ionline.sapo.ptionline.sapo.pt - 16 jan. 09:22

Há coisas que não mudam e o PSD é uma delas

Há coisas que não mudam e o PSD é uma delas

Tensões e cisões é coisa que sempre houve nos sociais-democratas e não os impediu de renascer várias vezes

Exatamente por ser, desde a sua constituição, um partido interclassista, democrático e atravessado por distintas linhas e ideias políticas, dividindo uma tendência mais social-democrata e outra mais liberal do ponto de vista económico, o PSD tem sempre vivido fraturas e divisões como a que agora opõe Montenegro a Rio.

Não é, portanto, de estranhar que Montenegro tenha decidido atacar o castelo de Rio. O timing, esse, é que ninguém objetivamente esperava. Os indicadores disponíveis não permitem certezas quanto ao êxito da ofensiva. Dão, no entanto, aparente favoritismo à posição de Rio no conselho nacional, para onde decidiu transferir a batalha, marcando o dia, o local e a hora que lhe é mais conveniente, ignorando o repto das eleições diretas, onde porventura teria menos hipóteses. Luís Montenegro já reconheceu que não é aquele órgão o terreno onde queria combater. Na vida política como na militar, as batalhas não acontecem, normalmente, onde dá jeito. Mas os jogos não estão feitos e ninguém pode ter certezas nesta altura.

Se, amanhã no conselho nacional, Rio não tiver uma vitória expressiva, ficará enfraquecido e pode voltar a ser confrontado com um regresso dos seus oposicionistas dentro de pouco tempo, possivelmente logo a seguir às europeias, se estas correrem mal. Uma clarificação pode ser positiva nesta altura, mas nada indica que seja de longa duração. Aliás, na política pode haver estatutos e timings, mas a verdade é que normalmente não há vazios de poder. Surgem quase sempre soluções habilidosas que permitem resolver o problema de uma forma ou de outra. Quem olhar para trás no PSD há de lembrar-se que houve soluções de todo o tipo e o partido conseguiu sempre reerguer-se, mesmo depois de passar um mau bocado. Por exemplo, o PSD já foi governado por uma troika. Noutra ocasião (quando da sucessão de Barroso) houve uma transição fulminante e duvidosa para Santana, tendo-se até admitido a hipótese de o novo líder não ser chefe do governo. Há, portanto, muitos cenários para crises graves que viabilizam soluções, por mais esdrúxulas que pareçam. Há, porém, algo que nunca muda: o poder implica luta política e assumir divergências na perspetiva de ocupar espaços e cadeiras, mobilizando apoios e contando espingardas. Sem tropas, ninguém chega ao topo, seja no maior partido, como o PSD, ou em grupúsculos daqueles que só aparecem nas eleições. Amanhã se verá para que lado pende a balança.

No meio do ruído da luta social-democrata é importante lembrar que o PSD não está propriamente fragilizado por causa da chegada de Rio. O partido começou a perder ainda com Passos e antes da saída de Santana Lopes. As sondagens podem não ser famosas atualmente, mas a verdade é que o legado de Passos Coelho não era maior do que aquele que existe agora. Na coligação PàF, que juntou CDS e PSD, não se sabe quantos votos eram de um e de outro. E, nas autárquicas que se seguiram, o desastre protagonizado pelo PSD em Lisboa e no Porto foi de tal maneira gigantesco que não se pode achar que hoje está pior do que ontem, porque pior do que aquilo era impossível, sobretudo nos grandes círculos urbanos, que são os mais decisivos. E foi, aliás, por causa desse desastre que Passos se demitiu, facto que hoje ninguém recorda. Outra coisa é saber e discutir se Rio tinha a obrigação de ter conseguido criar uma dinâmica diferente e otimista.

No meio disto, há outros protagonistas políticos a quem a situação do PSD não pode ser indiferente. Desde logo, o Presidente Marcelo, a quem não interessa ser transformado em rainha de Inglaterra, como seria inevitavelmente o caso depois de uma vitória do Partido Socialista com maioria absoluta. Uma geringonça ainda lhe permite uma intervenção regular. Mas uma maioria monocolor seria um desastre para quem gosta de intervir. Por isso mesmo e pelas suas funções institucionais, ninguém deve estranhar que Marcelo ouça os protagonistas do confronto social-democrata, visto que se trata do maior partido nacional e de um eixo estruturante da nossa vida democrática.

Aparentemente, quem mais tem a lucrar é António Costa. Assiste de poleiro às convulsões sociais-democratas, numa altura em que já está numa campanha eleitoral frenética, prometendo obras e mais obras, embora já se saiba que a seguir vai mandar para a Europa o ministro que se prestou a dar a cara por tanta patranha. Costa é um político habilidoso e cheio de sorte, mas agora pode ter-lhe tocado a taluda. Pelo menos assim parece, embora haja a considerar que a política é um jogo sem regras e sem vencedores virtuais no qual num instante tudo muda.

Jornalista

NewsItem [
pubDate=2019-01-16 10:22:44.0
, url=http://ionline.sapo.pt/642397?source=social
, host=ionline.sapo.pt
, wordCount=757
, contentCount=1
, socialActionCount=2
, slug=2019_01_16_980417413_ha-coisas-que-nao-mudam-e-o-psd-e-uma-delas
, topics=[psd, rui rio, montenegro]
, sections=[]
, score=0.000000]