expresso.ptexpresso.pt - 24 mar. 19:00

Ruy Vieira Nery: “O ruído não é a antítese da música”

Ruy Vieira Nery: “O ruído não é a antítese da música”

Professor e musicólogo (doutorado em Musicologia pela Universidade do Texas)

A que chamamos música?
É a comunicação de sentidos e emoções através da organização dos sons e silêncios no tempo, com um propósito artístico que transcende a palavra falada.

E como justificamos tanto ruído?
O ruído não é a antítese da música. A má música é sempre ruído e algum ruído, no contexto certo, pode ser boa música.

O ruído também nos espanta o vazio de que se alimenta esta sociedade?
O vazio da sociedade, sobretudo o vazio da ausência de valores, é (ou devia ser) o mais ensurdecedor dos ruídos.

Um músico pode não ser um artista?
Um verdadeiro músico é sempre, por definição, um artista. Mas depois, claro, há os outros…

O performer é mais facilmente julgado pela falta do alegado virtuosismo?
A performance, como qualquer profissão de risco, é um ofício, e como todos os ofícios tem uma aprendizagem e uma técnica, caso contrário há o risco de o performer escorregar e magoar-se. Ou, pior ainda, de magoar os ouvintes.

O século XXI tem desformatado aquilo que entendemos por canção?
A nossa noção tradicional de canção alargou-se: deixou de ser necessariamente uma melodia longa assente numa forma bem definida para poder ser uma sugestão sonora que se repete ou se vai transformando, sem um plano formal aparente. Mas tanto uma coisa como a outra podem ser absolutamente geniais ou insuportavelmente medíocres. O conteúdo é aqui mais importante do que a forma (ou a ‘desforma’).

A música é validada pelo seu tempo de sobrevivência?
É o que se chama a peneira do tempo. A malha da História é apertada e só deixa passar o que é realmente perene. Mas pode e deve haver ziguezagues e descontinuidades de esquecimento e redescoberta para uma mesma música. O cânone (felizmente) está sempre a ser refeito.

O excesso de produção musical levou ao racionamento da palavra ‘génio’?
A palavra ‘génio’ devia vender-se sempre com um aviso de utilização cuidadosa, e de preferência sob vigilância médica.

Lembra-se da primeira melodia que fixou?
“Supercalifragilisticexpialidocious”... (parece que agora voltou a estar na moda!)

Espanta-o que alguém como Conan Osíris semeie paixões e tempestades?
Tanto as paixões como as tempestades são sempre mistérios insondáveis, ainda por cima quando nascem do encontro de duas forças da natureza: Arnold Schwarzenegger e o rei dos deuses do Antigo Egito…

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