www.dinheirovivo.ptAntónio Saraiva - 18 nov. 09:16

O mérito das empresas e o papel das políticas públicas

O mérito das empresas e o papel das políticas públicas

O valor e o mérito das empresas têm-se refletido na recuperação da economia portuguesa, ao longo dos últimos quatro ou cinco anos.

Impulsionada primeiro pelas exportações e depois também pelo investimento empresarial, esta recuperação tem sido fortemente geradora de emprego, o que possibilitou a queda da taxa de desemprego para níveis que não observávamos há 14 anos.

Algumas vozes têm sugerido que se trata de uma recuperação baseada na criação de empregos com baixos níveis de qualificação, precários e mal remunerados.

Esta crítica, onde transparece a intenção de desvalorizar o mérito das empresas, é cada vez mais claramente baseada no preconceito e desmentida pelos números.

Em quatro anos (desde o terceiro trimestre de 2014), a população empregada com menos que o ensino secundário completo reduziu-se em 104 mil pessoas, enquanto que o número de empregados com este nível de escolaridade aumentou em 240 mil e com o ensino superior em 202 mil.

O peso dos contratos sem termo no total de trabalhadores por conta de outrem é hoje praticamente o mesmo que se registava há quatro anos (77,9% contra 77,8%) e, nos últimos 12 meses, o número de contratos com termo reduziu-se em 2,3 mil, enquanto que o número de contratos sem termo aumentou em 82,6 mil.

No primeiro semestre de 2018, os salários base dos novos contratos tiveram um crescimento homólogo de 3,9%. Nos últimos doze meses com dados disponíveis, os quase dois milhões de trabalhadores que se mantiveram no mesmo posto de trabalho tiveram um aumento salarial de 3,8%, enquanto os mais de 230 mil que mudaram de emprego viram os seus salários aumentar 8,6%. O dinamismo de um mercado de trabalho mais flexível está assim a beneficiar a progressão salarial.

Significa isto que tudo está bem, dispensando-se qualquer alteração no rumo que tem sido dado à política económica?

Não o creio. Em primeiro lugar, porque estou certo de que a evolução da economia teria sido melhor e mais promissora se o Governo tivesse cumprido plenamente o seu papel de promotor e desbloqueador dos constrangimentos que as empresas continuam a enfrentar.

Em segundo lugar, porque os sinais de abrandamento da atividade económica, de enfraquecimento do dinamismo do mercado do trabalho e de degradação da envolvente externa estão já bem presentes nos resultados económicos mais recentes.

Esta semana, a estimativa do INE para o PIB no terceiro trimestre veio reforçar esta perceção. Os últimos resultados do inquérito ao emprego tinham já revelado um abrandamento do ritmo de criação líquida de emprego, pelo terceiro trimestre consecutivo.

Sem o impulso necessário, do lado das políticas públicas, para contrariar estes sinais e tornar a economia mais resiliente aos riscos externos que se avolumam cada dia que passa, teremos razões para responsabilizar o Governo pelas consequências da sua inação e das suas escolhas.

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