expresso.ptexpresso.pt - 15 jan. 22:49

Um raptor obstinado e meticuloso. Jayme foi ‘escolhida’ quando subia para o autocarro escolar

Um raptor obstinado e meticuloso. Jayme foi ‘escolhida’ quando subia para o autocarro escolar

A acusação contra Jake Thomas Patterson, que assassinou os pais da jovem de 13 anos que decidiu raptar em Barron, no Wisconsin, detalha como o plano para a sequestrar foi pensado e executado ao detalhe. A fuga da jovem, três meses depois do cativeiro a que foi submetida, permitiu encontrar o culpado. Um jovem “pacato e bom estudante”, de quem nunca ninguém tinha suspeitado

Jake Thomas Patterson estava a caminho do emprego, numa queijaria em Wisconsin, quando viu Jayme Closs entrar no autocarro escolar. Teve de parar momentaneamente o carro atrás do veículo e reparou então na jovem de 13 anos. Foi quanto bastou para decidir que a havia de raptar, contou à polícia, e relatam esta terça-feira os jornais, com base na informação inscrita na acusação formal contra o homem de quem, até agora, ninguém suspeitara.

A coragem da menina, que escapou ao raptor três meses depois de os pais terem sido por ele assassinados, e fugindo da cabana onde foi mantida em cativeiro - apareceu no final da semana passada - permitiu revelar em detalhe um plano macabro, cuidadosamente engendrado e executado com impressionante sangue frio.

Depois de ter sido detido, Patterson garantiu que não sabia quem era Jayme nem com quantas pessoas ela vivia. Nada importava também. Decidido a executar o sequestro, tentou de facto fazê-lo por duas vezes, antes do fatídico dia 15 de outubro. Numa primeira tentativa (cerca de uma semana antes), conduziu até à casa de família dos Closs, em Barron, mas acabou por afastar-se por ver muitos carros estacionados à porta. Voltou um ou dois dias depois, mas o facto de lhe parecer estarem muitas pessoas em casa fê-lo desistir novamente. Não sem aproveitar a viagem para roubar umas quantas matrículas falsas, precaução incluída nos seus planos, para se assegurar que o carro que conduzia não era identificado por nenhuma eventual testemunha.

À terceira foi de vez, recorda o jornal espanhol “El País”. Patterson estacionou o Ford Taurus numa estrada secundária, trocou as placas de matrícula e preparou-se para avançar. Pegou na espingarda calibre 12 que pousara num dos bancos do carro, certificou-se que a luz interior não poderia acender ao abrir a porta e retirou também a luz da bagageira - era importante.

Pronto para matar “todos” os que estivessem em casa

Rigorosamente nada foi deixado ao acaso. A arma foi escolhida por ter investigado e percebido que era uma das mais comuns, logo das mais difíceis de ser rastreada, e as munições com que a carregou foram selecionadas por estar convencido de que eram as mais eficazes para matar.

Segundo a acusação - onde não consta qualquer referência a abusos sexuais -, o assassino usou luvas e rapou o cabelo, barbeando-se também, para não correr o risco de deixar rasto de ADN. Vestiu-se a preceito: botas de cabedal com biqueiras de aço, blusão e passa-montanhas [máscara] negros. Pronto para matar “todos” os que estivessem no interior da casa, voltou a ligar o carro e circulou até próximo da entrada dos Closs. Estacionou, acendeu uma pequena lanterna para ver melhor o caminho e ordenou ao homem que viu pela janela que se atirasse ao chão.

A avaliar pela descrição no processo, Jake Patterson não omitiu à polícia qualquer detalhe. Explicou em pormenor como o pai de Jayme lhe pediu que mostrasse a identificação, convencido que ele era um agente, e como o matou logo nessa altura, tentando depois, sem sucesso, arrombar a porta de casa usando um dos ombros. Acabou por disparar contra a fechadura.

Já no interior da habitação e apercebendo-se que existia uma porta fechada, circulou para ver se encontrava mais alguém e voltou àquela divisão, decidido a encontrar Jayme. A jovem estava de facto escondida com a mãe na pequena casa de banho, dentro da banheira. Patterson pediu a Denise que colasse a fita que lhe estendeu na boca da filha. Acabou por fazê-lo ele próprio, prendendo-lhe também os pulsos e os tornozelos, ao perceber que a mulher não lhe conseguia obedecer. Matou Denise apontando-lhe à cabeça, não sem antes ela ter conseguido ligar para a polícia. Foi Patterson quem a obrigou a desligar a chamada.

À jovem Jayme, levou-a arrastada por um braço, fechando-a na bagageira e seguindo viagem. Não tinha passado um minuto quando parou para dar passagem a três carros da polícia, que circulavam com as luzes de emergência ligadas, a caminho da casa onde o raptor deixara os dois cadáveres. Se o tivessem mandado parar?, perguntou a polícia. “A arma continuava carregada”, respondeu Patterson.

Forçada a esconder-se debaixo de uma cama

Sabe-se menos sobre os três meses que o raptor manteve a jovem encerrada, embora a própria rapariga tenha já adiantado alguns pormenores. Sabe-se que, ali chegados, Patterson ordenou-lhe que vestisse um pijama (de uma irmã dele) e queimou a roupa que ela despiu. A dele também.

Quando se ausentava da cabana ou recebia visitas, nomeadamente a do pai, todos os sábados, a jovem era obrigada a ficar escondida debaixo de uma cama e ligava o rádio, para evitar que se ouvisse qualquer barulho. Jayme estava avisada sobre as coisas más que lhe podiam acontecer se tentasse alertar para a sua presença.

Foi de debaixo dessa cama que conseguiu fugir num dos dias em que o raptor se ausentou. O resto é a parte mais conhecida da história. Pediu ajuda a uma mulher que passeava com um cão, foi reconhecida, voltou para casa de uma tia.

Quanto a Patterson, ainda a procurou, mas acabou detido pela polícia, que seguiu as indicações dadas por Jayme e o identificou. Não ofereceu qualquer resistência. De acordo com um dos agentes envolvidos na detenção, saiu do carro, disse saber porque era procurado e confessou. “Fui eu”, afirmou.

Está agora confinado a uma cela - a fiança foi fixada nos 5 milhões de dólares - e aguarda pelo julgamento, que deverá começar no dia 6 de fevereiro. O jovem de 21 anos, que foi descrito como alguém tido por pacato e bom estudante, não mostrou qualquer emoção na curta passagem pelo tribunal, quando foi presente ao juiz. Respondeu apenas sim ou não, descrevem as notícias. Chegou a bocejar.

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