blitz.ptblitz.pt - 20 ago. 13:59

Da Austrália com humor, Stella Donnelly diz coisas complicadas com palavras mundanas. A entrevista com a revelação de Paredes de Coura

Da Austrália com humor, Stella Donnelly diz coisas complicadas com palavras mundanas. A entrevista com a revelação de Paredes de Coura

Acrescentada ao cartaz à última da hora, para substituir Julien Baker, a cantora-compositora de Perth falou com a BLITZ sobre o #MeToo, trabalhar em bares e aranhas venenosas

Estreou-se ao vivo em Portugal na passada semana, substituindo à última da hora Julien Baker no cartaz do Vodafone Paredes de Coura. Pouco antes de dar um fresquíssimo concerto no palco Vodafone FM, Stella Donnelly sentou-se nos bastidores do festival para uma conversa breve e sorridente.

Bem-vinda a Portugal! Ficou surpreendida por ser convidada à última da hora, para substituir a Julien Baker?
Muito surpreendida! E fizemos tudo para conseguir vir. Tínhamos um festival antes e um depois [de Paredes de Coura], por isso fazia sentido virmos cá tocar. Fiquei muito grata pelo convite.

Tem passado o verão a tocar?
Basicamente! Tocámos no Fuji Rock, no Japão, e em muitos festivais europeus, também.

Quando lançou as suas primeiras canç��es, não esperava ser ouvida por tanta gente. Ainda está a aprender a lidar com isso?
Sempre! Para qualquer artista, é sempre surpreendente ter sucesso. Trabalhamos tanto durante tanto tempo, sem qualquer sucesso, que quando ele nos acontece sentes que és aquela pessoa num milhão que teve sorte! Eu sinto que tenho muita sorte.

Tem noção da razão pela qual as pessoas gostam das suas canções?
Quando lancei o meu primeiro EP, em 2017, era muito honesto, porque era para ser só uma demo. E talvez por isso as pessoas me tenham compreendido: porque não estava a tentar embelezar nada. Era muito cru e verdadeiro. E isso deu-me muita inspiração e motivação para continuar a ser honesta com a minha música. Serviu para me reafirmar.

As suas letras são muito espirituosas: cómicas e inteligentes... Sempre gostou de escrever?
Sim, acho muito excitante dizer coisas complexas com palavras mudanas. E tentar explicar os meus pensamentos de uma forma com que as pessoas se identifiquem e que compreendam. Sempre adorei músicos como Paul Kelly, que é um artista australiano, Billy Bragg e Bob Dylan...

Diria que são alguns dos seus songwriters favoritos?
Sem dúvida!

E também é uma grande leitora?
Sim, leio muito! É uma ótima forma de passar o tempo no aeroporto sem estar a olhar para o ecrã do telemóvel.

Além da Stella, este festival tem no seu cartaz os Parcels, a Julia Jacklin... porque é que recentemente temos tido tantos bons artistas da Austrália e da Nova Zelândia?
Não faço ideia, mas estou a gostar. (risos) Há muita gente a cantar e a dar nas vistas. Penso que a Courtney Barnett ajudou a abrir o caminho para muitos de nós. Estou-lhe muito grata a ela e a artistas como os Tame Impala e aos que referiste.

Mas vêm todos de cidades diferentes...
Sim, eu sou de um sítio isolado, no Oeste, chamado Perth.

Do Oeste selvagem...
Sim! (risos) Ou do Oeste moderado. Mas é muito porreiro estar num festival e ver os meus compatriotas a tocar e a fazer tão boa figura, como a Julia Jacklin.

Como é uma cidade como Perth, do ponto de vista cultural?
É linda e sossegada. Fica mesmo ao pé do mar. Mas não é lá que a indústria musical acontece, isso é em Sydney e Melbourne. Por isso, quando vou para casa, é bom poder desligar essa faceta minha.

Há alguma natureza perigosa por lá?
(Risos) Isso há sempre! É muito perigoso! Se tiveres aranhas vermelhas [red back spiders] em casa e te picarem, tens de ir ao hospital o mais depressa possível. Mas eu nunca fui mordida por nenhuma. Fui mordida por uma formiga [bull ant] deste tamanho e doeu, mas não morri, ainda cá estou!

Desde que lançou a canção 'Boys Will Be Boys', tem sido associada ao movimento #MeToo. Foi uma bênção ou uma maldição? Já está cansada dessa associação?
Não! Acho que ninguém gosta de falar destas coisas. Ninguém gosta de explicar as suas experiências... Mas temos de continuar a fazê-lo, até já não ser preciso. É necessário que estas conversas aconteçam, para que tenhamos um mundo mais seguro para os nossos rapazes e raparigas. E é por isso que continuo a falar e a espalhar essa mensagem.

Recebeu algumas reações desagradáveis?
Sim, mas foram sempre ofuscadas pelas positivas. Para mim, a mais importante foi quando toquei num festival e recebi uma carta. Era de um homem de meia idade que me disse: "tenho três filhas e um filho e estou tão contente por teres escrito aquela canção. Obrigada por me ajudares a perceber o meu papel como pai e o que devo ensinar ao meu filho e às minhas filhas". Isso fez-me chorar. Significou muito para mim que alguém daquela idade, com experiências muito diferentes das minhas, me tenha compreendido.

Começou por trabalhar num bar e usou essa experiência para escrever canções, certo?
Sim, foi uma ótima experiência. Trabalhava num café durante o dia e num bar à noite e nos intervalos dava concertos. Era uma loucura. Andava muito ocupada mas devo muito a essa experiência.

Serviu para aprender muito sobre as pessoas?
Sim! Às vezes fazia o turno da tarde à segunda-feira, que é uma altura triste para se estar num bar. Mas conhecemos pessoas de todos os tipos, com todo o tipo de histórias. É bom para os humanos interagirem com pessoas que não estão necessariamente na mesma bolha que nós.

Quais têm sido os pontos altos da sua digressão, musicalmente e não só?
Musicalmente, tem sido ótimo tocar em sítios novos. Nunca tinha tocado em Portugal, na Suécia ou em Budapeste! E poder conhecer pessoas destes países... Em Budapeste, no festival Sziget, pus um casal amoroso na guest list e eles levaram-me biscoitos húngaros e deram-me dicas de sítios para visitarmos. Conhecer todo o tipo de pessoas tem sido a melhor parte. Musicalmente, é conhecer outras bandas. Já vi a Soccer Mommy, os Idles - que são tão bons, tão bons! A melhor parte é poder interagir com as pessoas. Não é assim tão solitário, andar em digressão!

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019 1 / 9

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019

Rita Carmo

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019 2 / 9

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019

Rita Carmo

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019 3 / 9

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019

Rita Carmo

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019 4 / 9

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019

Rita Carmo

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019 5 / 9

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019

Rita Carmo

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019 6 / 9

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019

Rita Carmo

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019 7 / 9

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019

Rita Carmo

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019 8 / 9

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019

Rita Carmo

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019 9 / 9

Stella Donnelly no Vodafone Paredes de Coura 2019

Rita Carmo

NewsItem [
pubDate=2019-08-20 14:59:00.0
, url=http://blitz.pt/videos/2019-08-20-Da-Australia-com-humor-Stella-Donnelly-diz-coisas-complicadas-com-palavras-mundanas.-A-entrevista-com-a-revelacao-de-Paredes-de-Coura
, host=blitz.pt
, wordCount=1000
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2019_08_20_1277054340_da-australia-com-humor-stella-donnelly-diz-coisas-complicadas-com-palavras-mundanas-a-entrevista-com-a-revelacao-de-paredes-de-coura
, topics=[música, vídeos]
, sections=[vida]
, score=0.000000]