rr.sapo.ptOpinião de Francisco Sarsfield Cabral - 24 mai. 01:00

Curiosos nacionalistas

Curiosos nacionalistas

Nos partidos eurocéticos não falta quem se auto proclame nacionalista. Mas com estranhas peculiaridades.

Como se sabe, os partidos eurocéticos, hostis à imigração e alegadamente nacionalistas, que existem em vários Estados-membros da UE, pretendem formar um importante grupo parlamentar no próximo Parlamento Europeu.

Estes partidos não têm, todos, ideias idênticas. Por exemplo, o partido de Viktor Orbán, que domina a política, a justiça e a comunicação social na Hungria, não gosta de Marine Le Pen. Mas, em geral, consideram-se nacionalistas, que não apreciam entidades supra nacionais (ainda que se trate de soberania partilhada) nem a globalização.

O líder deste movimento alegadamente nacionalista e de extrema-direita é Salvini, vice-primeiro ministro, mas de facto quem manda no governo italiano. Ora este homem era, até há pouco, líder da Liga do Norte, que defendia a separação do Norte da Itália, formando um novo país, a Padânia. Agora a Liga do Norte chama-se apenas Liga, mas é curioso o nacionalismo de quem queria rebentar a sua própria nação, a Itália…

Outro traço interessante para quem se autoproclama nacionalista é o carinho que têm por Putin e que é recíproco. Naturalmente que a Putin interessa dividir a Europa, mas qual é o interesse desta extrema-direita em defender o fim das sanções à Rússia por causa da Ucrânia? Nesta atitude, comum entre os partidos “iliberais”, os polacos conservadores no poder são exceção – eles sabem, pela sua trágica história, o que sofreram às mãos dos soviéticos. Por isso, tal como os bálticos, receiam Putin.

Um partido de extrema-direita muito ligado a Putin integrava, até há dias, o governo da Áustria. A coligação austríaca colapsou repentinamente porque surgiram imagens do líder do partido de extrema-direita e até aí vice-chanceler a ser corrompido… por uma russa.

Aliás, nem precisamos de sair do país para ver como há quem seja, simultaneamente, um adepto teórico da soberania nacional e durante décadas tenha alinhado sem falhas com o chamado “internacionalismo proletário”, rigidamente controlado a partir de Moscovo. Um internacionalismo ao qual o PCP e o seu então líder A. Cunhal se submetiam sem pestanejarem. E nunca o PCP se retratou.

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