do útero e incipiente no colon e reto (9,3%).

Na hepatite C tivemos em 2018 a consolidação de ganhos extraordinários na cura da doença, antes considerada doença crónica. Até março de 2019 tinham sido autorizados 23.128 tratamentos, já iniciados em 95% dos casos. Destes, 96,4% ficaram curados e apenas em 473 casos (3,6%) a nova terapêutica não resultou.

No VIH, os objetivos dos “90,90,90”, da OMS para 2020,estão quase a ser atingidos em Portugal: em 2016, já tínhamos mais de 90% dos casos diagnosticados; cerca de 87% destes estavam já em tratamento; e destes tínhamos já mas de 90% dos casos sem carga viral. Ou seja, é suposto que até ao fim do corrente ano, possamos ter os três objetivos cumpridos.

O PPCIRA – Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência Antimicrobiana-tem tido uma intervenção prioritária nos hospitais de doentes agudos, com resultados animadores, embora aquém das melhores expetativas. A prevalência das taxas de infeção baixaram, entre 2012 e 2017, 2,8 pontos percentuais, situando-se agora na ordem dos 7,8%.

São ainda valores elevados, pois continuamos com dificuldades em incutir nos profissionais os hábitos básicos de higienização e, também, diga-se, há ainda muita prática de automedicação de antibióticos sem justificação clinica, com efeitos perversos no aumento da resistência antimicrobiana.

Estes resultados, este trabalho e a dedicação que muitos profissionais põem na Saúde Pública, nem sempre é visível e reconhecido. Mas está na base de um sistema de saúde que apresenta um bom desempenho, é eficiente, previne muitas doenças e aumenta a qualidade de vida e a longevidade dos nossos concidadãos. E não podemos deixar de assinalar o esforço que este Governo empreendeu nesta área, com os ganhos evidentes apresentados face ao governo anterior.

NewsItem [
pubDate=2019-10-21 10:03:57.0
, url=http://visao.sapo.pt/opiniao/2019-10-21-Falemos-de-Saude-Publica
, host=visao.sapo.pt
, wordCount=1087
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2019_10_21_153919268_falemos-de-saude-publica
, topics=[opinião]
, sections=[opiniao]
, score=0.000000]