visao.sapo.ptRicardo Araújo Pereira - 24 mai. 08:03

É Portugal, meninos e meninas

É Portugal, meninos e meninas

Portugal é, de facto, um espectáculo muito divertido. Mas o bilhete para assistir é caríssimo

Ilustração: João Fazenda

Quem acha que a comédia é coisa simples e fácil de entender aprendeu esta semana uma lição importante. Com quem estava Berardo a gozar, naquela comissão de inquérito? Com os deputados? Com a Caixa Geral de Depósitos? Connosco? Com as pessoas que tentaram gozar com ele quando lhe pediram que fosse o seu testa-de-ferro na tentativa de controlar o BCP? É difícil de entender. Só dois aspectos são claros: primeiro, trata-se, de facto, de comédia – e da boa; segundo, nós não queríamos assistir mas, pelos vistos, pagámos bilhete – e não foi barato. Este é o pormenor mais importante, acho eu: . Como sempre acontece nestes casos, há sempre quem consiga arranjar convites para ver sem pagar. Não é o meu caso. O máximo que eu consigo fazer é arranjar maneira de me pagarem para eu relatar o que estou a ver. Já não é mau. Sou uma espécie de crítico de arte que se dedica a apreciar essa obra que é Portugal. Muitas vezes, tal como costuma acontecer-me quando estou perante arte em geral, não percebo bem o que estou a ver, ou acho a obra inverosímil, ou até repetitiva. Mas o certo é que nunca perco o interesse.

Agora temos campanha eleitoral, que é um momento sempre entusiasmante. No caso concreto das eleições europeias, a campanha pode ser difícil de acompanhar, porque os assuntos europeus são densos e complexos – o que afasta os eleitores. Felizmente, quase nunca se fala de assuntos europeus – o que afasta os eleitores. Os temas escolhidos pelos candidatos, felizmente, são mais fáceis de entender. São eles: o carisma de Pedro Marques, José Sócrates, a influência de Paulo Rangel no Parlamento Europeu, José Sócrates, o mau desempenho de Nuno Melo no ranking de deputados, José Sócrates, as afinidades e divergências entre Bloco e PCP, e José Sócrates. Acerca de todos estes temas toda a gente tem uma opinião. Sobre as repercussões do Tratado de Lisboa no direito comunitário a doutrina divide-se, mas sobre o carisma de Pedro Marques é difícil não ter certezas. A influência de Paulo Rangel, como de todos os outros eurodeputados, também é fácil de definir porque é ligeiramente acima de nenhuma. Sobre o mau desempenho de Nuno Melo, ele alegou que os russos podem ter adulterado o relatório – o que não custa a crer, uma vez que a Rússia de Putin é conhecida pelo seu particular interesse em prejudicar políticos de direita pela calada. Sobre o Bloco e o PCP, sabemos que votam quase sempre da mesma maneira mas quase nunca estão de acordo. São inimigos íntimos. E, no que diz respeito a José Sócrates, depois de viver numa casa que não lhe pertence, assinar uma tese que não escreveu e gastar dinheiro que não é dele, ninguém estranha que protagonize uma campanha na qual não participa.

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