expresso.ptexpresso.pt - 21 abr. 18:31

Álvaro Siza revisita o projeto SAAL

Álvaro Siza revisita o projeto SAAL

Ao assinalar 45 anos do 25 de abril de 1974, a Faculdade de Arquitetura do Porto convida Siza a falar sobre a histórica intervenção no Bairro de S. Vítor a pretexto do lançamento do livro sobre o projeto e a obra

O projeto SAAL-Serviço de Apoio Ambolatório Local desenvolveu-se no Porto de forma única e sem paralelo em qualquer outra região do país. De repente, e a pretexto ou a reboque da Revolução, os arquitetos intervinham no coração da cidade para fazer habitação destinada aos mais frágeis e desfavorecidos. Precisamente os que as políticas de cidade estavam a expulsar dos centros urbanos. Uma das intervenções mais emblemáticas foi coordenada por Álvaro Siza Vieira e teve como epicentro o Bairro de S. Victor, muito próximo da Escola de Belas Artes do Porto, onde então funcionava a faculdade de Arquitetura.

Na próxima terça-feira, a dois dias dos 45 anos do 25 de abril, é lançado o segundo volume da coleção sobre o SAAL, intitulado “Cidade participada: arquitectura e democracia – S. Victor”, com edição da “Tinta da China”. É um bom pretexto para reunir no Auditório Fernando Távora, da FAUP, alguns dos protagonistas de uma história curta, já que se desenvolveu apenas entre agosto de 1974 e outubro de 1976, mas intensa, dadas as respostas proporcionadas à urgência de construir, as raízes deixadas e o impacto provocado. Entre os participantes na sessão estão, além de Siza Vieira, Alexandre Alves Costa, Carlos Machado e Sérgio Fernandez.

Álvaro Siza, com Domingos Tavares numa primeira fase, chefiou a brigada composta pelos então ainda alunos Eduardo Souto Moura, Adalberto Dias, Francisco Guedes, Manuela Sambade, Paula Cabral e Graça Nieto Guimarães. Foram estes então jovens estudantes de arquitetura que desafiaram Siza para um trabalho num contexto muito particular, bem no coração do Porto e durante o qual foi desenvolvida uma muito especial ligação com os moradores.

No livro que será lançado na terça-feira, no qual se reúnem alguns documentos nunca antes publicados em Portugal e através dos quais se abrem novas perspetivas de leitura sobre o processo e o projeto, Alves Costa assinala “as diferenças decisivas entre o carácter das intervenções no Porto e em Lisboa”. Desde logo a circunstância de, na capital, a maioria das operações terem decorrido “em zonas de subúrbios e constituíram conjuntos para serem ocupados por populações de bairros de lata recentemente urbanizadas. São blocos colectivos de média altura agrupados em pátio, em U, em bandas, com acessos verticais e galerias muito acentuadas: partidos tipológicos anteriores à Revolução, agora construídos em condições de emergência”.

No Porto, pelo contrário, sublinha o arquiteto que foi um dos responsáveis do SAAL, “as operações decorreram no centro urbano, em espaços abertos junto de antigos bairros operários, correspondendo a populações urbanas de longa data. Foram intervenções que, embora pontuais e fragmentadas, apontavam implicitamente para um modelo radical de cidade e de planeamento”.

Esquisso de ilha a atravessar o quarteirão entre a Praça da Alegria e a rua de S. Victor

Esquisso de ilha a atravessar o quarteirão entre a Praça da Alegria e a rua de S. Victor

Arquivo Álvaro Siza

De alguma forma, os projetos iniciados no Porto baseavam-se, escreve ainda Alves Costa, “numa ação crítica face à política de realojamento das populações nas zonas degradadas, mas centrais, em novos bairros suburbanos”.

Num texto inserido no livro, originalmente publicado na revista italiana ‘Lotus International’, nº 13, em 1976, Álvaro Siza, além de situar toda a zona de S. Victor, recorda que “a ação reivindicativa dos moradores iniciou-se ainda em Abril de 1974, antes da criação do SAAL (Agosto de 1974) e da formação da Brigada Técnica (Novembro de 1974). Foi exigida a cedência dos terrenos da Srª das Dores. O Município havia expropriado e demolido ‘as ilhas’ para construção de um ‘Parking’. Aqui, como noutras zonas, esta era a medida da expulsão de uma população pobre e para a adaptação capitalista do núcleo central da cidade”.

Alves Costa refere que a “importância do Processo SAAL foi imediatamente entendida pela crítica europeia. Álvaro Siza foi chamado a Évora, a Berlim e a Haia, evidentemente pelo seu já reconhecido talento, mas também pela sua identificação com o SAAL. Os seus projetos para estes lugares, além da intervenção em S. Victor no Porto, constituíram a mais expressiva concretização de uma reflexão colectiva de que foi protagonista importante e que teve lugar durante estes intensos dois anos”.

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