eco.pteco.pt - 18 nov. 18:37

Empresa israelita pode mudar a forma como vemos a canábis

Empresa israelita pode mudar a forma como vemos a canábis

Startup israelita está a trabalhar no desenvolvimento de um tratamento para a endometriose com base na planta da canábis.
Canábis é objeto de estudo do checoslovaco Hanuš Lumír deste os anos 60. Pixabay 1966, Checoslováquia

A planta é objeto de estudo de Hanuš Lumír desde os anos 60. Na altura, o recém-nomeado assistente do professor Zdeněk Krejčí, na antiga Checoslováquia, começou a estudar a canábis por considerar que pouco se sabia sobre a planta. “Nessa altura, toda a gente sabia que esta era uma planta medicinal”, conta o professor, em conversa com os jornalistas, em Israel. Com o tempo, as coisas mudaram e Lumir também. Há 30 anos passou a viver em Israel.

“Temos componentes em muitos lugares do corpo, por isso a planta é tão efetiva no tratamento de tantos sintomas”, explica o cientista. “Cada doente precisa de uma propriedade diferente da canábis”, esclarece.

2018, Jerusalém

Em Israel, há três anos, Yotam Hod, Dor Hershkovitz e Omer Farkash decidiram juntar-se para criar uma startup com base na curiosidade que tinham em relação ao potencial medicinal da canábis. Com background puramente em negócios e, depois de, como todos os israelitas, terem passado pelo Exército, os empreendedores começaram a pensar na melhor maneira de acrescentarem valor num negócio que já era de ponta em Israel relativamente ao resto do mundo. Encontraram o parceiro ideal em Israel — ainda que com sangue checoslovaco — e, por isso, sem terem de sair do país. O nome? Adivinhou. Hanuš Lumír, o mesmo que, nos anos 60, começou a querer saber mais sobre a planta.

Feito o match, foi hora de passar à ação. E, logo nos primeiros tempos, os fundadores perceberam que não havia, em Israel, laboratório à altura das necessidades da empresa. Por isso, decidiram investir num laboratório.

“Tentámos perceber como é que a canábis podia fazer a diferença, dividindo os seus constituintes em dois grupos fundamentais: o THC, o psicoativo, e o CBD, o anti-inflamatório”, detalha Yotam Hod, cofundador e CEO da empresa. Mas, se estes eram os básicos no processo, depressa perceberam que os mais importantes constituintes eram os que estão presentes em menor quantidade.

Há dois anos e meio, criaram a Lumir Lab, uma empresa com nome do professor. E, imediatamente depois, fechavam uma ronda seed de financiamento de 2,3 milhões de dólares, de investidores norte-americanos e israelitas, que possibilitou à empresa investir num laboratório próprio. “O valor serviu também, além de montar o laboratório, para garantir a operação este ano. Vamos anunciar brevemente uma nova ronda de financiamento sobretudo devido às necessidades urgentes de escalar as nossas capacidades, sobretudo devido à procura global dos nossos serviços de Investigação e Desenvolvimento”, esclarece o CEO da Lumir Lab.

E se a indústria, garantem os fundadores, é a que regista o maior crescimento de sempre nos Estados Unidos, na altura de encontrar o foco para um problema particular, o processo foi mais demorado. “Há muito hype nas empresas a trabalhar com canábis. Mas Israel tem a vantagem de permitir fazer testes em pessoas nestas áreas”, admite o cofundador e CEO da Lumir Labs. “Vemos que muitos dos produtos que existem no mercado não são ainda produzidos com base em investigação científica”, alerta Yotam.

Lumir Lab foi buscar o nome ao professor Lumir, à esquerda. À direita, o CEO, Yotam Hod. D.R.

A primeira solução em desenvolvimento pela empresa é um tratamento para a endometriose, uma doença que afeta mulheres. A Lumir Labs está a usar, para esse efeito, canabinoides extraídos da planta estudada pelo professor Lumir há mais de 40 anos. “As mulheres com endometriose têm sensores que são canabinóide-eficientes.”

"A razão pela qual os médicos não indicam tratamentos com base nesta planta é porque ainda há dados insuficientes sobre o assunto.”

Hanuš Lumír

Cientista-chefe da Lumir Labs

“Estamos neste momento a construir uma base de dados dos componentes para atribuir uso a cada um deles”, detalha o professor, revelando que entre os mais de 1300 constituintes da canábis identificados até agora, 144 são canabinoides.

“A razão pela qual os médicos não indicam tratamentos com base nesta planta é porque ainda há dados insuficientes sobre o assunto”, analisa. Depois dos testes, que ainda decorrem, a ideia é lançar o produto nos mercados emergentes da América do Norte, sobretudo no Canadá, o que deverá acontecer nos próximos dois anos. “Assim como em mercados da União Europeia abertos à canábis medicinal que considerem interessantes os nossos produtos clinicamente testados”, explica Yotam Hod ao ECO.

Atualmente, a Lumir Labs tem cinco pessoas a trabalhar em tempo inteiro (incluindo dois cientistas no laboratório) e outros cinco em regime de part-time. Além destes, conta ainda com vários consultores, tanto nas áreas financeira e de negócio como médico-científicos. Uma destas consultoras é Esther Barak-Landes, referência entre os empreendedores e os investidores de Israel.

A jornalista viajou a Israel a convite do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel.

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