www.dinheirovivo.ptJoão Paulo Matos - 18 nov. 11:57

Como lidará o Sistema Financeiro Português com mais uma revolução?

Como lidará o Sistema Financeiro Português com mais uma revolução?

A expressão "Revolução Digital" foi utilizada quando o Presidente de Portugal encerrou o Web Summit 2018.

Quem compareceu entendeu claramente o alcance dessa expressão. Não terão ficado muitas dúvidas depois de se falar de: realidade mista (“mixed reality”); veículos que aprendem a conduzir; marketing trabalhando segundo metodologia ágil; desintermediação do sector da música; cripto-moedas globais; tecnologia (“Tech sector”) como campo de batalha; Inteligência artificial na vigilância de massas; personagens artificiais conversando com pessoas; um “bilionário” de 26 anos (USD 1000 milhões); etc.

O Barão Rothschild terá em tempos dito que “o momento de comprar é quando há sangue nas ruas”), mas o moderno sector financeiro altamente regulado não gosta de revoluções (mudanças rápidas, imprevistas e profundas). A crise de 2008 – fruto de condições de mercado e da inovação (v.g. CDOs) – demonstrou quão profundas e duradouras podem ser as consequências (Lehman Brothers destruído; colapso do mercado imobiliário nos EUA; economia mundial impactada). No entanto também provou que o ecossistema financeiro não sucumbiu (graças ao apoio de bancos centrais e governos). Em Portugal, a revolução / nacionalização de 1974/75 também ilustrou a resiliência do sector financeiro.

Nem todas as mudanças profundas são globalmente negativas. A evolução da compensação bancária desde a liquidação física até aos pagamentos instantâneos trouxe benefícios em certa medida revolucionários. Portugal também protagonizou revoluções benéficas: o lançamento do multibanco antecedeu e ultrapassou desenvolvimentos em muitos países europeus (lembro-me de executivos da City ficarem na altura impressionados com as funcionalidades disponíveis).

A Revolução Digital dará sem dúvida origem a mudanças generalizadas no sector financeiro, ocasionalmente com algum atraso em Portugal (e.g. PSD2). Os players nacionais adoptarão possivelmente uma abordagem de fast followers (ou talvez não tão rápidos) para incorporar tais mudanças na experiência do cliente e na excelência operacional (e correspondentes tecnologias) – e não tanto uma abordagem de digital leaders com ampla projecção internacional.

Haverá certamente impactos profundos, com potencial para revolucionar (disrupt) os modelos empresariais / organizacionais existentes. Alguns exemplos: i) em Londres, os pagamentos são em geral electrónicos (nomeadamente contactless para pequenos montantes) e por vezes nem sequer é aceite numerário; até que ponto a economia Portuguesa ficará cashless e quais as consequências da entrada de novos actores? ii) com que rapidez serão adoptados em Portugal veículos autónomos ou mobilidade pay per use e quais os impactos no ramo do seguro automóvel (menos acidentes, novos clientes com maior poder de negociação, menores prémios)? iii) quão profunda será a reestruturação necessária para que organização / pessoal dos incumbentes adoptem, de forma transversal, mais automação e metodologias de trabalho ágil?

A Revolução Digital em Portugal é um grande desafio / oportunidade para instituições financeiras individualmente, ecossistema financeiro e economia. Requer-se assim o envolvimento proactivo dos actores relevantes – as ditas instituições, reguladores, governo, municípios, vários sectores (e.g. associações de comerciantes) e sociedade (associações de consumidores, escolas…). É preciso discutir as principais orientações, mas também adoptar soluções práticas de forma expedita. O apelo do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a uma plataforma digital permanente em Portugal indica o caminho.

João Paulo Matos, AFIP Insurtech Workgroup

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