www.vidaeconomica.ptSusana Almeida - 17 jan. 20:05

PSD (Partido Semi Defunto)

PSD (Partido Semi Defunto)

Fui convidado por um amigo, figura proeminente da dita “sociedade civil”, que eu saiba sem filiação partidária, para assistir à reunião do Movimento Europa e Liberdade. Informei-me previamente quer dos temas a ser apresentados e debatidos, quer dos oradores convidados, e informaram-me que a reunião congregaria uma mistura que me pareceu equilibrada de pessoas com claras ligações a partidos do chamado “arco de governação” (PS, PSD e CDS), e membros da chamada “sociedade civil”, um termo que infelizmente é difuso, pouco esclarecedor e, portanto, bastante propício a utilizações pouco transparentes por muitos que clamam organizar eventos em seu nome, e sob a sua bandeira.
Assumindo que o termo sirva para definir os membros da sociedade que se sentem comprometidos com o país, e querem contribuir para o seu desenvolvimento fora das grilhetas impostas pela disciplina partidária, ou seja, que o termo defina todas as pessoas não filiadas partidariamente (a esmagadora maioria das forças vivas do país...), aquilo que a experiência nos ensinou em Portugal é que os líderes partidários ficam a tremer quando alguém tem a veleidade de tratar de debater temas estruturantes e críticos para a sociedade, e organizar eventos para os debater, sem que estes nasçam naturalmente da agenda e do calendário partidários, que por via de regra estão intimamente dependentes dos regulares imperativos eleitorais (e dos interesses que gravitam, como chacais ao redor da carronha, à volta das estruturas partidárias), nem sempre coincidentes (raras vezes mesmo, diria eu) com as concretas necessidades críticas do país.
Por isso mesmo, quando há representação partidária nestes eventos da sociedade civil, os que participam por via de regra não estão no ativo, ou seja, são militantes do partido que nesse momento não estão ativos na AR, ou numa posição governamental, eventuais exceções confirmam a regra. Não me estranhou, pois, ver que entre os nomes daqueles que originalmente se comprometeram a participar no debate não havia ninguém do Governo, ou da AR. Não me chamou particularmente à atenção o facto de o nosso Presidente, logo ele, ter declinado ter qualquer tipo de intervenção nesta reunião, e devia ter sido mais perspicaz.
Aquilo que temos visto uma e outra vez em Portugal é que quase todas as iniciativas (muitas delas profundamente meritórias, outras, como as mais mediáticas “Manifesto dos 40”, em 2002, e “Compromisso Portugal”, em 2003, nem tanto) desta “sociedade civil”, mesmo quando envolvem “altos patrocínios” de políticos proeminentes, ou até da Presidência da República, redundaram em absolutamente nada de concreto ou de bom para o país.
Na véspera da reunião, dei-me ao trabalho de fazer um “zapping” pelos principais canais noticiosos para ver se o tema estava a ser abordado, e o ângulo em que o estava a ser. E fiquei siderado. Uma reunião que se pretendia ser de debate sério sobre os temas estruturantes do país, aqueles que normalmente os partidos não gostam de abordar, muito menos em ano eleitoral, tinha sido tomada de assalto (ou era essa a versão que andava a correr pelos serviços noticiosos) pelos críticos ao atual líder do PSD, que estavam a aproveitar-se do momento para lhe tratar de “fazer a folha”, num processo em tudo similar ao que foi feito a António José Seguro para o afastar da liderança do PS há uns anos atrás.
Como é obvio, não fui. E fiquei a pensar como é possível que um partido com as responsabilidades institucionais do PSD, com a importância que tem, pelo papel que desempenhou em democracia desde 1974, tenha desenvolvido e sofisticado a este ponto as competências de autofagia que tem evidenciado ultimamente, e que poderão levar a que o partido desapareça numa total irrelevância, se os atos eleitorais de 2019 vierem a confirmar o desastre que se adivinha já hoje em termos de resultados para esse partido. O país e a democracia ficariam muito mal servidos se no final deste ano tivéssemos que mandar fazer uma lápide com a inscrição RIP (“Requiescat in pace”) para colocar na S. Caetano à Lapa! Espero que haja bom senso nos próximos meses. E que a roupa suja, que abunda pelos lados do PSD, se lave no recato do lar. Caso contrário, os eleitores tradicionais desse partido tirarão as conclusões devidas.
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