www.sabado.ptleitores@sabado.cofina.pt (Sábado) - 16 nov. 09:00

O tempo de rir

O tempo de rir

Chegamos a horas de perceber que é possível fazer um musical revisteiro e assim estragar dois géneros no mesmo acto - Opinião , Sábado.

A festa que fizemos quando ganhámos o concurso e os bilhetes foi desproporcionada - como emojis de mãos ao alto, percebemos o exagero, mas não quisemos saber. Graças a uma rádio local (e à vontade que cremos ser universal de fazer da vida farra), naquela sexta-feira iríamos ao teatro. Público fácil, entusiasmámo-nos por podermos conjugar o verbo ir. O resto logo se veria.

Chegada a sexta-feira, foi como se tivesse chegado o dia de uma visita de estudo. Para honrar essa memória, focámo-nos mais no que íamos comer a caminho de lá (quem nunca, de mochila às costas, vibrou mais com os pacotes de Tang do farnel do que com os Jerónimos) que naquilo que íamos ver.

Penitencio-me: se demorei a fixar o nome da peça (e até o género: seria um musical, uma revista? Seria um desastre - adivinharam?), o do restaurante foi como se tivesse nascido comigo. Só que no trânsito, não encontrando a compaixão de outros automobilistas pelo dramatismo da minha situação, temi que o jantar nos atrasasse.

Estava quase a dizer que ficava bem com uma sopa quando ouvi a frase "os bifinhos recheados com queijo e presunto de Chaves são o ex-líbris da casa". Feito daquela forma que soa a sedução barata e ameaça séria ao mesmo tempo, aquele anúncio de barbárie gourmet convenceu-me mais rapidamente que um livro do Ruy Castro: o mundo não seria justo se a noite não desse para tudo, presunto de Chaves incluído.

Deu, claro que deu. Chegámos a horas - de perceber que é possível fazer um musical revisteiro e estragar dois géneros no mesmo acto e de perceber que, às vezes, o riso fere mais que pedra, papel e tesoura juntos. Do balcão ouvimos piadas sobre mulheres, homens e mulheres debaixo de homens. Foi de lá que ouvimos a histeria do público (o que me fez pensar se as pessoas que riem nervosas quando se fala de sexo no teatro não são as mesmas que vêem telenovelas há 40 anos). Foi dali que cedemos, até: um dos actores tinha o tempo de comédia certo. Não nos restou outra coisa: percebendo o tempo que aquilo tudo nos fazia perder, saímos ao intervalo.

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