expresso.ptexpresso.pt - 22 mai. 16:13

A militância é uma arma

A militância é uma arma

Na Baixa da Banheira, a CDU joga em casa. João Ferreira pede que "não falte uma conversa" para convencer "amigos, familiares, colegas e até desconhecidos" a votarem no próximo domingo. Na "foice e martelo, com o girassol ao lado", explica para evitar trocas. Maria Rosa e Raquel, octogenárias militantes comunistas, cumprem à risca. Um exemplo de como se faz a militância de base

A militância comunista é uma arma poderosa. E não tem idade de reforma. Maria Rosa e Raquel são amigas, camaradas e vizinhas. Na Baixa da Banheira, passam todas as tardes "umas horas" na sede do partido para matar o tempo e ouvir as novidades. Têm mais de oitenta anos, mas nada as impede de comparecer fielmente ao chamamento partidário.

Colocada estrategicamente à sombra do enorme painel de azulejos que assinala a chegada da Baixa da Banheira a vila, Maria Rosa grita pela amiga, que perdeu no meio da arruada. "Raquel, anda práqui". A outra lá vem e têm um lugar à sombra para ouvir o candidato. Carregadas de mazelas - ora da coluna, dos rins e do mais que a idade acarreta - as duas camaradas não perdem pitada. "Custa-me a andar e até cai na semana passada, mas agarro-me ao cajado", diz Maria Rosa. Fez o percurso todo, apesar das dificuldades e ambas deixaram "o almoço adiantado" para não falharem na militância.

João Ferreira pede ajuda para convencer todos a votarem na CDU. "Até ao último minuto", o esforço de campanha é possível. Raquel já cumpriu a sua parte. "Ainda ontem, estive à tarde ao telefone com a minha neta, que está em Leiria, a convencê-la", explica ao Expresso, enquanto fala Heloísa Apolónia, dos Verdes sobre a necessidade de "continuar a acreditar". "A mãe dela, da Heloísa, deve andar por aí. É minha vizinha. E o pai já foi presidente de uma câmara aqui ao lado", esclarece Maria Rosa.

A neta de Raquel, até já está convencida. Mas a avó não desarma. "Este folheto vai já para Leiria", explica, mostrando o papel de propaganda que acabou de receber na arruada. "E eu disse-lhe: filha, quando fores votar, se te enganares a preencher, pede outro papel que eles têm lá muitos".

Do aeroporto ao centro de saúde

A militância faz-se assim, da base até ao topo, num trabalho de formiguinha de que os comunistas se orgulham e João Ferreira exibe como uma das grande medalhas de mérito do seu trabalho em Bruxelas.

Mas, ali, entre os "banheirenses", como os designou Helóisa Apolónia, é preciso ir ao concreto: falar dos passes sociais conquistados nesta legislatura, ou no centro de saúde que vai abrir, finalmente, na Baixa da Banheira. João Ferreira repete os apelos ao voto na CDU, mas faz questão de explicar que é "no último quadrado" e na "foice e martelo ao lado do girassol" que a cruz deve ser feita.

O público presente é maioritariamente idoso. As confusões face ao enorme boletim eleitoral dão alta probabilidade de erro, que ainda se espera ir a tempo de evitar.

O discurso é mais direto e pedagógico. A política ficou para as declarações, feitas aos jornalistas ainda a arruada ia a meio. Aí, João Ferreira aproveitou para bater nas opções do Governo do PS sobre o novo aeroporto. "Uma solução que não vai ao encontro do que é necessário e que vai somar problemas ao problema já existente", afirmou o candidato. Lamentou os custos da electricidade portuguesa, também resultado de opções políticas dos Governos ("todos", sublinha) que "venderam ao desbarato empresas públicas em setores essenciais da economia". No final, "os lucros enormes das EDP estão a ser pagos pelos bolsos dos contribuintes".

Raquel e Maria Rosa não ouviram o candidato. Estavam à sombra, "longe da confusão". Esperam vê-lo "mais logo na televisão". A missão delas era outra. E foi cumprida, como sempre.

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