www.dinheirovivo.ptdinheirovivo.pt - 23 jul. 20:22

Projetos da Academia de Inovação postos à prova numa feira de startups

Projetos da Academia de Inovação postos à prova numa feira de startups

Ideias propostas primaram pela inovação e procuraram responder a problemas sérios relacionados com questões sociais, ambientais e de sustentabilidade

Terça-feira, 23 de julho, dia da Startup Expo na Academia Europeia de Inovação. Cem equipas, cada uma com cinco elementos, disputam a atenção de quem passa por entre a centena de ilhas instaladas no vasto espaço do Centro de Congressos do Estoril. Missão a cumprir: fazer um pitch eficaz, apresentando o seu projeto de startup de modo a prender a atenção de quem visitar a sua banca. Entre estes contam-se os próprios colegas, mentores e o público em geral que for aparecendo, mas também professores universitários, empresários e, sobretudo, potenciais investidores. As ideias propostas e que vão passar por este teste de fogo têm os mais díspares temas, mas dizem os mentores que salta à vista uma tendência: as preocupações com problemas mais sérios, ligados à saúde e à sustentabilidade do planeta.

Por entre o burburinho de conversas e pregões, numa miríade de línguas, mas em que o inglês é dominante, vale tudo para chamar a atenção: cartazes apelativos, itens sugestivos e até bolinhos e um robô improvisado.

Na banca da Water Station, um membro da equipa salta ao caminho de quem passa com duas garrafas de água nas mãoa – uma límpida e transparente, a outra um misto de lama e sujidade – e pergunta: “Qual destas preferiria beber?” É o mote para se lançar na explicação do seu projeto: ajudar a resolver o problema do abastecimento de água nas vilas e aldeias de África.

A equipa que desenvolveu o Water Station (da esq. para a dta.): Kirill Suntanshin, 23 anos, russo, a estudar na U. Tampere, Finlândia; Anubhav Gupta, canadiano, eng. químico de 22 anos prestes a tirrar um mestrado na U.Michigan, EUA; Amanda McCormack, 22, formada em difusão televisiva, a estudar negócios no Iona College de New Rochelle, EUA; Pedro Batalha, eng. biomédico do IST. FOTO: Álvaro Isidoro / Global Imagens

A equipa que desenvolveu o Water Station (da esq. para a dta. / clique na foto para ampliar): Kirill Sultanshin, 23 anos, russo, a estudar na U. Tampere, Finlândia; Anubhav Gupta, canadiano, eng. químico de 22 anos prestes a tirar um mestrado na U.Michigan, EUA; Amanda McCormack, 22, formada em difusão televisiva, a estudar negócios no Iona College de New Rochelle, EUA; Pedro Batalha, eng. biomédico do IST. FOTO: Álvaro Isidoro / Global Imagens

No Uganda, por exemplo, explicam, as crianças passam duas a três horas por dia a acartar água e muitas vezes de poças insalubres. O que a Water Station se propõe fazer é instalar meios próprios – bombas de água, perfuração de poços, torres-reservatório de água – nessas vilas e aldeias para que o tempo das crianças possa ser dedicado à escola e a água que consomem seja potável.

O fornecimento de água não seria de graça – está estudado, explicam, que a cobrança de um valor ínfimo, que as pessoas possam pagar contribui para edificar a sua dignidade e autorrespeito, porque se orgulham de poder prover ao seu sustento – e a instalação dos equipamentos seria feita com recurso a donativos de empresas preocupadas com a sua responsabilidade social e ao crowdfunding.

Noutra zona da sala, logo à entrada, o Startie – robô de papelão erigido em torno de um dos participantes – declarava-se disposto a prestar mentoria 24 horas por dias, sete dias por semana e, de caminho, oferecia uma tomada para o carregamento de qualquer dispositivo. Tudo porque, explicava o Startie na sua voz metálica de inteligência artificial, o seu projeto, de nome InSight, se propõe a apoiar as startups (dado que 9 em cada 10 fracassam), mostrando-lhes o que estão a fazer mal ou quais os passos que precisam dar. O projeto transmite, portanto, os conhecimentos e o discernimento (insight) obtido pela equipa na própria EIA.

A equipa InSIght (da esq. para a dta.): CAtarina Francisco, 19 anos, a tirar Psicologia na U.Coimbra; o Startie, Johnny Ginnity, 52, americano, doutorando na James Madison Univ., Virginia, EUA; Sunny Hossin, 25 anos , gestor informático da U. Zurique; Guilherme Jacinto, 21, a estudar Gestão na Nova SBE; Francisco Raio, 23, mestre em Bioengenharia, da FEUP. FOTO: Álvaro Isidoro / Global Imagens

A equipa InSIght (da esq. para a dta.): Catarina Francisco, 19 anos, a tirar Psicologia na U.Coimbra; o Startie, Johnny Ginnity, 52, americano, doutorando na James Madison Univ., Virginia, EUA; Sunny Hossin, 25 anos, gestor informático da U. Zurique; Guilherme Jacinto, 21, a estudar Gestão na Nova SBE; Francisco Raio, 23, mestre em Bioengenharia, da FEUP. FOTO: Álvaro Isidoro / Global Imagens

Numa altura em que o norte de Portugal, assolado pelos fogos, vive momentos de aflição, na Academia Europeia de Inovação (EIA, na sigla inglesa) uma equipa, pelo menos, dedicou o seu projeto a ajudar a resolver este problema. Partindo do princípio de que, além do impacto humano, os fogos selvagens representam, em média (calculada com base nos últimos 10 anos), perdas económicas no valor de 200 milhões de euros por ano em Portugal – havendo anos, como o de 2017, em que os prejuízos ultrapassam este valor em muito – surgiu a ideia da Plantaforma.

A equipa da Plantaforma (da esq. para a dta. / clique na foto para ampliar): Kärte Pärend, estónia, informática de 22 anos da Tallin Univ. de Tecnologia; Flávia da Rocha, brasileira, 28 anos a tirar mestrado em Gestão na Nova SBE; Raquel Pinho, 20, a estudar Ciência Computacional na U.Porto, Julian Hanzheim, alemão, 25, a tirar Gestão e Finanças na Nova SBE; Vítor Calhau, 58 anos, a tirar mestrado na Nova SBE. FOTO: ÁLvaro Isidoro / Global Imagens

A equipa da Plantaforma (da esq. para a dta. / clique na foto para ampliar): Kärte Pärend, estónia, informática de 22 anos da Tallin Univ. de Tecnologia; Flávia da Rocha, brasileira, 28 anos a tirar mestrado em Gestão na Nova SBE; Raquel Pinho, 20, a estudar Ciência Computacional na U.Porto, Julian Hanzheim, alemão, 25, a tirar Gestão e Finanças na Nova SBE; Vítor Calhau, 58 anos, a tirar mestrado na Nova SBE. FOTO: ÁLvaro Isidoro / Global Imagens

Esta startup visa criar uma plataforma onde proprietários de terrenos, grandes e pequenos, teriam a acesso a todo o tipo de serviços e informações. Serviços como, por exemplo, onde encontrar quem proceda ao desbaste e limpeza de terrenos e quanto custa – “porque há casos em que até sai em conta, só que as pessoas partem do princípio de que é caro e nem vão procurar”, afirmam –, ou quaisquer outros relacionados com a gestão de florestas.

Um pouco mais à frente, a Aptic quer criar uma app para telemóvel que, com recurso a informação GPS e imagens recolhidas em tempo real, avise os cegos e pessoas com outras dificuldades de visão quanto aos obstáculos e características do local onde se encontram. Uma vez instalada a app, o telemóvel seria usado pendurado ao peito e iria descrevendo os elementos que fosse “vendo”, como por exemplo, que havia escadas à direita, uma porta à esquerda, um caixote do lixo em frente, junto à parede direita.

A equipa da Aptic (da esq. para a dta. / clique na foto para ampliar): Rebeca Gonzalez Guerra, venezuelana, 24, formada em Ciências Computacionais, U. de Sevilha; Eric Lian, americano, 18 , a tirar Ciências Computacionais na U. Michigan, EUA; Miguel Esteban, espanhol, 23 mestre em Biga Data e AI, U. de Sevilha; Isaiah Harvin, 23, EUA, a estudar Product Innovation, na U. Commonwealth Virginia; Marta Grilo, 24, jornalista a trabalhar em comunicação de empresas, da U. Autónoma de Barcelona. FOTO: Álvaro Isidoro / Global

A equipa da Aptic (da esq. para a dta. / clique na foto para ampliar): Rebeca Gonzalez Guerra, venezuelana, 24, formada em Ciências Computacionais, U. de Sevilha; Eric Lian, americano, 18 , a tirar Ciências Computacionais na U. Michigan, EUA; Miguel Esteban, espanhol, 23 mestre em Biga Data e AI, U. de Sevilha; Isaiah Harvin, 23, EUA, a estudar Product Innovation, na U. Commonwealth Virginia; Marta Grilo, 24, jornalista a trabalhar em comunicação de empresas, da U. Autónoma de Barcelona. FOTO: Álvaro Isidoro / Global

No meio daquele mar de projetos salta à vista a equipa da Ice 4 Life, por duas razões: é das poucas constituída apenas por participantes portugueses; e é um exemplo de como uma ideia-base típica dos interesses de pessoas tão jovens pode evoluir para propostas mais sérias.

No primeiro caso, foi permitido – por parte dos mentores – a exceção à regra da diversidade (de género, nacionalidade e backgrounds) que impera na EIA quanto à formação das equipas porque um dos seus membros iniciais, uma estudante brasileira, não falava inglês. No final, essa colega acabou por aderir a outra equipa, mas a Ice4Life acabou por ficar completamente “made in Portugal”.

Depois, o projeto Ice4Life começou por ser uma arca frigorífica alimentada a energia solar para manter frescas as cervejas, mas no espaço de alguns dias evoluiu para um sistema de transporte de órgãos e depois, perante as diversas dificuldades colocadas por esta ideia, para o transporte de sangue. Com o sistema por si propugnado, a Ice4Life pretende declarar guerra ao desperdício desta preciosa “mercadoria”: “40% do sangue para transfusões perde-se durante o transporte”, explica um dos membros da equipa.

A equipa Ice4Life (da esq. para a dta.): Rodrigo Amaral, 20 anos, a tirar Gestão na U. Açores; Francisco Carneiro, 22, Engenharia Materiais, na FEUP; Beatriz Leandro, 21, a tirar Gestão, U. Açores; Ana Martins, 20 anos, e David Dias, ambos a estudar Design de Produto na U. Aveiro. FOTO: Álvaro Isidoro / Global Imagens

A equipa Ice4Life (da esq. para a dta.): Rodrigo Amaral, 20 anos, a tirar Gestão na U. Açores; Francisco Carneiro, 22, Engenharia Materiais, na FEUP; Beatriz Leandro, 21, a tirar Gestão, U. Açores; Ana Martins, 20 anos, e David Dias, ambos a estudar Design de Produto na U. Aveiro. FOTO: Álvaro Isidoro / Global Imagens

Já Homano é uma ideia inspirada pela vaga de refugiados e imigrantes que estão acorrer a países um pouco por todo o globo. Esta plataforma pretende fazer a ponte entre estas pessoas e o mercado de trabalho, ajudando a que este aproveite em pleno as qualificações e aptidões de cada um.

A equipa do Homano (da esq. para a dta. / clique na foto para ampliar): Catarina uzman, chilena, 21 anos, a estudar Gestão na U. Adolfo Ibañes; Gabriel Gamuth, brasileiro, economista de 24 anos a estudar na FEUP; Israa Ali, afegã, 19, a estudar Engenharia Aeroespacial na U. Michigan, EUA; Filipe Farinha, 21, a tirar Gestão, no ISCAC, Coimbra; Yiannis Mavros, cipriota, 25, Eng. Eletromecânica, U. de Chipre. FOTO: Álvaro Isidoro / Global Imagens

A equipa do Homano (da esq. para a dta. / clique na foto para ampliar): Catarina Guzman, chilena, 21 anos, a estudar Gestão na U. Adolfo Ibañes; Gabriel Gamuth, brasileiro, economista de 24 anos a estudar na FEUP; Israa Ali, afegã, 19, a estudar Engenharia Aeroespacial na U. Michigan, EUA; Filipe Farinha, 21, a tirar Gestão, no ISCAC, Coimbra; Yiannis Mavros, cipriota, 25, Eng. Eletromecânica, U. de Chipre. FOTO: Álvaro Isidoro / Global Imagens

“Aquilo a que mais se assiste é a refugiados e imigrantes altamente qualificados a terem de aceitar empregos manuais básicos, o que representa uma perda imensa de capital humano”, explicam. Por isso, a Homano oferece dois tipos de serviços: o primeiro, é uma página onde está agregada toda a informação necessária para os primeiros contactos com um país, evitando que estas pessoas se sintam perdidas; o segundo é um local onde cada uma delas pode inscrever as suas habilitações e experiência profissional, abrindo a porta a que os empregadores as procurem. “Até porque há critérios de diversidade que as empresas hoje em dia têm de cumprir”, sublinham.

Também a segurança das forças de proteção e segurança foram objeto da atenção dos jovens empreendedores da EIA. O projeto Aegis Systems quer reconverter as pulseiras de monitorização tão em voga para quem se quer manter em forma para enviar alertas em caso de perigo físico. “Quantas vezes acontece um agente da polícia ou um bombeiro sofrerem um ataque ou acidente e acabarem por morrer sozinhos porque não houve quem soubesse disso?”, perguntam. Com o Aegis Systems, se o ritmo cardíaco ou a tensão arterial caírem ou dispararem para níveis fora do comum, é emitido um alerta rápido para as respetivas centrais que poderão enviar os meios de auxílio necessários ao local.

A equipa da Aegis Systems (da esq. para a dta. / clique na foto para ampliar): Gonçalo Felício, 21 anos estudante de Eng. Mecânica, FEUP; Katherine Shu, americana, 18, a tirar Eng. Eletrotécnica na U. Berkeley, Califórnia; Kevin Wang, americano, 19, Eng. Eletrotécnica, U. Michigan; Sara Oliveira, 23, engenheira biomédica, IST; Pranav Mallampall, americano, 19, a tirar Ciência Política e de Dados em Berkeley. FOTO: Álvaro Isidoro / Global Imagens

A equipa da Aegis Systems (da esq. para a dta. / clique na foto para ampliar): Gonçalo Felício, 21 anos estudante de Eng. Mecânica, FEUP; Katherine Shu, americana, 18, a tirar Eng. Eletrotécnica na U. Berkeley, Califórnia; Kevin Wang, americano, 19, Eng. Eletrotécnica, U. Michigan; Sara Oliveira, 23, engenheira biomédica, IST; Pranav Mallampall, americano, 19, a tirar Ciência Política e de Dados em Berkeley. FOTO: Álvaro Isidoro / Global Imagens

Estes são apenas alguns exemplos de entre uma centena deles que se encontravam em exposição. Como sublinharam diversos mentores presentes, na EIA 2019 nota-se uma tendência para a procura de respostas, por parte dos jovens, para assuntos de grande seriedade. Respostas tanto viradas para as questões ambientais e de sustentabilidade do planeta, como para as preocupações sociais, fossem estas relacionadas com a 3ª idade ou com a juventude.

Por exemplo, um dos projetos pretende criar um serviço no âmbito do ecossistema da Alexa, a Inteligência Artificial da Amazon, para monitorizar idosos – com o dispositivo instalado na casa o idoso, é possível ordenar remotamente à Alexa que pergunte a essa pessoa que tal está a correr o dia ou como se está a sentir e se não obtiver resposta, funcionar esse silêncio como um alerta. Outro procura encontrar soluções para a utilização abusiva das redes sociais. Sejam quais forem os problemas e respostas encontrados, a Expo Startup da EIA 2019 demonstrou-se ser, de facto, uma feira de inovação.

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