Diogo Queiroz de Andrade - 23 mar. 09:26
Manipulações democráticas digitais
Manipulações democráticas digitais
A Comissão Nacional de Eleições não tem capacidade para verificar a (des)informação que grassa nas redes sociais e não tem maneira de controlar gastos nem períodos de transmissão de informação.
E, se em Portugal um candidato não pode passar a campanha eleitoral a gastar o que lhe apetece em anúncios televisivos, porque é que há-de poder fazê-lo no Facebook?
Há várias provas de que as redes reagem apenas a um único tipo de pressão: a financeira. Quando na Alemanha se passou uma lei que previa multas até 50 milhões de euros para as redes que alojem falsa informação e discurso de ódio, o número de revisores contratados pelo Facebook aumentou exponencialmente (apesar de os alemães serem apenas 2% dos utilizadores da rede, 15% dos revisores estão lá sedeados). A Irlanda também já foi pelo mesmo caminho e Portugal também deveria ir. Mas mais importante ainda será que estas regras tenham força em toda a União Europeia, não só para banir de vez as práticas duvidosas das redes como para limitar alguns países cujos governos têm objetivamente beneficiado do discurso de ódio, como a Polónia e a Hungria.
Ler mais: O Disinformation Report é um documento para os anais do combate à democracia liberal e foi produzido por um think-tank americano chamado New Knowledge. Funciona como uma autópsia aos grandes processos de desinformação durante as últimas presidenciais americanas conduzidos pela Internet Research Agency, o braço armado digital do Kremlin. O relatório é bastante rigoroso e não deixa margem para dúvidas no alcance e dimensão das manobras de desinformação online a que estão sujeitos os processos eleitorais.