ionline.sapo.ptJoão Lemos Esteves - 21 mai. 10:26

É (quase) oficial: António Costa está de partida de Portugal (é o candidato de Macron para a Comissão Europeia)

É (quase) oficial: António Costa está de partida de Portugal (é o candidato de Macron para a Comissão Europeia)

Do que ficou exposto resulta, destarte, que António Costa se afigura como a personalidade política que melhor poderá reunir consensos entre várias forças políticas representadas no Parlamento Europeu, formando uma espécie de geringonça europeia.

1. É a imagem da campanha: Pedro Marques a olhar fixamente, entre o desconfiado e o perplexo, para o boneco do Noddy. Muito provavelmente, Pedro Marques – o cabeça-de-lista do PS às europeias do próximo domingo, que ninguém conhece – identificou-se com a personagem infantil: é que, tal como o genérico daquele desenho animado canta que se “abram alas para o Noddy”, Pedro Marques só é candidato ao Parlamento Europeu para abrir alas para o Costy, o seu “Querido Líder”. A escolha de Pedro Marques, como já explicámos no nosso artigo anterior aqui no i, foi apenas motivada pela ambição de António Costa ir, rapidamente e em força, para Bruxelas – é, pois, mais uma negociata à PS de Costa. A lista do PS às europeias não passa de uma comunhão de interesses: António Costa precisa de uma pessoa de confiança em Bruxelas, que lhe abras alas para um lugarzinho qualquer; Pedro Marques, por seu turno, deixou-se encantar pelo salário muito apetitoso e as mordomias que só a União Europeia consegue oferecer. Portanto, lá vai Pedro Marques abrir alas para o Costy, Costy!

2. E o nosso Costy parece estar com sorte. Na sequência do nosso texto da passada semana aqui no i, a informação que avançámos de que António Costa está preparando a sua fuga para Bruxelas não só não foi desmentida como foi reforçada: afinal, o nome de Costa circula nos bastidores da União Europeia como provável futuro… presidente da Comissão Europeia. Dirão os leitores mais cautos: tal será impossível, pois os candidatos à comissão já são conhecidos, já realizaram, inclusivamente, debates entre si. Tal objeção não procede: embora, alegadamente no âmbito de um reforço do processo democrático europeu, se tenha exigido que as forças políticas europeias apresentem o seu candidato à liderança da Comissão Europeia (o Spitzenkandidat), a verdade é que a escolha de uma destas personalidades não é obrigatória. O que significa que a liberdade dos líderes europeus e do Parlamento Europeu é – do ponto de vista jurídico – total, podendo desprezar por completo os candidatos apresentados ao eleitorado europeu.

3. Quais são os requisitos juridicamente vinculativos para a escolha do presidente da Comissão Europeia? Primeiro, os líderes europeus têm de ter em consideração os resultados das eleições europeias; segundo, o presidente da comissão terá de ser aprovado por uma maioria qualificada no conselho e por maioria absoluta no Parlamento Europeu. Pois bem, atendendo à possível fragmentação política no parlamento que resultará das eleições de domingo, será necessária uma dose significativa de negociação, paciência e habilidade para formar a próxima Comissão Europeia. Das próximas eleições europeias resultará, pois, uma nova composição política que será uma verdadeira… geringonça. Pois bem, habilidade, negociação no sentido de compra de votos, geringonça e perceção de que o sistema alcançou o seu “grau zero” remetem-nos para quem? Para o geringonçado António Costa, pois claro! É oficial: António Costa já está em pré- -campanha para se mudar para Bruxelas – nos últimos dias, os contactos com embaixadas de países europeus em Lisboa intensificaram-se (com França e Alemanha à cabeça); hoje, Costa jantará com Emmanuel Macron em Paris. António Costa é definitivamente o candidato da França de Macron à Comissão Europeia, podendo, por esta via, o socialista geringonçado português juntar, ao dos socialistas, o apoio dos liberais.

4. Isto, além de António Costa não gerar resistências junto dos setores políticos mais à esquerda: os verdes não afastarão um voto favorável à escolha de Costa; assim como o Grupo Confederal da Esquerda Unitária não poderá negar a sua concordância com a escolha de Costa – afinal de contas, neste grupo político europeu estão integrados o BE e o PCP (em Bruxelas estão juntinhos!), que formaram um Governo informal em Portugal com o mesmo líder geringonçado poucochinho. Acresce ainda que a CDU alemã – líder de facto do PPE, o grupo mais conservador do Parlamento Europeu, onde se juntam PSD e CDS – elogiou por diversas vezes (por conveniência estratégica e oportunismo tático, em função dos interesses específicos da Alemanha) o trabalho de Costa. Seria, pois, contraditório que a CDU alemã rejeitasse a candidatura de António Costa – aliás, o (quase ex-)primeiro-ministro já fez questão de recordar este pormenor a alguns políticos e diplomatas alemães…

5. No fundo, os líderes europeus querem que António forme uma comissão geringonçada que permita isolar a nova força política (muito provavelmente, pujante) dos ditos populismos – unindo todo o outro bloco, desde os radicais de esquerda até ao PPE. É seguramente esta a ideia de Emmanuel Macron, que dirá no jantar de hoje, em Paris e em privado, com António Costa. Adicionalmente, Macron terá uma vantagem: passará definitivamente a ser o “Senhor Europa”, pois o dever de fidelidade de António Costa será para com ele – e não para com a Alemanha, o que representará uma mudança significativa da Realpolitik europeia dos últimos (longos) anos… Macron tentará, por esta via, mostrar uma imagem de autoridade na Europa – que não consegue mostrar no próprio país que governa. Importa ainda referir um aspeto que tem sido ignorado: já compararam o programa (se é que se pode falar de um programa…) político do PS para estas europeias com a mensagem política de Emmanuel Macron? É que são iguais! O PS limitou--se a fazer um copy-paste das mensagens do Presidente Macron sobre o futuro da Europa, repetindo-as aqui para consumo doméstico. Em rigor, até a ideia do “novo contrato social” é uma imitação rasca do “nouveau contrat social” que o Presidente francês divulgou no final do ano passado!

6. Não deixa de ser curioso constatar que o mesmo António Costa que chegou ao poder em Portugal através de golpada, desprezando convenções constitucionais da democracia portuguesa, será o mesmo António Costa que (provavelmente) chegará à liderança da Comissão Europeia por via de mais uma golpada em que se desprezarão os candidatos que foram apresentados ao eleitorado e a regra instituída em 2014… É apenas o padrão costista de atuação.

joaolemosesteves@gmail.com

Escreve à terça-feira

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