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Maradona e os Queen só podiam conhecer-se num estádio

Maradona e os Queen só podiam conhecer-se num estádio

Em 1981, em digressão pela Argentina, os britânicos partilharam o palco com um então jovem Maradona, que já era um ídolo

“We Are the Champions” será, provavelmente, a música mais ouvida de sempre em estádios de futebol – por motivos óbvios. Diego Maradona tê-la-á ouvido várias vezes, à conta dos troféus que conquistou pelo Boca Juniors, Barcelona e Nápoles, e também pela selecção argentina. A primeira vez que “El Pibe” celebrou um triunfo ao som do hino dos Queen pode ter sido em 1979, quando conquistou o título mundial sub-20, em Tóquio. Menos de dois anos depois, subia ao palco com Freddie Mercury em Buenos Aires.

Um não tem grande voz para cantar, e ao outro não era conhecido um interesse particular por futebol. Mas os dois partilharam o palco numa noite de euforia em Buenos Aires, há 37 anos, que incluiu troca de camisolas. Eram duas estrelas a viver momentos cintilantes das respectivas carreiras: Maradona, com 20 anos, tinha feito a estreia pelo Boca Juniors duas semanas antes; Mercury, aos 34, já tinha escrito êxitos como “Bohemian Rhapsody”, “We Are the Champions”, ou “Bicycle Race”.

Na noite de 8 de Março de 1981, os Queen faziam o grande encerramento da digressão pela Argentina com um derradeiro concerto no estádio do Vélez Sarsfield. Mais de uma hora e meia de espectáculo que teve um bónus inesperado: Maradona foi chamado ao palco, para delírio dos mais de 65 mil espectadores. “Gostaria de apresentar-vos um amigo vosso, que também é nosso. Tenho a certeza que já o conhecem. Maradona!”, introduziu Freddie Mercury, que estava a actuar com a camisola da selecção argentina vestida. O jovem prodígio subiu ao palco para uma rápida saudação. “Quero agradecer ao Freddie e aos Queen por me fazerem tão feliz. E agora, ‘Otro Muerde el Polvo’ [‘Another One Bites the Dust’].”

O concerto estava na recta final, dois temas depois os Queen tocariam o incontornável “We Are the Champions”, e a festa terminaria pouco depois. Na confraternização que se seguiu, Maradona posou para as fotos com os Queen, lado a lado com Freddie Mercury, envergando uma camisola com a bandeira britânica, uma gravata vermelha de Mercury ao pescoço, e segurando as baquetas de Roger Taylor.

A visita dos Queen foi uma lufada de ar fresco numa Argentina que vivia isolada internacionalmente, sob uma ditadura militar. O ambiente era tenso, como se percebia na crónica que a Rolling Stone publicaria semanas depois. “Regresso à noite ao estádio do Vélez Sarsfield para o concerto, e o recinto está apinhado de jovens – e polícias. São tipos duros, mal-encarados e corpulentos, ao contrário dos rapazes que tinha visto no aeroporto. E não demora muito até mostrarem que não estão para brincadeiras. Quando um jornalista americano tira uma fotografia do grupo de agentes armados de bastão que faz um cordão na zona dos bastidores, é empurrado e ameaçado até que entregue o rolo”, escreveu o enviado da revista americana.

A imagem de Maradona vestido com a bandeira britânica, ou Mercury com a camisola da Argentina, ia tornar-se impensável pouco tempo depois, quando a hostilidade entre os dois países extravasou. Em 1982, o Reino Unido e a Argentina entraram em guerra pelo controlo das ilhas Falkland (Malvinas, para os argentinos). Foram mortas mais de 900 pessoas no conflito pela soberania no arquipélago situado no sul do Oceano Atlântico, a 75 minutos de avião da ponta sul da Argentina e a 12.700 quilómetros de Londres.

Ainda no que diz respeito à música, 1981 não seria apenas o ano em que Maradona conheceu Freddie Mercury e os Queen. Mais tarde também passaria pela Argentina o britânico Eddy Grant, que também vestiu uma camisola da “albiceleste” e convidou o ícone futebolístico a subir ao palco. Segundo reza a história, Maradona terá convidado o músico para um almoço em sua casa. Quando lá chegou, Eddy Grant deparou-se com um enorme churrasco – o problema foi o estrito vegetarianismo da voz de “Electric Avenue” e “Gimme Hope Jo’anna”. E a mãe de Maradona teve de correr a ir comprar algo para oferecer ao convidado.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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