ionline.sapo.ptJoão Lemos Esteves - 15 jan. 09:11

Resgatar o PPD/PSD: Luís Montenegro falou e as águas do Rio agitaram-se

Resgatar o PPD/PSD: Luís Montenegro falou e as águas do Rio agitaram-se

Será que Luís Montenegro foi prudente e inteligente na forma como desafiou Rui Rio? Sinceramente? A resposta à questão ora formulada é, para nós, absolutamente irrelevante

1. Num país anestesiado de ideias e de mobilização cívica como é este Portugal geringonçado, resta ao país político entreter-se com as movimentações internas dos partidos, com os ultimatos, as contagens de espingardas, as diretas ou indiretas… enfim, mais do mesmo. Infelizmente, os partidos políticos, nos últimos longos anos, têm-se dedicado demais à discussão de lugares e lugarezinhos e de menos à apresentação de propostas para o futuro de todos nós. Em rigor, o PPD/PSD é o que mais diverte os analistas políticos que pululam nas nossas televisões (embora sempre os mesmos e cuidadosamente escolhidos pelo sistema), discorrendo sobre as motivações da intriga política e seus protagonistas.

2. Diz-se agora que Luís Montenegro é contraditório e incoerente porque não desafiou Rui Rio mais cedo. Ah, não nos digam que a elite política e os jornalistas que a servem se indignaram com a falta de coerência dos políticos! Insistimos: é impressionante como a comunicação social é muito exigente com a coerência de Luís Montenegro, mas é tão suavezinha mas tão suavezinha com as trocas e baldrocas do Costa! Com uma diferença: é que a incoerência de Luís Montenegro, no limite, afeta o próprio e o PPD/PSD; já a falta de palavra e de caráter de António Costa afeta a vida de todos os portugueses. As mentiras e a sede de poder de António Costa são uma ameaça à nossa democracia; porém, a coragem e o sentido patriótico da nossa comunicação social (salvo honrosas exceções) terminam onde começam os interesses de António Costa, que é - nunca se esqueçam desta verdade elementar, porque é a nossa pátria que está em jogo - a pessoa mais desonesta que alguma vez chegou a um cargo de poder em Portugal. 

3. Dito isto, será que Luís Montenegro foi prudente e inteligente na forma como desafiou Rui Rio? Sinceramente? A resposta à questão ora formulada é, para nós, absolutamente irrelevante. Não nos interessam as motivações subjetivas e particulares de Luís Montenegro no desafio que lançou ao líder social-democrata. Atentemos antes nos factos tangíveis que temos ao nosso alcance - e que aí estão para qualquer observador guiado pela razão (e não pelas paixões em relação aos protagonistas políticos aqui envolvidos) constatar. Primeiro, ficou clarinho como água que Rui Rio tem uma agenda para matar de vez o PPD/PSD, apagar uma parte importantíssima da história do nosso partido e reescrever a História à medida das suas conveniências presentes. Das declarações de Manuela Ferreira Leite, passando pela equipa escolhida por Rui Rio até à reação da atual direção nacional do partido ao repto lançado por Montenegro, o objetivo é claro: forçar a saída de uma ala do PSD que não esquece que a essência do partido reside na força popular. Rui Rio quer, enfim, matar o PPD para criar um novo PSD - um satélite do PS que vai dividindo o poder com os socialistas. 

4. A estratégia de Rui Rio (se é que podemos falar de uma estratégia…) passa por falar pouco, propor ainda menos, expondo umas ideias vagas sobre “verdade”, “ética na política” e “necessidade de acordos de regime”. Isto é, para Rui Rio, o papel do PSD no sistema partidário nacional: o de mero auxiliar do PS na construção de consensos - ou seja, de um partido subalterno aos socialistas… Esta visão poucochinha (lá está, é a alma gémea de António Costa…) do PPD/PSD é um ataque à memória do partido, uma afronta aos seus militantes e uma diminuição das possibilidades democráticas do povo português. Na verdade, se dúvidas persistissem, elas foram totalmente dissipadas no sábado - pela primeira vez, Rui Rio foi capaz de adotar um discurso politicamente assertivo, com garra… quase parecia um verdadeiro líder da oposição! 

5. Pela primeira vez, Rui Rio mostrou que tem virtudes políticas, que tem força para responder a qualquer agrura política que lhe surja pelo caminho - pena é que só o revele contra companheiros de partido. Rui Rio é, pois, fraco com os nossos adversários e com os inimigos de Portugal, onde se inclui o homem de caráter zero, António Costa, mas forte com os militantes do partido que lidera. É fraco fora da sua casa; mas cheio (ou cheiinho…) de força cá dentro de casa. A pergunta que deve ser formulada, sem medo nem hesitações, é esta: pode o PPD/PSD ter um líder que sente mais afinidades com António Costa e com os socialistas do que com 85% da sua base eleitoral e dos seus militantes? Eis a reflexão que se impõe. Não se perca, no entanto, de vista que de nada valerá prolongar discussões estéreis - conquanto sempre muito acaloradas - sobre a ideologia do PPD/PSD. A discussão que importa hoje é outra: é a de preparar um roteiro de ação política que responda aos anseios dos portugueses. Que país queremos. E como faremos para devolver o exercício do poder político ao seu verdadeiro titular: o povo.

6. Lançamos, destarte, um apelo quer a Rui Rio quer a Luís Montenegro: assumam, de uma vez por todas, o que gostariam de fazer uma vez conquistado o poder. Rui Rio, pelo que já deu a entender, quer manter o sistema socialista com retoques pontuais; Luís Montenegro quer fazer qualquer coisa, ainda não se percebeu o quê. Meus caros, tenham a coragem de deixar de pensar apenas nos lugarezinhos. Tenham a ousadia de dizer, com frontalidade, qual é a vossa visão para o futuro de Portugal. Em vez de conselho nacional, desafiamos-vos para um debate nacional. Têm coragem para aceitar? É tempo de resgatar o PPD. Uma realidade é indiscutível: não mudaremos para ficar tudo, no essencial, na mesma; nem deixaremos tudo na mesma sob a promessa de uma mudança poucochinha e à poucochinho…

joaolemosesteves@gmail.com 

Escreve à terça-feira

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