observador.ptobservador.pt - 23 jul. 23:14

Ministro Eduardo Cabrita abre polémica com autarca de Mação

Ministro Eduardo Cabrita abre polémica com autarca de Mação

Autarca de Mação tinha criticado Governo por só ter aprovado Plano Municipal de Emergência do concelho esta manhã. Eduardo Cabrita foi à RTP responder a Vasco Estrela.

A guerra entre o Governo e os autarcas continua. Depois do primeiro-ministro António Costa ter afirmado que os autarcas são os primeiros responsáveis pelos combates aos fogos florestais, o ministro da Administração Interna foi esta terça-feira à RTP atacar diretamente o autarca Vasco Estrela. “O senhor presidente da Câmara de Mação […] foi um verdadeiro comentador televisivo”, em vez de “promover a ativação do Plano Municipal de Emergência” e a “cooperação a favor do esforço da Proteção Civil”, censurou Eduardo Cabrita.

Esta tarde, Vasco Estrela tinha criticado o Governo por só ter aprovado o Plano de Emergência Municipal do concelho esta terça-feira e garantiu ter recebido essa informação por SMS do Governo às 12h40. A revelação é importante tendo em conta que o mesmo plano foi submetido “em fevereiro”. Recebeu sugestões da ANEPC , que foram aplicadas, e depois foi submetido. “Fizemos o formalismo necessário para as coisas terem sustentabilidade legal. Na prática não muda nada”, revelou ainda o autarca numa pequena conferência de imprensa improvisada esta tarde.

“Quem entenda que não vamos ter incêndios de grande dimensão, está a fazer pura demagogia”

Na entrevista ao Telejornal da RTP 1, Eduardo Cabrita fez ainda um balanço dos incêndios em Mação e em Vila de Rei — os mais preocupantes dos últimos dias. O ministro da Administração Interna explicou foi que surgiram “cinco incêndios à mesma hora, entre as 14h30 e 15h30” que foram galgando terreno muito por culpa de um “quadro meteorológico difícil”. Daí que o fogo de Vila do Rei, por exemplo, evoluísse de forma “extremamente rápida ao longo de 21 quilómetros nas primeiras 12 horas”.

Ciente da polémica que causaram entre os autarcas as declarações do primeiro-ministro António Costa, a responsabilizar aqueles pelo combate aos incêndios, Eduardo Cabrita afirmou que “os autarcas são parceiros fundamentais e os primeiros responsáveis da Proteção Civil nos seus municípios”, para, logo de seguida, iniciar o seu ataque a Vasco Estrela. “Os [autarcas] de Vila de Rei ativaram imediatamente os seus Planos Municipais de Emergência e prestaram todo o apoio logístico necessário para operações de grande dimensão”, já o “senhor presidente da Câmara de Mação […] optou por não promover a ativação do Plano Municipal de Emergência, não dar qualquer cooperação a favor do esforço da Proteção Civil e ser um verdadeiro comentador televisivo. A seguir a cada briefing aparecia logo a fazer comentários.”

A questão é que, de acordo com Vasco Estrela, tal Plano Municipal de Emergência só foi aprovado esta manhã pelo Governo, conforme comunicação que recebeu por SMS do secretário de Estado da Proteção Civil.

Já sobre as queixas das populações da falta de auxílio no combate aos fogos, Eduardo Cabrita afirmou que “os bombeiros voluntários foram mobilizados em grupos de reforço de Beja ao Porto” mas repetiu o discurso habitual do Governo: “sem alterações profundas na floresta” vai ser inevitável a existência de novos fogos problemáticos. “Quem entenda que nós não vamos ter incêndios de grande dimensão neste ano ou nos próximos anos, está a fazer pura demagogia”, rematou.

Sobre a utilização de meios aéreos o ministro garante que os que existem “são mais do que alguma vez existiram” e que chegaram a ter sete a funcionar ao mesmo tempo, “utilizados todos os meios necessários.”

Cabrita não deixou de terminar a sua entrevista com mais uma crítica a Vasco Estrela “Queria destacar o o papel dos autarcas deste país que estão ao lado das populações e não em frente ao microfone das televisões.”

Vasco Estrela reage: “O ministro está a ofender a população que perdeu 95% da sua floresta”

Em declarações à Rádio Observador, Vasco Estrela diz ter recebido as críticas do ministro com total surpresa. “É realmente lamentável que o ministro da Administração Interna tenha este comportamento para com o presidente da Câmara de Mação. Está a ofender-me em termos pessoais, está a ofender a população deste concelho que em dois anos perdeu 95% da área florestal — muita também por responsabilidade do Governo, via Autoridade Nacional de Proteção Civil, conforme está escrito, preto no branco, num relatório da Inspeção-Geral da Administração Interna homologado pelo senhor ministro Eduardo Cabrita”, diz.

Declarações de Vasco Estrela, presidente da Câmara Municipal de Mação, sobre as declarações de Eduardo Cabrita.

Estrela vai mais longe e diz que “o senhor ministro devia ter mais respeito pelo presidente da Câmara Municipal de Mação que foi eleito democraticamente por estas pessoas, ao contrário do senhor ministro, que foi nomeado e não eleito” e repete: “está a ofender-me a mim em termos pessoais e a ofender uma população que está farta, farta, farta de sofre na pele a catástrofe dos incêndios florestais. Desafiava mesmo o senhor ministro, se tivesse coragem, para debater comigo este e outros assuntos relacionados com esta área”, afirma.

Sobre a questão do Plano Municipal de Emergência, Vasco Estrela repetiu o que já tinha afirmado esta tarde. “O Plano Municipal de Emergência do concelho de Mação foi-me comunicado hoje pelo Governo que estava aprovado às 12h40m meio dia e quarenta. Estranhamente, passado umas horas, o sr. ministro vem com esta afirmação. Não podia acionar um plano que não estava aprovado apesar de estar na autoridade nacional desde março, à espera de ser aprovado”.

O autarca, contudo, não deixa de enfatizar que este plano “não é um plano operacional de combate ao fogo, é um plano que define uma estratégia de minoração de riscos e prevenção de situações que as pessoas possam vir a sofrer como evacuações, encaminhamento para refeições ou locais de abrigo. Deste ponto de vista não há nenhum prejuízo para as populações”, assegura.

Vasco Estrela tinha também exigido ainda mais “transparência” na divulgação do números de bombeiros  e de meios que combatem as chamas: “Não podemos conceber que se diga que os meios eram os necessários, os suficientes, quando tivemos populações completamente desprotegidas. Se se puder dizer que não havia realmente mais meios para colocar, temos que assumir que não havia mais meios, que o país não teve capacidade de resposta. Ou então temos que dizer outra coisa, que os meios não estavam balanceados no terreno de forma adequada face às características que eram expectáveis que pudessem vir a acontecer”, acusou.

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