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Ciclone Idai, Moçambique e as Alterações Climáticas

Ciclone Idai, Moçambique e as Alterações Climáticas

O ciclone Idai demonstrou-nos, da forma mais crua, a nossa vulnerabilidade perante tais fenómenos climáticos. - Opinião , Sábado.

É com enorme tristeza que escrevo este artigo ainda sem conhecimento da localização de centenas de moçambicanos e de dezenas de portugueses. O ciclone Idai demonstrou-nos, da forma mais crua, a nossa vulnerabilidade perante tais fenómenos climáticos. Com o agudizar das alterações climáticas – fruto da acção humana, maioritariamente provocadas pelos países (e indústrias ou empresas) ditos desenvolvidos – estes eventos tornam-se mais regulares e intensos. Por cá, os municípios já se estão a mobilizar para apoiar este país nosso irmão, sendo que, diplomaticamente, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa já partilhou a nossa solidariedade e apoiou o envio de forças militares para ajudar nos resgates. Da União Europeia vêm uns tímidos 3.5 milhões de euros, do qual faz parte o ainda mais tímido contributo nacional (não me deixa de vir à memória os mais de 14 mil milhões de euros, de todos nós, que já foram enterrados em Portugal para salvar bancos, e não vidas). Paralelamente, a nível global, até agora e compilados os dados, já se estima que a ajuda financeira possa chegar aos 52 milhões de euros (também aqui não deixo de pensar na lista da Forbes que tem no seu topo um senhor que "vale" 162 mil milhões de dólares. Algo de muito errado se passa com este sistema social e económico). 

De ressalvar que segundo os dados do The World Factbook, Moçambique tem uma taxa de desemprego de 24.5% (dados de 2017), 46.1% da sua população vive abaixo do limiar de pobreza (2015) e a sua dívida pública ronda os 102.1% do PIB (2017). Estes dados mostram o quão vulnerável o país está a destabilizações estruturais decorrentes de fenómenos com esta gravidade.

Relacionado, nesta mesma semana, mas do outro lado do oceano, dois líderes mundiais, Jair Bolsonaro e Donald Trump juntaram-se para falar de alianças económicas e militares. Não é de estranhar que estes negacionistas das alterações climáticas nada tenham a acrescentar nesta matéria. Talvez uma visita a Moçambique lhes mostrasse o cataclismo social e os reais efeitos destrutivos de continuarmos a negar os dados científicos em torno do impacto das alterações climáticas no frágil equilíbrio da biodiversidade local, regional e global.

O papel da União Europeia na geopolítica internacional serve também para contrariar estes fenómenos extremados na política internacional. Devemos, como europeus, estar na vanguarda da protecção ambiental e superar o que temos proposto nas metas climáticas de Paris. Haja coragem e vontade política em travar os negacionistas e pôr em prática a tão urgente transição económica, social e cultural para uma sociedade realmente sustentável e responsável.

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