sol.sapo.ptMário Ramires - 23 mar. 10:37

Divergindo, agarrados à média e a ilusões

Divergindo, agarrados à média e a ilusões

‘Portugal cresce acima da média europeia’ - Bem pode António Costa vociferar contra as ‘fake news’. O discurso do Governo e da ‘geringonça’, nesta matéria, nada tem de new e não podia ser mais fake.

António Costa, Mário Centeno e os seus ajudantes no Governo e nas bancadas do lado esquerdo do hemiciclo parlamentar continuam a propagandear que ‘Portugal cresce acima da média europeia’. Uma falácia repetida à exaustão, tal como voltou a ouvir-se no Parlamento, esta semana, no tradicional debate quinzenal.
Bem pode António Costa vociferar contra as ‘fake news’. O discurso do Governo e da ‘geringonça’, nesta matéria, nada tem de new e não podia ser mais fake.

A estratégia de Costa, Centeno, César, Catarina, Jerónimo ou Heloísa também. Ou seja, tal como as ‘fake news’ virais, Costa e seus parceiros repetem quase diariamente a mesma ilusão, a ver se pega.
É claro que eles sabem muito bem que a média europeia de que falam é uma média ponderada, em que o peso da Alemanha é proporcional ao seu desenvolvimento e poder. Logo, estando a economia alemã no estado em que está, de pouco nos adianta crescer acima dessa ‘média europeia’.

É uma falácia.

Basta olhar para os quadros do Eurostat. Há 18 países da União Europeia a crescer mais do que Portugal. Ou seja, só menos de um terço crescem menos. E estivesse a economia nacional como estão as desses países que estão a crescer menos do que nós – tirando a Grécia – e estaríamos bem melhor.

Assim, nós – como a Grécia – estamos apenas e só cada vez mais na cauda da Europa. Ainda que os governantes e seus parceiros de maioria parlamentar não se cansem de alardear que estamos a crescer acima da média europeia.
Na verdade, Portugal cresce menos do que os outros países do seu patamar e muito menos do que os que estavam em patamares inferiores.

Ou seja, utilizando linguagem velocipédica, ainda que os líderes destacados estejam a abrandar o ritmo, a verdade é que estamos cada vez mais na cauda do pelotão. Nós e os gregos.
Sendo que o que é mais dramático – como recentemente sublinhou o Fórum para a Competitividade – é que a produtividade dos portugueses está a baixar e as previsões apontam para que até a Grécia passe a crescer mais do que Portugal.

A arte de Costa, de Centeno, de César e parceiros de ‘geringonça’, uma vez chegados ao fim da legislatura e goradas as expectativas de quem acreditou nas promessas do virar de página da austeridade, é socorrerem-se de indicadores como este do crescimento acima da média europeia. 

Para continuarem a alimentar a ilusão de um milagre que nunca existiu. Sim, se o Diabo não veio, a Virgem também não. E não há segredo nenhum. Beneficiámos de uma conjuntura internacional favorável nos últimos anos, mas nem por isso estamos hoje mais preparados para enfrentar um novo ciclo de recessão ou de crise.

E a verdade é que, apesar da tão propagandeada mas só presumida devolução de rendimentos aos portugueses – porque acompanhada de uma inacreditável subida da carga fiscal, do investimento público zero, das cativações em tudo quanto é despesa (desprezando inclusive as funções essenciais do Estado) –, os portugueses viram o seu poder de compra baixar. Essa é que é a verdade.

Acontece, porém, que um dos fatores de maior peso no cabaz que mede o poder de compra dos consumidores são os transportes.

E repito o que escrevi nesta página há um mês: com o passe único que vai entrar agora em vigor nas grandes áreas metropolitanas, quando os indicadores europeus relativos ao segundo trimestre deste ano (abril/junho) forem divulgados – oportunamente durante o mês de setembro e bem a tempo da campanha eleitoral para as legislativas –, Costa, Centeno, César e parceiros vão poder rejubilar com mais um extraordinário feito: o poder de compra dos portugueses vai estar acima da média europeia.

Se uma medida como a descida do custo dos passes sociais e dos transportes é positiva para a esmagadora maioria da população, concentrada nas duas grandes áreas metropolitanas, que se dane o eleitoralismo.
Mas, se, com essa medida, o que se pretende é manipular os indicadores por forma a reivindicar louros indevidos e continuar a tentar iludir tudo e todos, isso, sim, é eleitoralismo condenável. 

E, infelizmente, é o que temos.

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