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As sete finais de Inácio: Pedroto pediu-lhe desculpa, Jaime Magalhães salvou-lhe as férias

As sete finais de Inácio: Pedroto pediu-lhe desculpa, Jaime Magalhães salvou-lhe as férias

Como jogador e treinador, o antigo lateral-esquerdo disputou sete finais da Taça de Portugal e ganhou quatro, duas pelo Sporting e duas pelo FC Porto.

Ganhe quem ganhar a final no Jamor, uma coisa é certa, o Desportivo das Aves vai entregar o estatuto de detentor da Taça de Portugal, conquistada há um ano. Augusto Inácio não estava nessa final como treinador da equipa avense, nem iniciou a época seguinte, mas entrou a meio para salvar o clube da despromoção. Neste sábado, Inácio vai ver à distância a final entre dois clubes que representou como jogador e treinador e ao serviço dos quais conquistou muitos títulos. Só na Taça foram quatro, duas com o Sporting e duas com o FC Porto, mas as memórias do antigo lateral-esquerdo, como contou ao PÚBLICO, não são apenas feitas de vitórias.

Como jogador do Sporting

1977-78 - Sporting-FC Porto 2-1 (finalíssima)

“Empatámos no primeiro jogo, ganhámos na finalíssima e, a seguir, fomos para a China. Foi um jogo como sempre são os Sporting-FC Porto, imprevisíveis. Houve alguma polémica com o árbitro do primeiro jogo, o Mário Luís, que foi depois connosco para a China. Isso deu azo a muita especulação. Por isso, falaram do Mário ‘chinês’. Mas acho que ganhámos bem. Ele estava na comitiva porque o governo chinês queria que fosse um árbitro português, o Sporting tinha de escolher um árbitro. Podia ter ido outro, não sei se o convite tinha sido feito antes da final. Foi a minha primeira final e foi uma sensação brutal. Na véspera do jogo devia estar a dormir, mas não se consegue dormir nada. São momentos que se vivem com intensidade, nervos e alguma insegurança pelo nosso próprio jogo. Nesse jogo tinha uma tarefa muito difícil, de marcar o Seninho, que era muito rápido. Se lhe desse espaço, ele, em corrida conseguia ganhar-me dois metros em cada dez. Umas vezes era marcação à zona, outras vezes era em cima, e acho que me portei bem. Não era muito faltoso e acho que até fui dos primeiros a fazer carrinhos, e cortava muitos lances assim. Depois, a subir a tribuna, as pernas tremiam, e, depois, a chegar à tribuna, levantar a taça, celebrar com os adeptos, é indescritível. A festa que se seguiu foi diferente de outros tempos. Juntei-me a cinco ou seis jogadores, mais as famílias, jantar e tomar um copo. Não era tudo em conjunto, cada um fazia o seu programa. Festa sem hora para terminar. Para mim, acho que foi até às cinco!”

1978-79 - Boavista-Sporting, 1-0

“Sim, foi o Júlio Carlos que marcou o golo [num lançamento longo, com uma saída em falso de Botelho, guarda-redes dos “leões”]. O Sporting era o favorito, mas o Boavista batia-se bem e tinha uma boa equipa. Naquele jogo, quem marcasse primeiro, ganhava. Foi o que aconteceu. Marcou, defendeu-se bem e contra-atacava com algum perigo e não tivemos capacidade para igualar o jogo. O Boavista ganhou bem.”

1981-82 - Sporting-Sp. Braga, 4-0

“O jogo em que o Quinito [treinador do Sp. Braga] foi de smoking branco e um lacinho à gato. Lembro-me bem desse jogo, o Oliveira fez um jogo fantástico. Naquela altura, o Sporting era muito superior ao Sp. Braga. Foi como o seu treinador, ia para a festa, mas com a ambição de ganhar. Foi um mote que o Quinito quis dar à equipa, mas fomos muito fortes. O Sp. Braga não teve qualquer hipótese, foram quatro, podiam ter sido cinco ou seis. Foi uma exibição de gala e sem espinhas. Era uma equipa muito harmoniosa e solidária. Oliveira, Jordão, Manuel Fernandes, qualquer um deles assustava a defesa adversária, mas eram jogadores que não defendiam nada. Tinha de haver uma defesa e um meio-campo fortes. Nós vestíamos o fato-macaco, eles vestiam o fato de gala. E o Malcolm Allison era um espectáculo. Para ele não havia jogos de vida ou morte. Ele via o futebol sempre como um espectáculo.”

Como jogador do FC Porto

1982-83 - Benfica-FC Porto, 1-0

“Foi nas Antas, com um golo do Carlos Manuel. Esse jogo fez-se no início da época seguinte. Estava a jogar bem, e até mandei uma bola ao poste. No intervalo, o Pedroto tirou-me e o Benfica acabou por ganhar nas Antas, isso doeu e de que maneira. Nos treinos a seguir, o Pedroto chamou-me ao gabinete dele e, com aquela humildade que ele também tinha, perguntou-me o que é que eu tinha achado da final. ‘Ó mister, foi uma merda, perder aqui com o Benfica nas Antas em frente aos nossos adeptos”. E ele virou-se para mim e disse, ‘Nunca te devia ter tirado, estavas a jogar bem, mas eu vi uma coisa, que podia furar mais por aquele lado. Se fosse hoje, não te tirava da equipa’. Teve essa humildade de falar comigo e não tinha nada de o fazer. Há treinadores que nunca dizem nada. Nessa altura, comecei a perceber que as decisões não são uma coisa fácil para os treinadores.”

1984-85 - Benfica-FC Porto, 3-1

“Não me lembro desse jogo. Não é pela derrota, mas não estou a visualizar o jogo.”

1987-88 - FC Porto-V. Guimarães, 1-0

“Sobre essa final, tenho uma história gira. Tinha marcado férias para ir na terça-feira seguinte para Orlando [nos EUA] e à Disneyworld com a família. A viagem estava marcada e paga. No dia da final estava um calor… Aquilo não saía daquela lengalenga. Nem o Vitória fazia ataques perigoso, nem nós, estávamos ali a fazer uma peladinha e o tempo passava, passava. Durante a segunda parte comecei a pensar, ‘Tu queres ver que não vou para Orlando. Epá, temos de marcar um golinho para eu ir descansado’. Já perto do fim [82’], o Jaime Magalhães arrancou um remate espectacular e lá ganhámos. Fui ter com ele, e disse-lhe, ‘Salvaste-me a viagem, se não fosses tu…’ Era um jogo tão amarrado, lento e sem intensidade e estava feito para o 0-0, nós e o V. Guimarães estávamos de gatas, foi um dos jogos mais difíceis da minha carreira. Eu estava sempre a mandar a bola para o lado direito, para poder respirar, mas o Jaime teve aquele golpe de asa. E lá ganhámos aquilo.”

Como treinador do Sporting

1999-00 - FC Porto-Sporting, 2-0 (finalíssima)

“Perdemos na finalíssima. No primeiro jogo, o Sporting merecia ter ganho e tivemos mais que oportunidades. Depois, na finalíssima, o FC Porto marcou primeiro, tentámos reagir, mas eles foram superiores e mereceram ganhar. Nessa finalíssima, o que não gostei nada foi de três ou quatro faltas à entrada da área do FC Porto que o árbitro não marcou – e nós tínhamos o André Cruz para marcar os livres - e houve duas situações em que não me pareceu falta e, numa delas, o Deco marcou um golo de livre. Tínhamos sido campeões, mas as últimas impressões são as que ficam, fomos campeões, festejámos, mas, depois, as pessoas querem mais uma vitória. Isto de dizer que se está nas decisões e não as ganhar, é pouco. Há o conforto de termos sido campeões 18 anos depois, mas podíamos ter ganho e não ganhámos. Obviamente, não fiquei nada contente por ter perdido.”

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