www.jornaldenegocios.ptAntónio Moita - 24 mar. 20:21

Adolfo patrão, Adolfo costureiro

Adolfo patrão, Adolfo costureiro

Reconquistar a confiança do eleitorado passa, entre muitas outras coisas, pela renovação das caras e dos perfis de quem nos governa. E uma das condições para o exercício da atividade política deveria ser, em regra, a demonstração efetiva da capacidade profissional do candidato.

A propósito da demissão de Adolfo Mesquita Nunes da vice-presidência do CDS para se dedicar em exclusivo à sua atividade profissional e à condição da administrador não executivo da Galp, lembrei-me da velha rábula de Ivone Silva em que, desempenhando ao mesmo tempo os papéis de patroa e de costureira, conseguia brincar com os conflitos, muitas vezes insanáveis, entre as duas condições profissionais.

Mesquita Nunes não invocou qualquer incompatibilidade legal nem tão-pouco distanciamento da linha política seguida pela atual direção do partido. Fê-lo, segundo afirma, porque entendeu dar prioridade à sua carreira profissional em detrimento da atividade política. Ninguém lhe negará esse direito. Até Assunção Cristas compreendeu.

Confesso que esta decisão me ajudou a confirmar aquilo que já todos sabemos. Os nossos melhores não querem estar na política ativa. Porque a motivação não é grande, porque há uma exposição exagerada e uma devassa da vida privada, porque as empresas não querem os seus principais rostos envolvidos em situações geradoras de conflitos de interesses ou de riscos reputacionais.

O que aqui digo vale tanto para o ex-dirigente do CDS como para tantos outros que poderiam participar mais ativamente na política seja em que partido for. Este não é, portanto, um problema isolado. É um nó que o sistema terá de desatar rapidamente caso não queira prosseguir o caminho da deterioração acentuada daqueles que são os nossos representantes nas diferentes instituições do Estado.

Tenho defendido que o debate eleitoral das próximas eleições legislativas deveria incluir a tão aguardada proposta de revisão do sistema eleitoral. Não serão apenas as questões da proximidade entre eleitores e eleitos, ou as candidaturas uninominais por circulo, ou o número de deputados que deverão estar em jogo. Será também obrigatório estabelecer regras que permitam, de forma absolutamente transparente, assegurar que todos aqueles que nos mais diversos setores de atividade deram provas de competência profissional encontrem espaço e conforto para dar o seu contributo às nossas instituições representativas.

Não tem de ser doutor nem engenheiro. Tem apenas de ser bom naquilo que faz. Para que os novos políticos passem a ser gente com profissão conhecida e com a liberdade de seguir o seu caminho caso alguma estrutura partidária mais mesquinha se lembre de começar a incomodar.

Jurista

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