expresso.pt - 18 out. 22:17
A lei da pólvora de El Chapo
A lei da pólvora de El Chapo
O filho de 'El Chapo' foi detido e, depois de despertada e alimentada uma efémera guerra civil nas ruas de Sinaloa, libertado pouco depois. A família de Joaquín Guzmán, o narcotraficante dos narcotraficantes do México, vai dar uma conferência de imprensa para agradecer ao Presidente a libertação de Ovidio
A música alta que invade os ouvidos podia estar a tocar em qualquer taquería ou bar de Sinaloa, com umas tequilas e cervezas sobre a mesa. Pero no. O ritmo alegre e tão mexicano enche aquele Chevrolet, já com pouco espaço para além da lealdade dos dois sicários e um lança-rockets que viaja no colo do pendura. Seguiam rumo ao coração de Culiacán, o reino de ‘El Chapo’ (condenado a prisão perpétua, em julho), onde o filho do narcotraficante mais importante do México, Ovidio Guzmán, acabava de ser detido. Era quinta-feira. O cenário faz lembrar uma famosa série de televisão. Mas em cru e menos cinematográfico. Sinaloa.
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Não acontecia nada assim em Culiacán, a capital de Sinaloa, desde 2008, altura em que a família de Joaquín ‘El Chapo’ Guzmán também foi protagonista. Daquela vez, foi um dos filhos que foi assassinado - Édgar Guzmán López. E desatou uma guerra na cidade, recorda o periódico “El Universal”. Desta vez, uma operação do exército e forças federais logrou deter ‘Chapito’ mas, ao despertar a raiva e o odor pouco misterioso que a pólvora oferece em resposta à cega lealdade, as autoridades preferiram libertar Ovidio Guzmán. O Presidente do país deu o OK. Afinal, “não pode valer mais a captura de um deliquente que as vidas das pessoas”, explicou Andrés Manuel López Obrador.
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O Expresso esteve muito perto de conversar com três pessoas em Sinaloa, através de um contacto português, mas nenhuma delas quis concretizar e contar o que aconteceu, como aconteceu e o que sentiu. Têm medo, e nem a garantia de anonimato serviu para alguma coisa. Num gesto de generosidade, uma delas fez chegar a este jornal uma mensagem que andou a circular e que supostamente relata o que aconteceu em Culiacán, na quinta-feira.
A história vai ao pormenor de revelar que Ovidio Guzmán estava a desfrutar de uma mariscada numa das casas do cartel, em Tres Ríos, quando foi cercado, pelo que a narrativa poderá ter sido fabricada. Quem sabe? O que diz, mais à frente, e que corresponde com a versão dos jornais locais, é que dezenas de sicários, leais à família Guzmán, bloquearam várias estradas, incendiaram viaturas, dispararam contra os soldados mexicanos e viraram do avesso aquela cidade, levando à libertação de Ovidio. Foi um caos, à boleia das ideias das armas de grande calibre usadas pelos narcotraficantes. E os vídeos nas redes sociais confirmam:
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Em cima, veem-se 20 presos do estabelecimento de Culiacán a escapar, para a seguir roubarem carros e encaminharem-se para o centro da cidade - o "El Mundo" fala na fuga de 51 prisioneiros. Outros vídeos contam a melodia do tiroteio, a promessa de aleatoriedade que pode tocar a qualquer um. Ou a menina da doce voz, sentada no asfalto protegida pelo carro do pai, a perguntar-lhe porque tinham de estar no chão. O medo estava em todo o lado da capital de Sinaloa. Os tiroteios duraram quatro horas, conta este artigo do “El Universal”. Os transeuntes corriam pelas avenidas. Abrigavam-se onde podiam. Os bandidos multiplicavam-se. O desfile de tropas idem.
As primeiras páginas dos diários mexicanos desta sexta-feira descrevem o terror vivido durante algumas horas:
1 / 4 2 / 4 3 / 4 4 / 4Os autocarros foram suspensos, as lojas fecharam e, nesta sexta-feira, as aulas foram canceladas. Aquela operação, que desencadeou uma guerra civil nas ruas daquela cidade mexicana provocaram oito mortos: cinco fiéis a ‘El Chapo’ e a ‘Chapito’, um civil, um agente policial e um prisioneiro de um estabelecimento da cidade.
Esta história que grita violência tem um twist bizarro, com aroma a café colombiano dos anos 90: a família de ‘El Chapo’, através de advogados da família, dará uma conferência de imprensa durante esta tarde para comentar o que aconteceu em Culiacán. E para agradecer ao Presidente a libertação de Ovidio.