blitz.ptblitz.pt - 24 mar. 09:00

Dois dedos de conversa com os Twenty One Pilots em Lisboa: as pressões do sucesso, a nova relação com Portugal e as canções de “Trench”

Dois dedos de conversa com os Twenty One Pilots em Lisboa: as pressões do sucesso, a nova relação com Portugal e as canções de “Trench”

Antes do concerto que deram na Altice Arena, na semana passada, os Twenty One Pilots estiveram 12 minutos à conversa com a BLITZ. Leia aqui a entrevista na íntegra

Estrearam-se há dez anos com um álbum homónimo, mas só em 2015 saltaram para a ribalta com uma mão-cheia de canções orelhudas incluídas no multiplatinado álbum “Blurryface”. Três anos depois, no final do ano passado, os Twenty One Pilots regressaram com o conceptual “Trench” e vieram agora a Portugal apresentá-lo num concerto na Altice Arena, em Lisboa, iniciando uma relação com os fãs portugueses que já está a pedir cenas dos próximos capítulos.

Antes de subirem ao palco, Tyler Joseph e Josh Dun estiveram à conversa com a BLITZ e nuns curtos 12 minutos responderam a perguntas sobre as novas canções, uma narrativa que ainda pode dar origem a um livro e as pressões do sucesso. No final, deixaram no ar: “se os portugueses quiserem receber-nos novamente, nós estamos prontos”.

Os Twenty One Pilots sempre foram uma banda eclética, mas em “Trench” parecem ter encontrado uma coesão diferente, a vossa verdadeira identidade. Concordam com isto?
Tyler Joseph É um elogio dizer que este álbum soa mais coeso. As decisões que sempre tomámos em termos de escrita de canções tem sido bastante standard e vasta. Perguntamo-nos sempre: “gostamos disto? E faz sentido?”. Esse nosso filtro do que gostamos e não gostamos é analisado à luz dos espetáculos, pensamos sempre na forma como as coisas vão resultar ao vivo e sobre que tipo de canções precisamos nos nossos alinhamentos. Não penso que para “Trench”, especificamente, tenhamos alterado o nosso modo de fazer as coisas como estratégia para sermos mais coesos. Talvez tenhamos aperfeiçoado algumas ideias que tornaram o disco coeso, arranjámos uma narrativa, uma história que é contada ao longo das canções. Isso, naturalmente, faz com que casem umas com as outras um pouco melhor. Também teve influência o facto de termos crescido enquanto escritores de canções e produtores. Experimentamos muitas coisas no início e depois começamos a perceber aquilo em que somos melhores e de que coisas gostamos mais, portanto, naturalmente, quando crescemos nesse sentido podemos concentrar-nos mais num certo tipo de música. Neste último disco, concentrei-me muito no baixo ao escrever as canções e isso nunca tinha acontecido antes. Isto para dizer que quando um instrumento toma conta de ti num período de criação também pode influenciar o facto de sentirmos que aquelas canções fazem sentido juntas.

Falando dessa narrativa… O conceito deste álbum surgiu como estratégia para estimular a criatividade ou nasceu naturalmente?
Tyler Joseph A ideia e o conceito já estavam aqui há algum tempo. O álbum anterior, “Blurryface”, foi uma espécie de começo: já dávamos algumas pistas para esta história. Ainda estávamos a aprender muito sobre os nossos fãs, aquilo que considerariam interessante e ao que dariam mais importância… Questionávamo-nos se gostariam da ideia de esta personagem, Blurryface, representar as inseguranças de alguém mas também se poderia ter uma vida própria, com características que o fizessem parecer mais real… E os nossos fãs pegaram nesse conceito de uma forma que não antecipávamos. Portanto, quando chegou o momento de escrevermos “Trench”, já sabíamos que o resto da história tinha de ser contada e mergulhámos a fundo. Contar histórias é algo que me dá muito prazer. Escrevo há muito tempo, mesmo antes de escrever canções, escrevia ideias e histórias, nomes, e portanto juntámos tudo quando percebemos que os nossos fãs eram o grupo perfeito de pessoas a quem contar esta história.

Há muitas teorias dos vossos admiradores sobre o que é esta história. Algum dia vão escrever um livro para esclarecer todas as dúvidas?
Tyler Joseph Ainda não pensámos sobre isso nem diria que é um objetivo nosso, mas há certos aspetos desta história que nós sabemos e as outras pessoas ainda não conhecem. Quando crias um mundo, há detalhes que são difíceis de encaixar num álbum. Não é fácil encontrar um espaço onde possamos incluir todos os pormenores do mundo onde este álbum se passa. Há de chegar uma altura em que será divertido contar tudo, não sei se num livro ou noutro meio qualquer que detalhe extensivamente tudo o que criámos para este mundo. No entanto, ao mesmo tempo, aquilo que ainda não explicámos completamente dá-nos oportunidade de continuar a escrever sobre esta história. Vamos, provavelmente, equilibrar tudo no futuro.

Este álbum chega depois de “Blurryface”, que foi extremamente bem sucedido. Os críticos adoraram este álbum, mas, apesar disso, não teve tanto impacto em termos de vendas. Sentiram-se muito pressionados para fazer um álbum à altura do antecessor?
Tyler Joseph Em termos de conteúdo do álbum, a ideia de pressão estava lá. Escrevi sobre essa pressão ao mesmo tempo que trabalhava no álbum. O Josh e eu tínhamos noção do sucesso do “Blurryface” e tivemos de trabalhar ainda mais arduamente para voltar a esse espaço onde não havia influências externas nem expectativas… Éramos apenas nós a pensar “gostamos disto?”. Foi difícil chegar lá porque o mundo é grande e, de repente, havia pessoas de todo o lado que já tinham ouvido falar da nossa música. Por isso é que foi importante para nós afastarmo-nos um pouco e desaparecer do mapa, entre os ciclos dos dois álbuns, para nos concentrarmos apenas no processo criativo. Mas ficamos felizes por ter resultado da forma como resultou.

No disco, exploram temas como a saúde mental, insegurança, suicídio… Depois de artistas como Keith Flint, Chris Cornell ou Chester Bennington sucumbirem a essas questões, é importante falar destes sentimentos mais negativos?
Tyler Joseph Acho que está a referir-se a uma canção chamada ‘Neon Gravestones’, cujo conteúdo lírico reflete uma abordagem mais preto no branco, mais direta. Muitas vezes, gosto de mergulhar as canções em metáforas, tentando dizer algo que já foi dito antes mas de uma forma que nunca tinha sido dita. É aí que entra a metáfora. Mas há certas canções, e ‘Neon Gravestones’ é uma delas, nas quais faz sentido dizer simplesmente aquilo em que estamos a pensar. Disse aquilo que estava a pensar. Em última instância, com essa canção quis reconhecer que, de certa forma, a nossa cultura, neste momento, fez com que evolu��ssemos, rapidamente, no sentido de podermos falar sobre esses assuntos, para que fosse uma conversa aberta e não algo que nos deixasse desconfortáveis. Permite que homens e mulheres possam ter esta conversa sobre aquilo por que estão a passar, quais as lutas que estão a travar, porque falar dos assuntos e sermos abertos em relação a eles é saudável. Pensei que estava tudo bem em relação a isso, mas há outros aspetos relacionados com isso que quis abordar nessa canção, ‘Neon Gravestones’: olhar para isto como um desafio. Chegar-me à frente e dizer “desafio-te a continuar, a lutar essas batalhas e vencer”. Sei que se alguém me dissesse isso, eu responderia de forma positiva, porque às vezes simplesmente ouvirmos outra pessoa dizer “estou a ouvir-te” ou “sei pelo que estás a passar” não é suficiente. Se me desafiarem a derrotar essas coisas, como disse, é algo a que respondo positivamente. E gostaria de acreditar que há pessoas entre os nossos fãs que responderiam da mesma forma. É esse o ângulo dessa canção.

Este é o vosso primeiro concerto em Portugal… O que esperam dele, tendo em conta algo que outras bandas já vos tenham dito sobre o nosso país ou algo que tenham estudado sobre ele?
Josh Dun É complicado, porque só vamos ficar aqui um dia, mas estamos muito entusiasmados. Nunca cá estivemos antes mas esperamos regressar e acho que o concerto desta noite vai ser fantástico.
Tyler Joseph Não há muitos locais… Quer dizer, há, mas a lista de países onde nunca tocámos está a ficar cada vez mais pequena, portanto é sempre muito excitante vir tocar a um sítio onde nunca estivemos. Não sabemos, de verdade, o que esperar, mas estamos à espera do tipo de fãs a que estamos habituados e acho que sim, que vão aparecer. Agora está do lado deles, se quiserem receber-nos novamente algures no futuro, nós estamos prontos, adoraríamos voltar. Se aparecerem, se se esforçarem e quiserem fazer parte do espetáculo, como lhes vamos pedir que façam, vamos decididamente voltar.

O que querem da música? É o mesmo que queriam quando começaram?
Essa é pesada… Seria uma parvoíce não mencionar que quando eu e o Josh começámos a tocar, um dos nossos desejos era ganhar a vida com isto. Muitas pessoas dirão que é uma resposta pouco inspirada, mas a verdade é que foi um grande momento da nossa carreira quando pudemos largar os nossos empregos e passar a ganhar a vida a tocar música. É uma honra poder fazer isso. É mesmo um milagre a possibilidade que temos de fazer isto: que a coisa que gostamos realmente de fazer seja aquela que nos possibilita subsistir e viver o nosso dia-a-dia. Isso é algo que sempre quisemos da música e estamos felizes por termos chegado lá. Esperamos que continue assim. Há tanta gente que quer isto e não consegue, portanto somos uns sortudos. A outra coisa prende-se com uma pergunta que fazemos recorrentemente a nós próprios: se não fizéssemos isto, qual seria o nosso escape? Como nos expressaríamos? E, novamente, consideramo-nos muito sortudos por termos uma plataforma através da qual nos podemos exprimir, criar, um escape… E é isso que precisamos da música. Uma coisa é querer algo da música, no sentido de ter um emprego, mas precisamos de um escape e uma arena para expressarmos aquilo que queremos criar. Isso sempre esteve lá mas agora, mais do que nunca, é algo que apreciamos. É raro conquistar isto.

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