expresso.ptMiguel Maria Pereira/Washington University in St. Louis - 20 jul. 17:20

Que impacto tem uma sondagem?

Que impacto tem uma sondagem?

Opinião de Miguel Maria Pereira/Washington University in St. Louis

De tempos a tempos surgem críticas a sondagens. Desmobilizam os eleitores, distraem os partidos dos grandes temas, e assim por diante. Mas de facto, que impacto têm os inquéritos de opinião pública?

Comecemos pelos partidos. Recentemente tive a sorte de colaborar num projeto que recolheu dados sobre a retórica de líderes partidários durante as campanhas em dez países Europeus. Um dos estudos que saiu desta iniciativa publicado na Revista Electoral Studies, sugere que as elites partidárias em Portugal usam sondagens para tentar mobilizar eleitores, dando destaque aos resultados mais promissores. As críticas, por sua vez, são muitas vezes instrumentais. A probabilidade de uma menção negativa a sondagens sobe de 5 para 32% na sequência de resultados desapontantes.

Mas as sondagens são usadas também para refinar a mensagem dos candidatos. Partidos grandes, por exemplo, tendem a adotar uma retórica mais ideologicamente vincada na sequência de resultados abaixo do esperado. Estes padrões sugerem que pelo menos junto de eleições as elites políticas prestam bastante atenção aos sinais emitidos pelos eleitores. Eu gosto quando isso acontece, e as sondagens criam as condições para estreitar as relações entre eleitores e eleitos. Se o mesmo é verdade fora da campanha, quando o mercado de transferências está tão animado, é menos claro.

E quanto aos cidadãos? Consegue uma sondagem alterar o comportamento dos eleitores? É difícil responder a esta pergunta, mas Kate Orkin (Oxford) encontrou uma forma engenhosa de abordar a questão. Nas vésperas de uma eleição local na África do Sul foram publicados dois inquéritos que colocavam na frente partidos diferentes. Para testar os efeitos de vermos o nosso partido à frente do seu principal oponente, a investigadora dividiu uma amostra de eleitores em três grupos. Os grupos 1 e 2 receberam informação sobre uma das duas sondagens, respetivamente. O grupo 3 apenas recebeu informação genérica sobre a eleição, sem menção às sondagens. Por fim, a investigadora acompanhou o comportamento dos eleitores na eleição. Como os grupos foram criados aleatoriamente, quaisquer diferenças nas decisões dos eleitores deveriam resultar da informação disponibilizada.

O estudo revela que a probabilidade de votar aumentou 10 pontos entre apoiantes dos partidos que estavam ligeiramente à frente na sondagem disponibilizada, face ao grupo que não recebeu qualquer inquérito. Já entre os simpatizantes dos partidos que ficaram atrás em cada sondagem, o estudo não teve impactos. Os resultados são consistentes com um fenómeno conhecido como efeito bandwagon: quanto mais disseminado é um comportamento, maior a nossa tendência para adoptá-lo. Foi assim com as sandálias crocs, recorda-se?

O estudo de Kate Orkin sugere que as sondagens têm um impacto relevante nos eleitores. Isto não quer dizer que estejamos melhor sem sondagens. A alternativa seria o dedo adivinho dos comentadores, ou inquéritos conduzidos sem a monitorização necessária. Em vez disso, podemos esforçar-nos por dedicar mais tempo – enquanto consumidores e disseminadores de sondagens – a inquéritos com questões que podem ajudar os eleitores a tomar decisões mais informadas, e ajudar os partidos a melhor entender as preferências dos portugueses. É isso que o estudo publicado hoje no Expresso tenta fazer.

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